Há quase 3.000 anos que as tartarugas-verdes regressam às mesmas pradarias marinhas no Mediterrâneo



As tartarugas marinhas são conhecidas por regressarem aos seus locais de nascimento para depositarem os seus ovos e por frequentarem as mesmas áreas de alimentação que os seus antepassados frequentaram.

Agora, uma nova investigação científica revela que esse comportamento poderá estender-se por várias gerações, ao longo de milhares de anos, salientando a importância de proteger e preservar esses locais em prol da conservação dessas espécies.

As tartarugas marinhas tendem a regressar aos mesmo locais onde nasceram para depositar os seus ovos e aos locais onde os seus antepassados se alimentaram. Esta fidelidade pode ser observada ao longo de milénios, através de análises da história ecológica das espécies e do estudo arqueológico.
Foto: Patte David (U.S. Fish and Wildlife Service) / Wikimedia Commons

Este trabalho, revelado num artigo publicado este mês na ‘PNAS’, incidiu particularmente sobre as tartarugas-verdes (Chelonia mydas) e combinou dados atuais recolhidos por satélite com a análise de ossos antigos, para revelar que, ao longo dos últimos 3.000 anos, geração após geração de tartarugas-verdes têm regressado às pradarias marinhas da costa leste do Mar Mediterrâneo, ao largo do Egipto e da Líbia, para se alimentarem, tal como fizeram os seus progenitores, e os progenitores deles, e por aí adiante.

Willemien de Kock, investigadora de ecologia histórica da Universidade de Groningen, nos Países Baixos, e principal autora do artigo, explica que, quando nascem, as tartarugas-verdes não têm ainda força suficiente para migrarem até aos locais de alimentação frequentados pelos seus pais. Ao invés, acabam por nadar ‘ao sabor’ da corrente, comendo o que lhes aparecer pela frente, e adquirindo uma alimentação quase omnívora.

No entanto, quando chegam aos cinco anos de idade, partem, finalmente, em direção às pradarias marinhas dos seus antepassados, onde podem tornar-se totalmente herbívoras.

Através da análise dos restos osteológicos com milhares de anos de tartarugas-verdes recolhidos no Mediterrâneo, com recurso a técnicas de datação por carbono, a investigadora e a sua equipa verificaram que há quase 3.000 anos que esses répteis se alimentam das ervas-marinhas que são encontradas ainda hoje ao largo das costas egípcia e libanesa.

Amostra de osso de tartaruga-verde usado nesta investigação.
Foto: Universidade de Groningen

De Kock argumenta que ampliar o foco temporal é essencial para que se possam desvendar alterações, por vezes ligeiras, que podem passar despercebidas com escalas temporais mais curtas. Por isso, defende que ao usar dados arqueológicos é possível “compreender melhor os efeitos da ação humana sobre o ambiente” e até “prever o futuro destas tartaruga-marinhas”.

Os cientistas avisam que dados recentes apontam para uma degradação das pradarias marinhas precisamente nas zonas frequentadas há milénios por esses animais, algo que poderá ameaçar a sustentabilidade das populações dessa espécie que mostra um alto nível de fidelidade aos lugares frequentados pelos seus antepassados.

No artigo, escrevem que os resultados deste estudo salientam a importância de “proteger esses habitats costeiros críticos que são especialmente vulneráveis ao aquecimento global”, alertando que a sua perda poderá ter consequências devastadoras para as populações mediterrânicas de tartaruga-marinhas. E esperam que esta investigação ajude a definir políticas de conservação de ecossistemas marinhos essenciais que tenham em conta a história ecológica das espécies, e não apenas a sua atualidade.





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