Estilista indígena volta à Amazónia para ajudar a fortalecer comunidades locais



O estilista indígena Sioduhi, que criou uma marca de roupa sustentável em São Paulo, inventou uma tecnologia que lhe permite tingir tecidos com casca de mandioca, mas regressou à Amazónia para fortalecer as comunidades e a moda locais.

Sioduhi criou a sua marca há quatro anos, em plena pandemia de covid-19, na cidade brasileira de São Paulo, mas este ano concretizou um dos seus objetivos ao mudar-se para Manaus, onde desde fevereiro tem o seu atelier, com uma equipa fixa de quatro pessoas, regressando às suas origens.

Numa entrevista à Lusa em Lisboa, onde se deslocou para participar no Mês das Amazónias, uma iniciativa do Projeto Pensar a Amazónia, o estilista confessa que voltou com o sonho de fortalecer a sua “própria comunidade indígena e também a moda amazonense” para que as pessoas não tenham de abandonar as suas casas para poderem ter o seu sustento.

O estilista considerou que quando se fala de moda no seu país ainda se “olha muito para o Rio de Janeiro e São Paulo e nunca para o nordeste e tão pouco para o norte”, onde está a sua gente, defendendo que é preciso também “fortalecer a mão-de-obra local, que tem muita experiência” e precisa de rendimento.

“A gente inspira-se na Amazónia mas não investe nos profissionais que estão na região, que têm muita experiência”, lamentou.

Foi com esse objetivo em mente que Sioduhi aceitou o convite para participar na primeira edição do Amazon Poranga Fashion em 2023, um projeto que apoia estilistas da Amazónia.

“O Amazon Poranga [Fashion], na verdade, foi uma porta de volta para a minha casa, para o Amazonas. As pessoas não conheciam a minha marca aqui”, admitiu.

Originário do povo Piratapuya, do Alto Rio Negro, o estilista, líder da Sioduhi Studio, criou ainda antes desta mudança uma nova tecnologia de tingimento apelidada de “Maniocolor”, à base de cascas de mandioca.

Sioduhi procura a inspiração para os seus modelos nas mulheres indígenas do Alto Rio Negro e desde a segunda coleção que os tecidos com que confeciona os seus modelos são todos pintados com o tingimento natural.

A pesquisa para obter aquela forma de tingimento foi desenvolvida desde 2022, e nessa altura a marca, ainda pequena, teve de fazer um avultado investimento, mas conseguiu depois apoio no âmbito do programa INOV Amazónia do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) na categoria de inovação.

Sioduhi realçou que o investimento neste tipo de moda é “muito elevado”, pelos custos, desde os processos artesanais às tecnologias e certificações necessárias.

A faturação da sua empresa foi afetada pelas “mudanças climáticas severas no Amazonas” que deixaram os seus produtos isolados, perdendo até algumas peças e alguns materiais no transporte, mas este ano já espera uma retoma no negócio.

Licenciado em gestão de empresas, além de designer de moda, o estilista quer que a sua identidade seja levada para o mundo da moda e admitiu que os preços também não estão ao alcance da maioria dos consumidores.

“Nós não estamos a criando uma moda de loja, estamos a criar uma moda autoral, que tem história, que tem cultura e tecnologia envolvidas […] e tantos povos”.





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