Austrália vai criar um grande parque nacional para proteger os coalas. Mas ambientalistas lançam críticas ao governo federal



O governo do estado de Nova Gales do Sul, na Austrália, anunciou este domingo que vai mesmo para a frente um novo parque nacional especialmente dedicado à conservação dos coalas (Phascolarctos cinereus) na região.

A iniciativa, promessa de campanha do trabalhista Chris Minns, atual líder do executivo estadual, irá adicionar e ligar uns estimados 176 mil hectares de floresta de gestão pública a outros parques nacionais que existem já nesse estado australiano, perfazendo um total de 476 mil hectares protegidos por lei e formando um dos maiores parques nacionais de Nova Gales do Sul.

Em comunicado, o governo estadual estima que o novo parque protegerá mais de 1.200 coalas, bem como centenas de outras espécies ameaçadas, incluindo os petauros Petauroides volans, pequenos mamíferos marsupiais planadores que vivem na região oriental da Austrália, cuja lei os classifica como espécie em perigo de extinção.

O anúncio serviu também para declarar uma proibição temporária e imediata da exploração madeireira dentro dos limites projetados do parque, em vigor a partir desta segunda-feira. O governo estadual disse que a moratória irá afetar seis das mais de 25 serrações que existem na região, mas assegurou que será fornecido apoio financeiro para mitigar os impactos, como o pagamento de salários e a cobertura de custos operacionais.

Este é o culminar de décadas de pressão por parte de organizações não-governamentais para a criação de um parque nacional de grandes dimensões para proteger os coalas e assegurar a sobrevivência da espécie.

“Os coalas estão em risco de extinção na Natureza em [Nova Gale do Sul]. Isso é impensável”, diz Minns, citado em nota. “O Grande Parque Nacional do Coala está prestes a mudar isso”, garante.

Apesar das aparentes boas notícias para essa espécie icónica da fauna australiana, alguns apontam baterias ao governo federal liderado pelo Primeiro-ministro Anthony Albanese e apontam incongruências nas políticas nacionais de conservação da Natureza.

A organização conservacionista Australian Conservation Foundation (ACF), no mesmo dia do anúncio feito pelo governo de Nova Gales do Sul, publicou um estudo que revela que em 2025 foram aprovadas para “destruição” mais áreas de habitat de coalas do que em qualquer ano anterior desde 2012, ano em que a espécie foi classificada como “Vulnerável” à luz da lei australiana. Uma década depois, o estatuto foi agravado para “Em perigo”.

“2025 é já o pior ano alguma vez registado no que toca à destruição com aprovação federal do habitat do coala”, acusa a ACF, acrescentando que quase quatro mil hectares de floresta foram aprovados este ano para exploração ou para conversão em agricultura.

Nos últimos 14 anos, diz a organização, foi aprovada a destruição de cerca de 30 mil hectares florestados onde ocorrem coalas, ao abrigo do que descreve como “a ineficaz lei de ‘proteção’ da natureza da Austrália”. Segundo a ACF, 98% da desflorestação dos habitats dos coalas não foi sujeita a avaliações de impacto ambiental.

“A ACF saúda o anúncio do governo de [Nova Gales do Sul] sobre os detalhes do há muito prometido e muito necessário Grande Parque Nacional do Coala”, diz Darcie Carruthers, dessa organização.

“Apesar do seu compromisso para com ‘zero novas extinções’, o governo de Albanese já aprovou para destruição 3.958 hectares” de habitat de coala este ano, salienta, dizendo que é uma área equivalente a quatro aeroportos de Sydney.

Apontando que a lei federal australiana de proteção da Natureza “é tão mal aplicada que falhou em impedir que fossem destruídos quase 2,3 milhões de hectares de habitat provável de coalas”, Darcie Carruthers destaca que, uma vez que se trata de uma espécie classificada como ameaçada de extinção, as falhas que se têm registado na proteção dos coalas “mostram o fracasso total das atuais leis para manterem as árvores no solo e impedirem a continuação do declínio da espécie”.

Numa altura em que o governo federal da Austrália está a rever a lei nacional de proteção da Natureza, conhecida como Lei de Proteção Ambiental e Conservação da Biodiversidade (EPBC, na sigla original em inglês), que data de 1999, Darcie Carruthers diz que o governo de Albanese “deve definir regras claras para proteger o habitat de espécies ameaçadas, como os coalas”, resolver lacunas legais que permitem a exploração de recursos naturais em áreas sensíveis contrariando os objetivos centrais de conservação e “criar um órgão fiscalizador independente para fazer cumprir a lei”.






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