Incêndios: Organização ambientalista GEOTA avisa que “transformar a paisagem é agora ou nunca”

Este ano os incêndios rurais já consumiram quase 60 mil hectares, sendo que a maioria ardeu só nas últimas semanas.
Em Arouca, Penamacor e no Parque Nacional da Peneda-Gerês, registaram-se incêndios de grandes dimensões, com áreas ardidas de mais de 100 hectares cada um. Os fogos afetam não apenas comunidades humanas locais e causam danos potencialmente irreparáveis aos ecossistemas, mas também comprometem a biodiversidade, a qualidade do solo e o ciclo da água.
Perante esse cenário, a associação ambientalista GEOTA alerta que é preciso realizar uma mudança profunda na forma como se gere o território e a floresta em Portugal.
Em comunicado, defende um modelo de gestão florestal com espécies autóctones, ecologicamente adaptadas ao território, como o carvalho, sobreiro, medronheiro, castanheiro, pinheiro-bravo e outras espécies nativas.
“Esta opção permite restaurar a biodiversidade, conservar o solo, regular os ciclos hídricos e aumentar a resiliência às alterações climáticas, ao mesmo tempo que reduz o risco estrutural de incêndio”, diz a organização não-governamental portuguesa.
Contudo, avisa que essa transformação só é eficaz se for feita com o envolvimento das pessoas, argumentando que “mudar a paisagem é, acima de tudo, um processo social: ouvir quem vive nos territórios, perceber as suas necessidades e integrar o conhecimento local no planeamento das ações”
“Estamos diariamente a apoiar as comunidades afetadas e a recuperar o valor ecológico e económico das paisagens que foram devastadas pelos incêndios. Nesse sentido, a transformação da paisagem tem de ser vista sobretudo como uma transformação social que encaixe no contexto sociocultural específico de cada território. Trabalhamos com foco no restauro ambiental, mas é um trabalho sobre as pessoas”, afirma, citado em nota, Miguel Jerónimo, coordenador dos projetos Renature.
A organização salienta que os territórios afetados pelos incêndios enfrentam uma degradação acelerada dos solos e dos ecossistemas e o impacto das alterações climáticas, fatores agravados pela ausência de gestão ativa da paisagem.
“Na serra de Monchique, temos vindo a observar sinais claros de desertificação nas zonas de menor altitude, especialmente em áreas com solos xistosos. As alterações climáticas estão a modificar as condições ecológicas da serra, forçando algumas espécies autóctones a procurar outros locais para sobreviver. O sobreiro e o medronheiro tendem agora a estabelecer-se em altitudes mais elevadas e o castanheiro em encostas mais húmidas. Esta mudança torna ainda mais crucial a fase de planeamento, sobretudo na escolha adequada das espécies, nas técnicas de preparação do solo e na calendarização das intervenções no terreno”, detalha Miguel Jerónimo.
O GEOTA destaca que, perante a dimensão dos desafios que o país enfrenta neste momento, “não podemos esperar pelo próximo verão para agir”.
“O tempo da prevenção, do planeamento e da recuperação é agora e deve-nos envolver a todos”, sentencia.