Como funciona a investigação agroalimentar em Portugal? (com ENTREVISTA)



Em breve, os fabricantes de sumos, iogurtes e cereais podem desenvolver novas marcas com hidrogéis que possibilitam a inclusão de antioxidantes, vitaminas e fitosteróis em vários produtos. A inovação – denominada Nutricap – surgiu na tese de doutoramento de Ana Isabel Bourbon, do Center of Biological Engineering (CEB) da Universidade do Minho e o seu eventual scale-up está nas mãos da Improveat, spin-off da mesma universidade.

O Green Savers falou com Ana Isabel Bourbon (ao centro) sobre a investigação, que acabou de ser premiada no Food & Nutrition Awards, perceber como ela surgiu e quais os próximos passos. Será que a indústria agroalimentar está atenta à inovação made in Portugal?

Qual a génese do projecto Nutricap e quanto tempo demoraram a desenvolvê-lo?

O projecto Nutricap surgiu no âmbito da minha tese de doutoramento, onde se teve como principal objectivo o desenvolvimento de micro e nanohidrogéis para uso alimentar, e onde se percebeu que estes poderiam ser utilizados para a encapsulação de compostos funcionais e bioactivos e sua posterior incorporação em alimentos.

Os micro e nanohidrogéis são constituídos por proteínas do leite, usualmente utilizadas na indústria alimentar e possuem inúmeras propriedades funcionais (capacidade de regular a circulação sanguínea e actividades anti-inflamatórias e anti-tumorais), o que permite aumentar o valor nutricional dos alimentos.

A incorporação de compostos bioactivos livres em alimentos tem sido umas das formas de potenciar uma melhor nutrição e suplantar algumas deficiências nutricionais existentes; no entanto a interacção com meios alimentares, e a perda da sua bioactividade após a passagem pelo trato gastrointestinal, tem levantado alguns desafios. O Nutricap, produzido apenas com a utilização de compostos naturais e de grau alimentar, dá resposta a esses desafios, pois permite a incorporação de compostos bioativos solúveis e insolúveis em água, funcionando como um veículo para a sua libertação controlada e localizada, protegendo-os de meios exteriores adversos.

Quais os próximos passos da vossa investigação? A quem se dirige e como podem rentabilizá-lo?

Após a análise do seu comportamento in vitro e a verificação de não toxicidade, esta tecnologia está na fase de scale-up. O potencial desta tecnologia para aplicações comerciais tem sido avaliada por uma spin-off da Universidade do Minho, a Improveat.

Quando é que a vossa investigação poderá estar disponível para o consumidor final?

Ainda é necessário fazer o scale-up desta tecnologia para avançarmos para o mercado, mas acreditamos que brevemente será possível ter um produto comercial. A sua incorporação em alimentos terá que ser avaliada por parceiros da indústria alimentar que produzam alimentos onde o Nutricap possa ser utilizado.

Quais os benefícios do Nutricap para a alimentação e saúde?

O Nutricap, além das propriedades que possui por si (proteínas do leite com elevado teor nutricional), permite a incorporação de compostos funcionais e bioactivos, com benefícios para o consumidor. Assim, a incorporação de compostos como antioxidantes e vitaminas permitirá ao consumidor melhorar a sua saúde. Uma vez que estes hidrogéis podem incorporar-se em diferentes produtos alimentares (sumos, iogurtes e cereais), poderão oferecer à indústria alimentar a possibilidade de desenvolvimento de novos produtos alimentares fortificados com antioxidantes, vitaminas e fitosteróis, disponibilizando ao consumidor final um produto com um elevado valor nutricional e que vai ao encontro das necessidades cada vez mais exigentes dos consumidores.

Como funciona a investigação do CEB, quais as motivações, como são constituídas as equipas de trabalho e de que forma dão seguimento às tecnologias desenvolvidas?

Em termos de investigação, o CEB está divido em três áreas principais: Industrial and Food Biotechnology and Bioengineering, Environmental Biotechnology e Bioengineering and Health Biotechnology and Bioengineering, que depois se dividem em grupos de investigação – no nosso caso o grupo é o B.Factory. Apesar de se fazer muito trabalho de investigação fundamental no CEB, a investigação é também direccionada para o desenvolvimento de novos produtos e tecnologias, como é comprovado pelos projecto com a indústria e spin-offs com origem no CEB. Existe, por isso um espírito empreendedor onde a transferência de tecnologia também é promovida.

Qual a importância do galardão recebido nos Nutrition Awards para o vosso trabalho e reconhecimento?

É muito gratificante ser reconhecido pelo trabalho que temos desenvolvido e, além do reconhecimento que temos tido por parte da comunidade científica internacional, é com grande satisfação que recebemos este prémio por parte de um agente mobilizador para a inovação no sector agroalimentar, como é o caso do Food & Nutrition Awards. É demonstrador do excelente trabalho que o CEB tem feito na área e no sector agroalimentar nos últimos anos, sendo um incentivo muito importante para continuar o trabalho desenvolvido.

Este artigo faz parte de um vasto trabalho sobre os vencedores do Food & Nutrition Awards 2015. Todos os vencedores da iniciativa portuguesa podem ser consultados neste link.





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