O risco futuro de branqueamento dos corais deverá intensificar-se a nível mundial
Uma equipa internacional de investigadores liderada pela Universidade de Adelaide previu que as futuras ondas de calor marítimas farão com que os recifes de coral corram um risco grave de branqueamento durante períodos mais longos do que os observados anteriormente.
Através da modelação climática e da supercomputação, os investigadores descobriram que os eventos de branqueamento prolongados podem perturbar significativamente a desova dos corais.
“Descobrimos que o branqueamento dos corais começará mais cedo no ano e durará mais tempo do que se pensava”, disse a autora principal, Camille Mellin, do Instituto do Ambiente da Universidade de Adelaide.
“Os nossos resultados mostram que, até 2080, o branqueamento dos corais terá tendência a começar na primavera, em vez de no final do verão, o que poderá ameaçar o sucesso da reprodução dos corais”, revelou.
“Em muitas regiões, a desova dos corais ocorre uma vez por ano, na primavera, e a nossa modelação prevê um risco elevado de o branqueamento dos corais coincidir com este evento reprodutivo, o que será devastador para milhares de espécies de corais”, acrescentou.
As ondas de calor marítimas provocam o stress dos corais e a expulsão das algas simbióticas que vivem nos seus tecidos, deixando os corais brancos e enfraquecidos.
Embora o branqueamento generalizado dos corais seja um fenómeno recente, ocorreram quatro eventos globais de branqueamento em massa desde 1998, tendo os dois mais recentes ocorrido nesta década.
Esta recente descoberta, que será publicada na revista Science Advances na quinta-feira, estabelece a gravidade, o momento e a duração do risco de branqueamento grave no século XXI para os recifes de coral da Terra, mostrando que os eventos de branqueamento em massa vão continuar a tornar-se ainda mais frequentes no futuro.
“As nossas projeções de stress térmico diário mostram que o maior risco de branqueamento grave de corais neste século será ao longo do equador, que é também o lar dos recifes de coral mais ricos em biodiversidade”, disse o Professor Associado Damien Fordham, do Instituto do Ambiente da Universidade de Adelaide.
“Os recifes de coral nestas regiões equatoriais, incluindo o Triângulo de Coral da Indonésia, poderão enfrentar condições de branqueamento quase constantes até ao final do século”, sublinhou.
“Infelizmente, as espécies marinhas destas regiões já estão a viver a temperaturas próximas dos seus níveis superiores de tolerância, pelo que estão particularmente mal equipadas para se adaptarem às alterações climáticas aceleradas, o que as torna altamente vulneráveis à extinção”, acrescentou.
As regiões de recifes de coral de baixa latitude servem de alimento e nutrição para milhões de pessoas em todo o mundo, sendo que as populações locais dependem da pesca dos recifes de coral para obterem rendimentos.
Estes novos resultados, acompanhados por um portal de dados em linha, ajudarão os gestores dos recifes a identificar as regiões de menor risco de branqueamento, onde as ações de conservação dos corais podem ser prioritárias e onde os corais podem ser mais bem salvos.
“As nossas projeções validadas do risco futuro de branqueamento dos corais baseiam-se em previsões diárias de ondas de calor marítimas, o que representa uma melhoria fundamental em relação às abordagens anteriores”, afirmou o Professor Scott Heron, coautor da Universidade James Cook.
“Estas projeções de próxima geração serão cruciais para o desenvolvimento de estratégias de conservação destinadas a proteger e restaurar os recifes de coral em regiões com menor risco de alterações climáticas futuras. Estas são áreas onde o sucesso da conservação é mais provável”, concluiu.