Lontras podem estar a ajudar a livrar os ecossistemas de parasitas prejudiciais



As lontras Lontra canadensis, uma espécie nativa da região da América do Norte, tendem a comer, a socializar e a defecar nos mesmos sítios. Podemos achar que, segundo os nossos padrões humanos, não são muito dadas à higiene, mas facto é que essa indiferença ao que consideraríamos ser um ambiente pouco saudável faz delas aliados importantes dos ecossistemas.

Investigadores do Centro Smithsonian de Investigação Ambiental e da Universidade Estadual de Frostburg, ambas no estado de Maryland, nos Estados Unidos da América (EUA), estudaram o que esses mamíferos semiaquáticos esquivos e notívagos comem e descobriram algo que não esperavam.

O trabalho, cujos resultados são revelados num artigo publicado esta semana na revista ‘Frontiers in Mammal Science’, tem por base a análise das fezes de lontras L. canadensis que vivem na Baía de Chesapeake, onde desagua, por exemplo, o Rio Potomac, que atravessa a capital dos EUA, Washington D.C. Como se trata de um animal cuja observação na Natureza é extremamente difícil, os cientistas, para estudá-los, têm de aproveitar os vestígios que deixam para trás.

Ao estudarem 18 locais usados pelas lontras para defecarem (também conhecidos como latrinas), os cientistas descobriram que as fezes desses animais estavam repletas de restos de presas que, por sua vez, estavam a ser afetadas por parasitas.

Em laboratório, perceberam que caranguejos e peixes constituem 93% da alimentação das lontras da Baía de Chesapeake, embora também se alimentem de alguns anfíbios, minhocas e uma ou outra pequena ave.

Análises de ADN revelaram também a presença de um grande número de parasitas nas fezes dos animais, especialmente trematodes. A equipa sugere que é provável que as lontras tenham ingerido esses parasitas por se terem alimentado de presas afetadas por eles, e que é pouco provável que a sua saúde estivesse a ser prejudicada.

Katrina Lohan, principal coautora do artigo, explica que, ao comerem animais afetados por parasitas, a lontras estão a ajudar a manter saudáveis as populações das suas espécies-presa, ao removerem os indivíduos doentes.

Por outro lado, os cientistas argumentam que os parasitas podem, por sua vez, estar a ajudar a lontras a apanharem peixes e caranguejos. Afetados por parasitas, tornam-se presas mais fáceis de capturar.

“Embora os parasitas tenham impactos negativos nos indivíduos, são extremamente importantes nas teias alimentares”, explica Lohan.

“É possível que as lontras, como outros predadores de topo, não conseguissem encontrar comida suficiente sem os parasitas”, acrescenta.

As lontras da espécie L. canadensis foram, em tempos, abundantes por toda a América do Norte, mas o comércio de pêlo e a degradação dos seus habitats levou a acentuados declínios nas suas populações por toda a região. Ações de conservação têm tido alguns sucessos na recuperação da espécie, mas ainda se sabe muito pouco sobre como estes animais crípticos vivem.






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