Cientista português recebe bolsa para colorir fibras de algodão
A Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa | NOVA FCT anuncia que o investigador português Filipe Natálio recebeu um novo financiamento do Conselho Europeu de Investigação (ERC). O investigador integrou a Unidade de Investigação em Ciências Biomoleculares Aplicadas (UCIBIO) da faculdade e vai desenvolver soluções sustentáveis para tingir fibras de algodão.
Segundo a mesma fonte, as soluções desenvolvidas por Filipe Natálio incluem novos pigmentos que permitem a coloração direta das fibras de algodão, e o cultivo de algodão com a cor desejada “incorporada” diretamente nas fibras, como o azul, semelhante à cor dos jeans, ou características especiais, como a propriedade hidrofóbica, que impede a absorção de água.
O investigador salienta que esta abordagem permite um futuro mais sustentável no setor têxtil, onde Portugal ocupa uma posição de liderança no mercado europeu. Os processos desenvolvidos não envolvem manipulação genética nem a criação de algodoeiros geneticamente modificados e ainda têm maior durabilidade do tingimento, que não se perde com as lavagens.
Esta ideia pioneira a nível mundial recebeu a atenção da União Europeia, tendo recebido financiamento de duas Bolsas European Research Council (ERC) – uma ERC Consolidator no valor de 2 milhões de euros e uma ERC Proof-of-Concept no valor de 150 mil euros. E recebe agora outra bolsa ERC Proof-of-Concept no valor de 150 mil euros para desenvolver o projeto “BioDenim”.
“A UE é bastante rigorosa no que diz respeito a plantas e organismos geneticamente modificados, limitando o desenvolvimento de tecnologias e inovação numa altura em que a ciência se apoia nestas tecnologias. As nossas soluções inovadoras respeitam a biologia e baseiam-se na nossa compreensão de como as fibras de algodão se formam”, explica Filipe Natálio, investigador na UCIBIO – NOVA FCT.
Solução através de moléculas de açúcar
A equipa de Filipe Natálio desenvolveu esta solução inédita através de moléculas de açúcar. As fibras de algodão de uma t-shirt são células que desenvolvem um “cobertor” de celulose à medida que crescem. A celulose é um polímero utilizado em muitos dos produtos que usamos e composta por unidades idênticas, como peças de lego feitas de açúcar, criando assim um “algodão doce”.
Após compreender este processo, os cientistas desenharam e sintetizaram moléculas de açúcar para fornecer aos algodoeiros. O resultado foi um algodão tingido com as moléculas de açúcar, cujas cores permaneceram intactas.
“O aproveitamento dos sistemas biológicos é uma das últimas fronteiras da humanidade, no entanto, a complexidade destes organismos tem dificultado a utilização da bioquímica na produção de materiais”, explica Filipe Natálio. “Esta abordagem demonstra que é possível modificar as propriedades de uma planta, nomeadamente do algodão sem modificações genéticas, e que a investigação na interface entre a química e a bioquímica (de plantas) desempenha um papel fundamental na criação de soluções sustentáveis para a indústria”.
Estas soluções vão permitir a criação de um ecossistema de sinergias único em Portugal, que liga a investigação básica ao tecido industrial, assim como ao mercado, que está recetivo a este tipo de inovações.
No futuro, o investigador português Filipe Natálio e a sua equipa vão continuar a desenvolver investigação na NOVA FCT, procurando otimizar este método e passar este processo para uma escala piloto, com parceiros nacionais e internacionais da Indústria.
Biografia do cientista
Filipe Natálio, 45 anos, licenciou-se em Química pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e concluiu o mestrado na Universidade de Amesterdão, nos Países Baixos, em 2004. Obteve o doutoramento na Universidade Médica de Mainz, Alemanha, sob a prestigiada Bolsa Marie Curie. Durante este período, foi investigador visitante em Itália e na China, expandindo a sua formação científica internacional. Em 2013, iniciou a sua atividade de investigação na combinação entre química sintética e biologia vegetal na Universidade de Halle-Saale, na Alemanha e, em 2017, integrou o Instituto Weizmann da Ciência, onde continuou a desenvolver investigação inovadora nesta área. Atualmente, regressa a Portugal para liderar projetos pioneiros na NOVA FCT, integrando a unidade de investigação UCIBIO.
A NOVA FCT tem agora um total de 21 bolsas ERC, sendo uma das Instituições de Ensino Superior portuguesas com maior concentração destas bolsas de investigação em Portugal.