Entrevista a Alexandre Ferreira: “Combustíveis de baixo carbono têm uma fraca expressão” em Portugal



A Green Savers falou com o Presidente da ANECRA sobre o panorama atual das energias verdes no setor automóvel em Portugal e na Europa e sobre a recém-criada PCBC – Plataforma de Combustíveis de Baixo Teor de Carbono.

Para a Alexandre Ferreira, “é inevitável que as energias verdes tenham num futuro próximo, um papel muito importante na descarbonização do setor automóvel na Europa e em Portugal e existe ainda muito por fazer”.

Já sobre a PCBC – Plataforma de Combustíveis de Baixo Teor de Carbono – criada por oito entidades, sendo a ANECRA um dos membros fundadores, atualmente é constituída por onze entidades – explicou que tem como principal objetivo alertar os diferentes atores para que encontrem meios complementares e alternativos que “possam contribuir para uma fase de transição energética que tenha como meta uma descarbonização sustentável nas suas várias vertentes”.

  • Qual o principal objetivo da recém-criada PCBC – Plataforma de Combustíveis de Baixo Teor de Carbono?

A PCBC – Plataforma de Combustíveis de Baixo Teor de Carbono tem como principal objetivo alertar os diferentes atores – desde os poderes políticos ao consumidor final passando pelos operadores do setor – para encontrar meios complementares e alternativos que possam contribuir para uma fase de transição energética que tenha como meta uma descarbonização sustentável nas suas várias vertentes. Acreditamos que é possível contribuir, de forma ativa e transparente, para a descarbonização de todos os modos de transporte; promover uma transformação progressiva do setor da mobilidade, permitindo uma adoção inclusiva e duradoura e garantir uma descarbonização sustentável nos três pilares: segurança do setor energético, sustentabilidade ambiental e social e potenciar a comunicação: todos os agentes podem fazer parte da transição energética, promovendo a economia circular.

Da PCBC fazem parte um conjunto de organizações que operam em diferentes etapas da cadeia de valor, desde a matéria-prima à produção do combustível – incluindo o seu fornecimento, distribuição e utilização, constituindo uma parte muito substancial dos setores dos combustíveis renováveis sustentáveis em Portugal. A Plataforma pretende contribuir para uma economia neutra para o clima até 2050, baseada na diversidade de vetores energéticos e soluções tecnológicas; na neutralidade tecnológica; na transição para combustíveis de zero ou baixo teor de carbono produzidos a partir de matérias-primas alternativas.

  • Quantas empresas, institutos ou outras entidades já aderiram?

A Plataforma foi criada por oito entidades, sendo a ANECRA um dos membros fundadores, atualmente é constituída por onze entidades. Os membros da PCBC acreditam numa transformação energética duradoura e inclusiva, e comprometem-se a contribuir, ativa e transparentemente, para a transformação dos nossos sistemas de energia e transporte, oferecendo a sua experiência e conhecimento, não só no que respeita às tecnologias de baixo teor de carbono, em apoio à ambição climática da EU, mas também em termos das necessidades sociais e económicas dos consumidores.

Atualmente, estão em curso vários processos de adesão de novas entidades, todas elas estratégicas no setor e com uma relação ativa relativamente ao tema da transição energética, o que representa um índice revelador da importância estratégica da criação desta Plataforma.

As empresas que pretendam juntar-se à Plataforma, terão de ser organizações nacionais a atuar em diferentes etapas da cadeia de valor dos combustíveis e da mobilidade, como a produção de matéria-prima e do próprio combustível, do seu fornecimento e distribuição, bem como os diferentes intervenientes nos diversos setores da mobilidade, nomeadamente o terrestre, ligeiro e pesado, a aviação e a marinha.

  • Qual o panorama atual das energias verdes no setor automóvel na Europa e, em particular, em Portugal?

O papel das energias verdes e, em particular, dos combustíveis de baixo carbono têm, tanto em Portugal como na Europa, uma fraca expressão. Para que se possa ter uma ideia deste impacto, em Portugal no final de 2021, os veículos com combustíveis a gasóleo e a gasolina representavam 97,5% do parque automóvel, deixando apenas 2,5% do parque circulante para veículos híbridos, a gás ou elétricos. Na Europa os valores são semelhantes, embora existam ligeiramente menos veículos elétricos.

Sobre este tema da transição energética, no final de 2022, Akio Toyoda, CEO da Toyota Motor Corporation, referiu que duvida que os veículos elétricos sejam a única solução para a atingir a ambicionada neutralidade carbónica, defendendo um caminho composto por diferentes soluções tecnológicas. Refere, ainda, a existência na Europa de uma maioria silenciosa de profissionais do setor que corroboram esta posição. Este tema reforça a nossa convicção: é inevitável que as energias verdes tenham num futuro próximo, um papel muito importante na descarbonização do setor automóvel na Europa e em Portugal e existe ainda muito por fazer.

  • Perante uma conjuntura de escalada dos preços dos combustíveis e em linha com o objetivo climático europeu de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 55% até 2030, como pretende a UE aumentar o uso dos combustíveis sustentáveis?

Face às circunstâncias referidas anteriormente, verifica-se a existência a vários níveis de uma preocupação relacionada com a tomada de consciência de erros cometidos no passado. A dependência excessiva de uma só fonte energética, como é o caso dos combustíveis fosseis, é claramente um exemplo a não repetir. Por sua vez, substituir os combustíveis fósseis por uma solução elétrica em exclusivo, é incorrer num erro semelhante. Não obstante, o aumento do uso dos combustíveis sustentáveis de origem não petrolífera , depende exclusivamente da vontade política dos governos da União Europeia, estes podem ser utilizados nos ativos atuais, evitando disrupções e tornando-os mais acessíveis. Por essa razão, consideramos que os combustíveis de baixo carbono são um dos vetores energéticos essenciais para a descarbonização da mobilidade, a par da eletricidade e do hidrogénio.

  • Qual o papel da ANECRA no novo programa de abate de veículos?

A ANECRA lidera, desde há muito, o processo de sensibilização deste tema junto de vários Governos no sentido da reposição do sistema de incentivo ao abate de veículos em fim de vida. A pressão exercida pela ANECRA e por outras associações do setor obteve uma resposta positiva, face ao compromisso estabelecido com o atual Governo em Sede de Concertação Social, o que permitiu comtemplar esta medida já no Orçamento de Estado para 2023. Tendo este desiderato sido obtido, esperamos que seja possível implementá-lo no decorrer do ano em curso, considerando as atuais limitações no fabrico e fornecimento de veículos novos, às respetivas redes de distribuição e ao mercado em geral. Pretendemos continuar a atuar como fórum de comunicação coletiva, visando o intercâmbio de opiniões e melhores práticas sobre a transição energética e a descarbonização de todos os modos de transporte; a apelar às Instituições Nacionais e Europeias a elaboração de um quadro legislativo que valorize e apoie todas as tecnologias de baixo carbono em benefício das economias e dos consumidores e a partilhar publicamente as suas opiniões e posições relativamente ao desenho de regulamentos, necessários para o desenvolvimento de casos de negócios para os investimentos em combustíveis de baixo carbono.





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