Crias de beija-flores imitam lagartas venenosas para escaparem aos predadores

Numa densa floresta tropical no Panamá, cientistas descobriram um comportamento peculiar, nunca antes observado, de uma cria de beija-flor a imitar o aspeto e o movimento de uma lagarta.
Tratava-se se uma cria recém-nascida da espécie Florisuga mellivora, conhecida, em adulta, pela sua cabeça azul e dorso de tons verde-metálico. Quando se aproximaram do ninho, a pequena ave começou a contorcer-se e a abanar a cabeça. Para os investigadores, que revelam a descoberta num artigo publicado esta segunda-feira na revista ‘Ecology’, o comportamento peculiar é uma forma de imitação de lagartas que são venenosas e, por isso, uma estratégia para manter afastados os predadores.
A penugem que cobre o corpo da cria assemelha-se aos filamentos urticantes que cobrem as lagartas de borboletas e traças que ocorrem na região, e que podem ser tóxicos para os predadores que as consomem e até causar náuseas aos humanos que lhes toquem. A maioria das crias de beija-flores nascem “despidas”.

Foto: Michael Castaño-Díaz, coautor do artigo
A descoberta foi feita no Parque Nacional Soberanía (Panamá) em 2024, e aconteceu por mero acaso. Os investigadores andavam pela floresta quando se depararam com um ninho de F. mellivora, com um dos progenitores a incubar o seu ovo.
Alguns dias depois, testemunharam o nascimento da cria e monitorizaram o seu desenvolvimento. Certo dia, contam em comunicado, os cientistas viram uma vespa aproximar-se do ninho. Sentindo o perigo, a cria começar a contorcer o corpo e a agitar a cabeça. Momentos depois, a vespa partiu, deixando a cria incólume.

Foto: Michael Castaño-Díaz ,coautor do artigo
Os especialistas descrevem esta imitação das características de outras espécies venenosas como mimetismo batesiano. Embora muito exemplos desse tipo de mimetismo envolvam espécies não venenosas a imitarem espécies venenosas do mesmo tipo (cobras imitam outras cobras, borboletas imitam outras borboletas), os investigadores dizem que este pode ser um dos poucos casos conhecidos de uma ave a imitar um inseto.
Visto que a observação deste comportamento em crias de F. mellivora resume-se a apenas um caso, so investigadores querem agora documentar mais observações para poderem confirmar se realmente as crias dessa espécie de beija-flor imitam lagartas tóxicas.