Zonas profundas da Grande Barreira de Coral “isoladas” do aquecimento global – por enquanto



Algumas zonas mais profundas da Grande Barreira de Coral estão isoladas das ondas de calor nocivas, mas essa proteção perder-se-á se o aquecimento global continuar, de acordo com uma investigação da Universidade de Queensland e da Universidade de Exeter.

O branqueamento maciço de corais causado por temperaturas elevadas à superfície ocorreu na Grande Barreira de Coral em cinco dos últimos oito anos, tendo o último evento ocorrido agora.

O Professor Peter Mumby, do Centro de Ciências Marinhas da UQ, afirmou que a equipa de investigação analisou a forma como a alteração das temperaturas afectaria os corais mesofóticos, ou seja, os corais situados a uma profundidade de 30-50 metros.

“Descobrimos que a separação entre as águas quentes e flutuantes da superfície e as águas mais frias das profundezas pode isolar os recifes das ondas de calor da superfície, mas esta proteção perder-se-á se o aquecimento global exceder 3 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais”, afirmou o Professor Mumby.

O professor explica que “o branqueamento dos corais é um sinal dramático do impacto que os humanos estão a ter no planeta e é cada vez mais observado a maiores profundidades”.

“O nosso estudo oferece tanto esperança como um aviso – esperança de que alguns recifes são resistentes aos atuais níveis de alterações climáticas e um aviso de que esta resistência tem os seus limites”, sublinha.

Jennifer McWhorter, da UQ, disse que padrões semelhantes podem ocorrer noutros recifes em todo o mundo, mas a medida em que os refúgios de coral em águas mais profundas permanecem isolados das ondas de calor à superfície varia.

“Descobrimos que um aquecimento global de 3 graus faria com que as temperaturas mesofóticas na Grande Barreira de Coral ultrapassassem os 30 graus Celsius – um limiar potencial para a mortalidade dos corais”, afirmou McWhorter, sublinhando que “algumas espécies de corais de águas pouco profundas não se encontram em zonas mais profundas, pelo que os recifes mesofóticos não lhes podem servir de refúgio à medida que os recifes pouco profundos se degradam”.

“E, como mostra o nosso estudo, os corais mesofóticos estão eles próprios ameaçados se o aquecimento global continuar”, acrescenta.

Para calcular as suas projeções de aquecimento dos recifes mesofóticos, a equipa de investigação teve em conta fatores como o vento e a mistura da água com as marés, bem como as complexidades locais.

Estimaram que, até 2050-2060, as temperaturas no fundo da Grande Barreira de Coral (30-50 metros) aumentariam 0,5-1 graus Celsius se as emissões de gases com efeito de estufa projetadas fossem mais baixas, e 1,2-1,7 graus Celsius se as emissões fossem mais elevadas.

Paul Halloran, do Global Systems Institute de Exeter, afirmou que os recifes de coral precisam de ser melhor compreendidos para serem protegidos.

“Os recifes enfrentam múltiplas ameaças, não apenas as alterações climáticas”, afirmou Halloran, acrescentando que “se a gestão destas ameaças for direcionada, espera-se que seja possível manter alguns recifes saudáveis”.

“Há muito a aprender sobre os recifes de coral tropicais mais profundos, especialmente porque não podemos assumir que a sua profundidade constitui um refúgio contra as consequências do aumento das emissões globais de carbono”, concluiu.

O trabalho de investigação foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.





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