A sustentabilidade financeira como pré-requisito para o ESG
Por Carlos Gouveia, CEO da Scoring
O ESG entrou definitivamente na agenda das empresas, incluindo as PMEs. Neste artigo vou contar a minha experiência de várias conferências que assisti no último ano sobre esta temática, incluindo a organizada pela Green Savers, onde a Scoring foi patrocinadora, e onde farei o enquadramento da sustentabilidade financeira neste contexto.
Antes de mais, o que significa a sigla ESG?
ESG, deriva da sigla em inglês “Environment, Social and Governance”, que traduzido para a nossa língua será, Ambiente, Social e de Governança. No fundo, é uma metodologia (framework) que permite às empresas definirem a sua estratégia e as práticas de gestão, tendo em vista conduzir a empresa para a sua sustentabilidade a longo prazo, contribuindo igualmente para a sustentabilidade do planeta (ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, promovido pela ONU). Como se vê, assenta em 3 pilares: ambiente (redução da pegada ecológica e a preservação do ambiente); social/pessoas (políticas de equidade, não discriminação, segurança e saúde no trabalho, trabalho digno, etc.) e governação da organização (transparência da gestão, combate à corrupção, entre outros”).
Quais os aspetos fundamentais que retive das diferentes conferências onde participei?
Licença Social: as empresas que adotarem práticas de sustentabilidade preconizadas pela metodologia ESG, terão acesso a uma “licença social” para atuarem no mercado. Isto é, dada a grande consciencialização das pessoas para estas questões e o aumento do poder dos consumidores, quem não estiver neste patamar, será progressivamente rejeitado no mercado. Abordagem de médio-longo prazos: já certamente constataram que, quando se fala em objetivos e metas nesta matéria, é sempre para 2030, 2050, etc. A perspetiva é sempre de muito longo prazo. Mas é preciso começar já, cada empresa ao seu ritmo, com o seu programa próprio, bem enraizado na estratégia e na prática do dia-a-dia.
Metodologia chave-na-mão: infelizmente, ainda não há uma metodologia chave-na-mão, nem para a implementação, nem sequer para a avaliação. A principal regulamentação europeia com impacto nas empresas será o Regulamento da Taxonomia (2022), mas falta ainda muita legislação e enquadramento. Os próprios bancos, que terão de passar a avaliar as empresas com base no seu ESG, ainda estão a desenvolver os seus sistemas de avaliação.
A questão que todos procuram resposta: o ESG tem impacto na performance das empresas?
Esta tem sido uma das questões mais em destaque, sobretudo quando se fala para uma plateia de empresários e gestores. Estudos têm procurado estabelecer esta correlação: mais investimento e preocupação ESG leva a maior performance das empresas que o fazem. A resposta objetiva tem sido infelizmente inconclusiva. Há alguns aspetos em que é financeiramente benéfica, como por exemplo a melhoria das taxas de juro em financiamento bancário ou através das denominadas Obrigações Verdes (Green Bonds), mas diretamente com impacto no EBITDA, essa correlação ainda não provou o seu impacto positivo.
Contudo, e era aqui que queria chegar, o contrário está claramente verificado pelos estudos: as empresas com maior sustentabilidade financeira são as que mais investem e adotam práticas e objetivos preconizados pelo ESG. Empresas com melhor sustentabilidade financeira, estão mais preparadas para o futuro e para satisfazer as expetativas dos seus vários públicos (colaboradores, clientes, fornecedores, etc). E, como reflexo de boas práticas de gestão, profissionalismo, motivação, qualidade dos serviços e produtos, estão em melhores condições para apostarem na sustentabilidade ambiental e social, do que aquelas que o são menos. Obter e manter a estabilidade económico-financeira, é claramente uma marca de sustentabilidade das empresas que o conseguem, e que abre caminho para a implementação mais facilitada do ESG.