Opinião, Álvaro Cidrais: “Humanizadores da escola”
“UM DOS MAIORES problemas da escola actual é a falta de prazer que existe no acto de criar aprendizagens e de aprender em sala de aula.
Para muitos professores e alunos, estar nas aulas é sofrer. Vejam-se as estatísticas de doença mental existentes. Quem são os grupos profissionais mais afectados? Os professores e os membros de segurança! Em que grupo etário há, neste momento, as mais altas taxas de crescimento de ansiedades? Nos jovens entre os 15 e os 25 anos!
Apesar de inúmeros esforços e investimentos, para muitas pessoas, a escola é um ambiente de pressão e frustração que exige humanização.
Nessa medida, importa encontrar soluções que melhorem o clima, incidindo sobre diversas componentes e os intervenientes. Portanto, justifica-se apresentar e ponderar várias propostas.
Eu optei por esta, a de transformar o conteúdo e o sentido da abordagem de “direcção de turma”, humanizando-a e aprofundando o seu valor, naquilo que é mais essencial.
Portanto, propus uma adaptação do cargo de director para a acção de “mentor de turma”. Pode ser “tutor” ou outro termo qualquer. As suas funções centrais poderiam ser, para além das que já realiza enquanto “director de turma” ou “titular”:
- Promover as aprendizagens de competências pessoais e sociais que a civilidade exige ao aluno, cultivando o empreendedorismo responsável, o trabalho de equipa, a aprendizagem colaborativa e todas as outras competências que sabemos, hoje, essenciais para ter sucesso na vida. Este poderia ser o campo relevante da formação cívica.
- Apoiar os alunos no desenvolvimento das suas competências e na vontade de aprender, designadamente nos tempos de “estudo acompanhado”.
- Apoiar os colegas no desenvolvimento e efectividade da sua actividade pedagógica. Podendo, em determinados casos, disponibilizar-se para estar presente nas aulas, de acordo e a pedido dos outros professores, tendo o sucesso do aluno como o seu ponto principal de intervenção.
- Estabelecer pontes de relacionamento favorável entre pais, professores e alunos que permitam trazer para a escola o que os pais têm de melhor para dar.
- No âmbito deste contexto, poderia criar ou dinamizar actividades de reflexão e desenvolvimento curricular, revitalizar as iniciativas e clubes em diversas áreas temáticas, promover acções de formação e qualificação de todos os intervenientes.
Os “desvalorizados” horários zero poderiam, assim, desempenhar – exclusivamente – um papel essencial ao sucesso nas escolas, criando uma envolvente favorável à aprendizagem. Era uma boa razão para lhes pagar, contrariando a sua desvalorização social e o desemprego que logo os espera.
Mas, em Portugal, antes de ser proposta, esta ideia, já morreu. Porque pensar diferente e mudar custa mais do que se queixar”.
*Álvaro Cidrais é licenciado em Geografia e Mestre em Geografia Humana: Desenvolvimento Regional, sendo actualmente docente universitário na Universidade Lusíada de Lisboa, consultor/assessor de gestão e formador, trabalhando como consultor independente em áreas relacionadas com a sua especialização. Foi ainda co-autor de dois livros com Xosé Manuel Souto, da Universidade de Vigo, designadamente “Planeamento Estratéxico de Mercadotecnia Territorial” e “História do Eixo Atlântico”.