Gatos-selvagens na Europa não se cruzaram com os domésticos durante 2.000 anos. Nos anos 60 tudo começou a mudar



Há cerca de dois milénios, os gatos domésticos foram trazidos pelos humanos das regiões orientais do mundo para a Europa. Quando aí chegaram, já o gato-selvagem (ou gato-bravo) dominavam a paisagem europeia.

Embora se pudesse esperar que, por serem geneticamente próximos, começariam a acasalar entre si, novos dados arqueológicos revelam que a hibridação terá começado apenas a acontecer na década de 1960.

A investigação, cujos resultados são dados a conhecer num artigo publicado esta semana na revista ‘Current Biology’, focou-se na Escócia, um dos principais baluartes dos gatos-selvagens europeus e onde a espécie está classificada como ‘Criticamente em Perigo’, e faz parte da Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas, da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), embora com o estatuto global de ‘Pouco Preocupante’.

Através da análise genética de amostras de gatos-selvagens e domésticos modernos e da comparação com amostras antigas de felídeos com até 8.500 anos recolhidas em escavações arqueológicas, a equipa de investigadores mostra que, embora tenham coexistido nos mesmos espaços durante cerca de 2.000 anos, ambas as espécies tendiam a evitar o acasalamento entre si.

Contudo, há aproximadamente 50 anos, na Escócia o nível de hibridação começou a subir rapidamente, algo que os cientistas atribuem à redução das populações de gatos-selvagens, que, devido à escassez de indivíduos da sua própria espécie, fruto da perda de habitat e da caça por humanos, começaram a acasalar com a espécie introduzida.

Para Jo Howard-McCombe, da Universidade de Bristol e da Real Sociedade Zoológica da Escócia e primeira autora do artigo, “é claro que a hibridação é um resultado de ameaças modernas comuns a muitas das nossas espécies nativas”.

Recordando que “a perda de habitat e a perseguição empurraram os gatos-selvagens para o limiar da extinção na Grã-Bretanha”, a investigadora afirma que “é fascinante que possamos usar dados genéticos para olhar para a história da sua população e usar o que aprendemos para proteger os gatos-selvagens da Escócia”.

Greger Larson, professor na Universidade de Oxford e outro dos autores do estudo, aponta que “tendemos a pensar que os gatos e os cães são muito diferentes”, mas “pelo menos no que diz respeito a evitarem o cruzamento com os seus parentes selvagens, os cães e os gatos são muito mais semelhantes entre si do que são face a todos os outros animais domésticos”.

Estudos sugerem que o cruzamento entre as duas espécies de gatos pode ter resultado numa diminuição em cerca de 88% da população selvagem escocesa. Em 2019, estimava-se que na Escócia existiriam apenas perto de 30 gatos-bravos, razão pela qual a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) alertou que, sem medidas urgentes, a espécie arriscava ficar funcionalmente extinta.

Os autores deste estudo consideram que os resultados obtidos “reescrevem a história dos gatos na Europa”.





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