Enguia-europeia é um dos principais alvos do tráfico de vida selvagem na Europa



Os meixões, a forma juvenil das enguias-europeias (Anguilla anguilla), são um dos principais alvos do tráfico de vida selvagem na região, gerando milhares de milhões de euros em lucros ilícitos a nível global.

Num relatório da Europol divulgado no final de maio, o tráfico de meixões “continua a ser um dos mais substanciais e lucrativos comércios ilegais de espécies protegidas de todo o mundo”.

A enguia-europeia foi, em tempos, relativamente abundante na União Europeia (UE), mas, depois de décadas de sobre-exploração, atualmente só é encontrada em alguns países da região, como Portugal. Por essa razão, a espécie está classificada como “Criticamente em perigo” de extinção na Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza.

A poluição e as barreiras à sua migração, incluindo infraestruturas hidroelétricas, estão também a lista de ameaças a esse peixe.

Mas os crimes contra a vida selvagem na UE vão além das enguias. De acordo com o mesmo relatório, uma das formas mais prejudiciais de crimes e práticas não reguladas ou não reportadas é a pesca de atum-rabilho (Thunnus thynnus) no Mar Mediterrâneo, onde das populações dessa espécie estão “Em perigo” de extinção.

Além disso, a captura ilegal de moluscos gera também lucros de vários milhões de euros todos os anos na região.

A UE é considerada um importante centro para o tráfico de vida selvagem, com espécies a serem traficadas de, para e através dos territórios dos seus Estados-membros. Espécies selvagens e produtos delas derivados são também traficados de países em África, nas Américas e no Médio Oriente para chegarem às mãos de compradores europeus, aponta a Europol.

A agência policial europeia revela ainda que os traficantes e as organizações criminosas podem estar a virar-se para espécies selvagens menos conhecidas, numa tentativa para evadirem a deteção e manterem as suas carteiras de clientes, e as redes sociais e plataformas de comércio eletrónico são cada vez mais usadas para operações de tráfico de vida selvagem.

Segundo o relatório, as organizações criminosas que operam nessa área de tráfico caracterizam-se por altos níveis de especialidade e capacidade, integrado nas suas fileiras pessoas com conhecimentos avançados de medicina veterinária, química e biologia.

“Este conhecimento é combinado com um forte entendimento do mercado, com acesso a uma rede relevante de compradores e vendedores e com uma compreensão dos regulamentos e das dinâmicas de mercado”, detalha a Europol.

No âmbito das operações de tráfico de vida selvagem que passam pela UE em direção à Ásia, organizações criminosas sediadas no bloco regional “trabalham de perto com redes criminosas asiáticas, especialmente no comércio ilegal de meixões”.

Num outro relatório, da organização não-governamental Traffic, divulgado este mês e reportando-se ao ano de 2023, foram registadas na UE cerca de 5.200 apreensões de vida selvagem comercializada ilegalmente, envolvendo mais de um milhão de espécimes. A Alemanha, os Países Baixos e Espanha representaram quase 75% do total das apreensões no bloco regional nesse ano.

Esse número fica acima das 4.550 apreensões de 2022, mas abaixo das 6.150 registadas em 2019.

Também nessa análise, as enguias-europeias surgem como a espécie selvagem mais traficada por número de espécimes apreendidos, mais de um milhão de indivíduos. As aves são o grupo com o maior número de espécies apreendidas (196), sendo que em 2023 foram registadas 88 novas espécies durante as operações de apreensão, incluindo rãs venenosas e aranhas.

Revela a Traffic que 86% das apreensões tinham como destino países da UE, com os principais países exportadores a serem a Tailândia, os Estados Unidos da América, a Ucrânia, a China continental e a Índia.






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