Um terço dos animais de água doce está em risco de extinção
Especialistas da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) alertam que 24% de todas as espécies, a nível global, de peixes, caranguejos, libélulas, libelinhas, lagostins e camarões enfrentam “elevado risco de extinção”.
Na mais recente revisão global do estado de conservação destas espécies dulçaquícolas, que resulta de avaliações feitas ao longo das últimas duas décadas e que é agora publicada num artigo na revista ‘Nature’, os cientistas apontam que a maior parte dessas espécies ameaçadas ocorre no Lago Vitória (Tanzânia, Quénia e Uganda), no Lago Titicaca (Peru e Bolívia), nas florestas húmidas do Sri Lanka e na região montanhosa dos Gates Ocidentais na Índia.
Dizem os autores que essas zonas estão entre as mais biologicamente diversas de todo o planeta no que toca a espécies de água doce, entre as quais se incluem algumas que não são encontradas em quaisquer outros lugares.
A poluição é listada como uma das principais ameaças a estas espécies, especialmente efluentes e descargas provenientes da agricultura e de explorações florestais. A conversão de ecossistemas de água doce em áreas agrícolas, a extração de água e a construção de barreiras físicas, como açudes ou barragens, fazem também parte da lista de fatores que estão a empurrar estas espécies para a extinção. E lembram que a captura excessiva e os impactos de espécies invasoras têm também uma forte influência no declínio das suas populações.
Embora o leque de ameaças possa ser partilhado por muitas espécies que coexistem numa mesma área, as ações de conservação, defendem os autores do trabalho, devem ter em conta as especificidades de cada uma delas no que diz respeito às necessidades em termos de condições dos habitats.
Rajeev Raghavan, do grupo de especialistas em peixes dulçaquícolas da UICN e coautor do artigo, explica, em nota, que embora tigres e elefantes vivam na mesma região (os Gates Ocidentais) que a espécie de peixe Tor remadevii, ameaçado pela artificialização dos rios e extração de areias e rochas, as ações necessárias para proteger uns e outros não serão as mesmas.
Como tal, os investigadores apelam a que os esforços de conservação sejam direcionados para as espécies que se visa proteger, atendendo às suas particularidades biológicas e ecológicas, bem como ao rol de perigos que ameaçam a sua sobrevivência.
Entre os grupos de animais de água doce analisados, os caranguejos, os lagostins e os camarões são os que mais espécies (30%) apresentam os mais elevados riscos de extinção, declara o artigo, seguidos pelos peixes (26%) e pelas libelinhas e libélulas (16%).
“As paisagens de água doce albergam 10% de todas as espécies conhecidas da Terra”, diz Catherine Sayer, diretora da área de biodiversidade dulçaquícola da UICN e primeira autora do artigo. Além disso, continua, são essenciais para milhares de milhões de pessoas terem acesso a água potável, para obterem sustento em termos de alimentação e rendimentos e como aliadas para mitigar os efeitos das alterações climáticas, como cheias.
Por isso, declara a cientista, “devem ser protegidas, tanto para a natureza como para as pessoas”.