Ártico: ursos polares estão a comer golfinhos para sobreviver
Os cientistas que estudam ursos nas margens norueguesas do Ártico têm descoberto vários destes predadores a comerem restos de golfinhos-de-bico-branco, que ficam presos debaixo do gelo dos fiordes.
Segundo um estudo publicado no jornal científico Polar Research, esta é a primeira vez que os golfinhos são presas dos ursos polares. Os golfinhos-de-bico-branco são visitantes frequentes das águas de Svalbard, Noruega, no Verão, mas nunca tinham sido vistos tão para norte no início da Primavera.
A primeira vez que um golfinho desta espécie foi visto nesta situação foi em Abril em 2014. Então, os cientistas fotografaram os ursos polares a comerem os restos dos cetáceos – um dos ursos estava particularmente magro, com as suas costelas claramente visíveis através da sua pele. Este urso tinha acabado uma carcaça e enterrou uma segunda para comer mais tarde (foto 3), explicou o autor principal do estudo do Norwegian Polar Institute, Jon Aars. Esta prática é comum em vários animais, mas não nos ursos.
Em Julho, os cientistas voltaram ao local e viram mais sete carcaças de golfinhos nesta área. No entanto, avançam os cientistas, é improvável que os golfinhos substituam as focas na dieta dos ursos polares.
“Existe uma grande população de ursos em Svalbard e nem todos se podem alimentar de golfinhos. Mas, para alguns, [esta alimentação] pode ser significativa”, explicou Aars ao Vice.
Na origem de toda esta situação estará as alterações climáticas, segundo os cientistas. “Antes de termos visto isto quase não havia gelo”, explicou Aars. Depois, uma frente fria entre o final de Março e início de Abril levou à formação de novo gelo e o gelo do fiorde explodiu. Os golfinhos tinham apenas um pequeno buraco para respirar e muitos foram apanhados pelos ursos quando o faziam.
De acordo com Andrew Derocher, biólogo que há 30 anos estuda ursos polares, muitas das espécies que eram normalmente encontradas em latitudes mais baixas estão a ir cada vez mais para norte, à medida que as temperaturas aumentam. Entre elas estão os cachalotes.
No Ártico, que aqueceu a uma percentagem duas vezes maior que a do resto do mundo, o fim do mar de gelo criou um novo habitat para outras espécies. “Não se encontram no seu território normal, mas é claro que seguem a comida. E porque o mar não se encontra gelado, vão muitas vezes para essas áreas”, concluiu Derocher.
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