Tubarões e raias estão a desaparecer a um “ritmo preocupante” nas Seicheles



Estudo revela que os tubarões e as raias que vivem nas águas em redor da Ilha Frégate, no arquipélago das Seicheles, estão a desaparecer a um “ritmo preocupante”, mesmo em áreas legalmente protegidas para efeitos de conservação da biodiversidade.

Num artigo publicado na revista ‘Marine Biology’, um grupo de cientistas, liderado pelo Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE), debruçou-se sobre uma ilha em particular, a Ilha Frégate, no extremo oeste desse arquipélago índico. Usando sistemas de vídeo subaquático apetrechados com iscos, monitorizaram a abundância de raias e tubarões (do grupo dos elasmobrânquios) nessas águas tropicais, em 2019, 2020 e 2022.

Durante esses três anos, foram identificadas 18 espécies de tubarões e de raias e os dados recolhidos permitiram identificar algumas áreas específicas da ilha onde a presença destes animais ainda é relativamente comum.

Locais como Barracuda Rock ou Castle Rock parecem funcionar como refúgios naturais e podem ser cruciais para a sua sobrevivência a longo prazo. Por essa razão, esses locais são considerados “hot spots” de biodiversidade marinha, e por isso, os investigadores dizem que merecem uma proteção especial.

Do total de espécies de elasmobrânquios identificadas ao largo da Ilha Frégate, mais de metade estão classificadas como ameaçadas de extinção segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza.

A pesca excessiva é apontada por estes cientistas como uma das principais ameaças a essas espécies marinhas, mas o estudo revelou também que o aumento da temperatura da água é um fator de risco. Com base nos resultados, percebeu-se que quando a água do mar ultrapassava os 30 graus Celsius a presença de tubarões e de raias diminuía significativamente.

“Este é um claro sinal de que as alterações climáticas estão a afetar diretamente a vida marinha”, diz o MARE, em nota.

Foi também possível, nesta investigação, descobrir mais sobre como vivem esses animais e sobre os tipos de habitats que mais frequentam. Os tubarões mostraram preferência por zonas com o leito coberto por rochas e cascalho, enquanto as raias surgem com mais frequência em áreas de rocha com areia.

O grupo de investigadores considera que esses detalhes ajudam a identificar os habitats que mais precisam de ser conservados para assegurar a sobrevivência desses animais, que são elementos fundamentais dos ecossistemas dos quais fazem parte.

Apesar da localização remota da Ilha Frégate, alertam que a pressão humana, seja pela pesca, pelo turismo desregulado ou pelo impacto das alterações climáticas, está a deixar “marcas profundas” nas populações de tubarões e raias.

Por tudo isso, os autores deste estudo defendem que a ação tem de ser “rápida e coordenada”, e deve incluir medidas como a criação e o reforço de áreas marinhas protegidas. A par disso, dizem que é também preciso uma regulação mais eficaz das práticas de pesca, em especial daquelas que colocam estas espécies em risco, a monitorização contínua das populações, com recurso a tecnologias não invasivas como os vídeos subaquáticos, e uma aposta séria no combate às alterações climáticas, que, apontam, “já estão a alterar profundamente os padrões de vida marinha”.

Para os seus autores, este estudo torna clara uma dura realidade: nem mesmo os paraísos tropicais estão imunes aos efeitos da atividade humana. Como tal, salientam que “proteger tubarões e raias é mais do que salvar espécies, é proteger o equilíbrio e o futuro dos nossos oceanos”.






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