Brasil: Como os habitantes do Ceará já ganharam 400 mil euros com a reciclagem
Em 2007, a distribuidora de energia Coelce, do grupo espanhol Endesa, colocou todos os cidadãos do estado brasileiro do Ceará a reciclar.
O culpado foi o projecto Ecoelce, que permitiu à população local trocar lixo reciclável por dinheiro, a partir da selecção do lixo. Desde essa altura que o papel, papelão, plástico e outros materiais deixaram de ser colocados aleatoriamente nas ruas de várias das cidades do estado, como Fortaleza, e passaram a ser encaminhados para postos especializados na recolha de lixo.
Este “milagre” já possibilitou, até agora, a recolha de 9,8 mil toneladas de lixo e um total de 440 mil euros angariados pela população. A Coelce, por seu lado, vende o resíduo pelo seu valor de mercado às empresas de reciclagem.
Segundo explica o Globo, tudo começou quando a pesquisadores da Universidade Estadual do Ceará fizeram uma proposta para uma campanha de redução de geração de resíduos na cidade.
A proposta chegou às mãos do departamento de Pesquisa e Desenvolvimento da Coelce, que já procurava formas de incluir no sistema de pagamento da energia duas categorias de moradores das classes mais baixas: os que não pagavam regularmente as contas da luz, por não terem condições; e os que furtavam energia do sistema de distribuição, pelo mesmo motivo.
“Pouco mais de um ano depois, uma equipa da Coelce juntou a proposta inicial da campanha a uma necessidade da empresa e chegou à seguinte fórmula: o cidadão junta os resíduos, entrega no posto, a Coelce concede o bónus [financeiro] e vende o resíduos pelo valor de mercado para as empresas de reciclagem”, explica o Globo.
Desta forma, e embora a Coelce não chegue a ganhar dinheiro como projecto, acaba por reduzir o seu custo operacional. Paralelamente, o projecto promove a inclusão no sistema de distribuição de energia dos moradores que teriam a sua luz cortada por falta de pagamento.
“Como a operação de corte e religação é cara para a empresa, já que o valor que tem que a desembolsar é maior do que a taxa de religação que o cliente paga, encontrar uma forma do cliente pagar a conta e evitar o custo alto da operação é uma vantagem para a empresa”, explica o artigo.
Segundo o presidente da Coelce, Abel Rochina, dos 298 mil inscritos no projecto Ecolce, 190 mil são da classe baixa. Desses, 90 mil são potencialmente susceptíveis de serem impactados pela operação de corte.
“A empresa ganha, a população ganha e o meio ambiente agradece”, completa Abel Rochina.
E os números comprovam-no. Para além da alta taxa de reciclagem de cidades como Fortaleza, a taxa de incumprimento dos clientes da Coelce desceu dos 2,63% em 2007 para os 2,49% em 2008 e 2,33% em 2009.