“A sustentabilidade urbana tem uma surpreendente actualidade empresarial”



Em entrevista ao Green Savers, o director-geral da AESE diz que o crescimento das cidades e a sustentabilidade urbana são temas que têm uma “surpreendente actualidade empresarial” e podem criar “novas avenidas de competitividade”.

Na véspera da assembleia que comemorará os 30 anos da AESE, José Ramalho Fontes fala de como a sustentabilidade está a modelar a formação de executivos do futuro, elogia alguns dos líderes empresariais portugueses nesta área e faz uma lista dos momentos altos de três décadas da Escola de Direcção e Negócios.

Um dos temas da agenda mundial é, sem dúvida, o das cidades sustentáveis. Foi por isso que escolheram este tema para comemorar o 30º aniversário da AESE?

O crescimento das cidades é uma realidade incontornável, o que torna a sua sustentabilidade um assunto com grande destaque na comunicação social e, ao mesmo tempo, um assunto de uma surpreendente actualidade empresarial. Estes problemas, em paralelo, geram oportunidades de criar novas avenidas de competitividade.

Assiste-se à incontornável tendência para a urbanização porque a humanidade procura melhores condições – que só se têm concretizado nos centros urbanos. Na União Europeia, mais de 70% da população vive em zonas urbanas (em Portugal vivem cerca de 60%), prevendo-se que, em 2050, esta percentagem aumente, atingindo 84% da população europeia.

A urbanização crescente é, aliás, uma característica do mundo moderno, manifestando-se em todos os continentes, abrangendo cerca de 60% dos 6.800 milhões de pessoas que habitam hoje no planeta. Destes, aproximadamente 9% vive em megacidades com mais de 10 milhões de habitantes, sendo as dez maiores cidades do mundo responsáveis por cerca de 20% do PIB mundial.

Esta preocupação com as cidades tem encontrado eco generalizado nos meios de comunicação social, acabando por marcar a agenda dos dirigentes e executivos de vários sectores de actividade.

Inúmeras grandes empresas têm prestado uma importância significativa ao tema das cidades, como é o caso da IBM, da Logica, da Indra, da GE, da Siemens, para além das construtoras. Também as consultoras têm dedicado especial atenção a esta matéria – como a McKinsey, entre outras.

Nos últimos 30 anos passaram pela AESE 3.900 executivos de 700 empresas, por isso a própria escola pode fazer uma análise bastante alargada do panorama empresarial português. Notam que o tema da sustentabilidade está, digamos assim, na ordem do dia? Porquê?

Desde 1989 que o tema da sustentabilidade é discutido especificamente nos programas da AESE, desde o PADE e MBA até aos programas na área da Saúde, tendo sido objecto de estudo de caso [segundo a metodologia de Harvard e do IESE Business School, que a AESE utiliza desde a sua fundação na formação de dirigentes e executivos] e aprofundado em iniciativas e atitudes, num somatório que é expressão do paradigma humanista cristão gravado no ADN da Escola, de respeito pelas pessoas e pelo ambiente, e que se traduz na competência profissional na gestão dos negócios no dia-a-dia.

Inicialmente o foco incidiu sobre o ambiente. Escreveu-se um caso sobre o SIDVA, Sistema de Despoluição do Vale do Ave, relatando um problema vivido por uma empresa da indústria têxtil. Nessa ocasião, a empresa não permitiu que se utilizasse o seu nome real. Foram escritos também outros casos: Centro Fabril de Viana (da Portucel) e Auto-Vila, um negócio baseado no aproveitamento de resíduos.

Em paralelo, a sustentabilidade começou a ser integrada nos vários programas segundo o modelo da triple bottom line – perspectiva económica, ambiental e social.

Ao mesmo tempo que a AESE aderia à iniciativa Global Compact, das Nações Unidas, estabelecemos uma parceria com a PwC para a distinção das boas práticas de Cidadania de empresas e organizações, criando o Prémio da Cidadania (www.premiocidadania.com).

Qual o contributo que a AESE e as escolas de negócio em geral podem dar para a temática da liderança a nível da sustentabilidade?

A AESE, por meio dos programas de formação de dirigentes e executivos, gera a discussão, o envolvimento e o compromisso dos líderes das organizações à volta do tema da sustentabilidade que, entre outros, fazem parte da agenda dos líderes. Outras business schools acabaram por reconhecer, mais tarde, a importância do tema e realizar algumas acções de sensibilização.

E Portugal, cujo Governo e empresas dedicam tanto espaço mediático à sua aposta, por exemplo, nas energias renováveis, tem bons líderes de sustentabilidade? Pode referir alguns?

A sustentabilidade é uma questão que oscila entre a moda e a obrigação. Existem alguns nomes que se destacam no panorama português pelas acções desenvolvidas, como consequência da sua importância.

Belmiro de Azevedo, que lançou em Portugal o BCSD – Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável, António Mexia que fez a EDP integrar, desde 2007, o Dow Jones Sustainability World Index, e Zeinal Bava, da Portugal Telecom, um dos vencedores do prémio de Cidadania AESE – PwC, que recentemente também passou a integrar o Dow Jones Sustainability World Index, são apenas três exemplos de líderes de sustentabilidade em Portugal.

Colaboraram recentemente na fundação da ASM. Como se tem efectivado esta parceria e qual a sua importância para a AESE – e até mesmo para as relações entre Portugal e Angola?

A relação cada vez mais profunda da AESE com África é igualmente sinónimo do compromisso que a primeira business school em Portugal assumiu no desenvolvimento empresarial e humano num continente historicamente tão próximo e economicamente tão promissor. A ASM representa um desafio académico e pedagógico na formação de dirigentes, também pela sua dimensão cultural.

A AESE empenhou-se nesta missão pela oportunidade de crescimento e pela necessidade absolutamente crítica de uma melhor gestão e desenvolvimento sustentável de Angola.

A formação de quadros angolanos e de professores, para a ASM, a médio e a longo prazo, assegurarão a sustentabilidade da recente escola. O networking de pessoas e empresas de Portugal e Angola será como sempre uma excelente plataforma de conhecimento e de aproveitamento das oportunidades que a economia oferece.

O Green Savers tem sido alertado para uma tendência crescente que leva muitas empresas a nomearem um “director de sustentabilidade”. Como pode a AESE responder a esta nova necessidade do mercado e como podem estes directores de sustentabilidade assumir uma posição relevante na estrutura de liderança das empresas?

A AESE, seguindo a perspectiva de Harvard, toma a gestão a partir da visão holística da empresa, como uma única realidade social que tem de ser gerida, considerando todos os parceiros interessados (stakeholders).

Assim, a esta necessidade, auscultada no mercado para dirigentes especializados na área da sustentabilidade, a AESE oferece programas como o Executive MBA AESE/IESE e o PDE – Programa de Direcção de Empresas, em que esses dirigentes podem integrar esse aspecto específico na perspectiva da satisfação de clientes, colaboradores e accionistas, entre outros.

Para terminar: é um utilizador de bicicletas. Tem notado mais cidadãos a utilizar este meio de transporte tão caro às cidades sustentáveis?

Cada vez se nota um maior “engarrafamento sustentável” de bicicletas nas ciclovias, o que, neste caso, me parece muito positivo! É um fenómeno que se deve à sensibilização das pessoas para este meio transporte, mas também para o cuidado a ter com a saúde, praticando desporto.

Tenho encontrado alguns casais com os seus filhos em passeios pela Marginal, que aproveitam o pretexto de andar de bicicleta para arranjarem mais uma solução criativa de partilha de momentos de lazer em família.





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