África já não pensa que crise climática é moda dos países desenvolvidos
O presidente da Fundação Africana para o Clima, Carlos Lopes, afirmou ontem que o tempo em que África olhava para a crise climática como uma moda dos países desenvolvidos terminou.
“Houve um tempo que África pensava que os problemas climáticos eram uma moda dos países do Norte”, começou por dizer o guineense Carlos Lopes, que participou por videoconferência no Seminário “Brasil-África: Novas pontes sobre o rio chamado Atlântico”, num evento organizado pela diplomacia brasileira em Brasília.
“Essa ideia mudou completamente”, disse, referindo ao facto de o continente sentir as consequências das alterações climáticas.
Na sua opinião, os “países africanos têm um papel absolutamente central” no combate às alterações climáticas, mas, advertiu, que a apesar da humanidade ter vivo anos de “progressos imensos” tecnologia e produtividade em alguns países ricos, esses mesmos países fora os “responsáveis pela maior parte das emissões do planeta”.
“O progresso que foi possível até agora teve custos”, como custos climáticos, de sustentabilidade do planeta “e custos de desigualdade” que se fizeram sentir sobretudo no continente africano.
“Emitimos menos e somos os que sofremos mais”, considerou, lembrando que apesar do continente ter recursos naturais, “só alguns beneficiaram” da extração desses mesmos recursos.
Para Carlos Lopes, os países ricos têm dívida carbono que terá que ser paga aos países com “crédito carbono”, através de “financiamento que infelizmente não tem acontecido”.
“Não conseguimos até agora termos o mercado de carbono regulado para satisfazer os mais vulneráveis”, afirmou, denunciando que os intermediários ganham mais com os créditos de carbono do que aqueles que realmente precisam.
“Nos últimos 16 anos os países africanos foram os que menos beneficiaram dos créditos”, frisou.
Tal como tem reiterado o Presidente brasileiro, Lula da Silva, O presidente da Fundação Africana para o Clima criticou ainda o facto de os países desenvolvidos continuarem a não cumprir com a promessa de destinar 100 mil milhões de dólares anuais aos países em desenvolvimento, para o enfrentamento das alterações climáticas.
“Este défice de confiança precisa de uma virada”, frisou o responsável.
“Em três anos, 500 mil milhões de dólares foram gastos em reparações de fenómenos climáticos” como as “cheias que vimos acontecer no Rio Grande do Sul, também aconteceram no Quénia e Moçambique”, recordou.