Aves marinhas que ingerem plástico podem sofrer danos cerebrais semelhantes à demência

A poluição por plástico é uma das grandes ameaças à vida marinha. Estudos já revelaram que peixes e aves ingerem pedaços ou partículas sintéticas e sofrem alterações nos seus sistemas digestivos que podem causar subnutrição e morte.
Uma nova investigação revela agora que os impactos da ingestão de plástico são muito mais abrangentes do que se pensava.
Num artigo publicado esta semana na revista ‘Science Advances’, investigadores da Austrália e do Reino Unido mostram que, ao ingerirem plásticos, as aves marinhas podem sofrer danos celulares, disfunção de órgãos e até declínio neurológico.
O estudo focou-se em crias de pardelas-de-patas-rosadas (Ardenna carneipes) entre os 80 e os 90 dias de vida, de uma colónia da Ilha de Lord Howe, no Mar da Tasmânia, a cerca de 600 quilómetros da Austrália. Os cientistas registaram dados sobre as dimensões corporais dos animais, recolheram amostras de sangue e, através de lavagens estomacais, documentaram a quantidade de plástico contido nos seus estômagos. Foram ainda analisados tecidos do cérebro e do fígado de crias encontradas já sem vida no local.

Foto: J. Gilligan
Os resultados mostram que mesmo aves com quantidades relativamente pequenas de plástico nos seus estâmagos apresentavam sinais de danos celulares, de problemas no funcionamento dos seus órgãos e até de degeneração neurológica.
“Ao fazermos análise proteica em amostras de sangue de crias de aves marinhas com níveis altos e baixos de ingestão de plástico, descobrimos que a ingestão de plástico (mesmo pequenas quantidades) afeta negativamente múltiplos órgãos, incluindo o estômago, o fígado, os rins e até impacta o cérebro”, explica, em comunicado, Alix de Jersey, da Universidade da Tasmânia e primeira autora do artigo.
A investigadora acrescenta que embora nem todas as aves morram diretamente por causa da ingestão de plástico, os animais acabam por viver com graves problemas de saúde e, devido aos impactos neurológicos, com uma capacidade cognitiva reduzida, semelhante à que é registada em humanos com demência.
“Embora a ingestão de plástico seja muitas vezes associada à inanição, à emaciação e a bloqueios digestivos, esta investigação mostra que até pequenas quantidades de plástico podem causar danos fisiológicos generalizados”, salienta.