Corais tolerantes ao stress podem ajudar a ganhar tempo para os recifes num mundo em aquecimento



Os recifes de coral estão em crise. O aumento da temperatura dos oceanos impulsionado pelas alterações climáticas está a levar esses ecossistemas ao limite, com eventos de branqueamento em massa cada vez mais frequentes e graves. Mas e se a natureza já tiver parte da solução?

Uma nova investigação liderada pela Universidade de Tecnologia de Sydney (UTS) demonstra como os corais que prosperam naturalmente em ambientes extremos, frequentemente referidos como “supercorais”, podem ser usados em esforços de restauração para proteger sistemas de recifes vulneráveis.

A investigação foi recentemente publicada na revista Science Advances e oferece evidências convincentes de que esses corais resilientes podem manter a sua tolerância ao calor mesmo depois de serem transferidos para habitats de recife mais estáveis.

“Estamos a enfrentar uma situação em que os métodos tradicionais de restauração não são suficientes”, diz Christine Roper, investigadora principal do estudo.

“Infelizmente, não podemos remover imediatamente fatores de stress como o calor do oceano. No entanto, existem corais que se adaptaram para sobreviver em condições extremas”, sublinha.

O estudo concentrou-se nos corais das lagoas de manguezais perto de Low Isles, na Grande Barreira de Corais. Esses ambientes são conhecidos por suas condições adversas, como temperaturas flutuantes, baixo nível de oxigénio e baixa salinidade.

Os investigadores transplantaram esses corais para um recife próximo, a um quilómetro de distância, e monitorizaram-nos durante um ano. Apesar das condições mais estáveis, os corais mantiveram a sua elevada tolerância ao calor.

Roper diz que a análise da expressão genética mostra que os corais transplantados ativam vias associadas à reparação do ADN, metabolismo e homeostase, todos mecanismos essenciais que os ajudam a sobreviver ao stress térmico.

“Isto sugere que a sua resiliência não é apenas ambiental, mas está profundamente enraizada na sua biologia”, aponta Roper.

“Este é um desenvolvimento significativo”, diz. “Até agora, não sabíamos se essas características persistiriam fora do seu habitat nativo. As nossas descobertas mostram que sim, e isso abre as portas para o uso desses corais em esforços de restauração”, adianta.

O conceito é semelhante às práticas agrícolas, nas quais culturas resistentes à seca são propagadas para melhorar a segurança alimentar.

Da mesma forma, corais tolerantes ao stress poderiam ser selecionados e transplantados para aumentar a resiliência de locais de recifes que são ecologicamente ou economicamente significativos. Low Isles, por exemplo, é um recife de alto valor que sustenta o turismo e os meios de subsistência locais.

A abordagem não está isenta de desafios. Os críticos podem apontar os riscos de transferir corais entre ambientes, incluindo possíveis perturbações ecológicas ou falha na aclimatação. Roper reconhece essas preocupações.

“Não estamos a dizer que esta é uma solução milagrosa”, explica. “É uma ferramenta entre outras. Qualquer intervenção deve ser cuidadosamente avaliada por meio de uma análise de risco-benefício. Mas não fazer nada não é mais uma opção”, revela.

A urgência é inegável. Os recifes de coral sustentam 25% da vida marinha e proporcionam milhares de milhões de dólares em valor económico através da pesca, do turismo e da proteção costeira. No entanto, estão entre os ecossistemas mais vulneráveis às alterações climáticas.

“Ao aproveitar a resiliência da própria natureza, é possível ganhar tempo para os recifes de coral e as comunidades que deles dependem”, sublinha.

Roper é clara: esta estratégia deve andar a par com ações climáticas urgentes.

“A restauração por si só não salvará os nossos recifes. Precisamos de enfrentar as alterações climáticas se quisermos que estes ecossistemas sobrevivam a longo prazo”, salienta

“Os supercorais podem ajudar-nos a manter a linha, mas a verdadeira solução é reduzir drasticamente as emissões de carbono que estão a provocar esta crise”, conclui.






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