Reino Unido prepara-se para designar primeiras áreas marinhas de proteção total. Mas ambientalistas denunciam falta de ambição
Esta terça-feira, dia 28 de fevereiro, o governo britânico anunciou que vai designar as primeiras três áreas marinhas de proteção total alguma vez criadas no Reino Unido. O objetivo é contribuir para “um oceano e mares limpos, saudáveis, seguros, produtivos e biologicamente diversos”.
Thérèse Coffey, ministra do Ambiente, afirmou que as áreas marinhas de proteção total serão definidas em North East of Farnes Deep, no Mar do Norte, em Allonby Bay, no Mar da Irlanda, e em Dolphin Head, no Canal da Mancha. Todas são já áreas marinhas protegidas, mas até dia 6 de julho, de acordo com o governo britânico, receberão o nível mais alto de proteção ambiental permitido pela lei do país.
O executivo liderado pelo Primeiro-ministro Rishi Sunak pretende dar espaço à Natureza para recuperar completamente, “eliminando todas as atividades prejudiciais, incluindo a pesca, a construção e a dragagem”, para aumentar a biodiversidade marinha e fortalecer a resiliência desses ecossistemas face aos efeitos das alterações climáticas. A medida faz parte dos planos do governo para proteger, pelo menos, 30% dos seus habitats até 2030, em linha com o compromisso assumido pelo Reino Unido, e por muitos outros países, na cimeira global da biodiversidade (COP15) que aconteceu em dezembro do ano passado, no Canadá.
No entanto, o anúncio foi recebido com alguma reticência pelos ambientalistas, uma vez que o plano inicial do governo, apresentado há dois anos, incluía cinco áreas que deveriam receber proteção total, e que o executivo dizia ser o mínimo indispensável. Antes de se chegar a essa mão cheia de áreas candidatas, a lista chegou a conter 30 locais que o governo considerava precisarem da máxima proteção legal para poderem recuperar. No final, sobraram três.
Segundo informou Coffey, as áreas de Lindisfarne e de Inner Silver Pit South, que constavam da lista original, foram afastadas, pois durante a consulta pública do plano foram levantadas preocupações sobre os impactos socioeconómicos negativos que a proteção estrita teria sobre as comunidades locais.
A organização Wildlife and Countryside Link (WCL) aponta que estas três áreas cobrirão menos de 0,5% da área marinha sob jurisdição britânica e que o governo deve procurar novas áreas para compensar a retirada daqueles dois locais.
Richard Benwell, responsável da WCL, afirma que perder duas das cinco áreas marinhas de proteção total é “um enorme retrocesso” e que poderá por em causa a capacidade do Reino Unido para alcançar a meta de proteção de 30% dos ecossistemas até ao final da década.
Também a The Wildlife Trusts critica o governo britânico pela falta de ambição, salientando que os ecossistemas marinhos em águas britânicas estão “em crise”.
“Década após década, temos visto o declínio contínuo da nossa vida selvagem”, assinala Lissa Batey, diretora de Conservação Marinha dessa organização, recordando que uma em cada sete espécies no Reino Unido enfrentam hoje a ameaça da extinção, e que os esforços para travar essas perdas têm falhado.
“Desde 1954, perdemos 20% dos habitats costeiro em Inglaterra, mais de 90% dos nossos recifes nativos de ostras em Inglaterra desde meados de 1800, e até 92% das ervas marinhas nos mares britânicos”, aponta, e acrescenta que as populações de tubarões contraíram mais de 90% desde o século XIX. “Estas são tendências que precisamos de travar urgentemente”, alerta.
Batey diz que as áreas marinhas de proteção total são a única forma, cientificamente comprovada, de recuperar os ecossistemas, escudando-os de atividades humanas prejudiciais. “Animais frágeis, como os corais e os recifes, regressarão, e peixes de todas as formas e tamanhos proliferarão”, declara, e confessa-se “altamente desiludida”, pois só essas três áreas identificadas pelo governo britânico “não serão suficientes” para permitir que a Natureza recupere verdadeiramente e para travar a degradação dos habitats e a perda de biodiversidade.
Em Portuga, a Reserva Natural das Ilhas Selvagens, no arquipélago da Madeira, é a maior área marinha protegida em toda a Europa, com 2.677 quilómetros quadrados.