Perda global de biodiversidade pode, afinal, ser mais grave do que se pensava
A diversidade de espécies, o número de animais e plantas e os ecossistemas estão em crise um pouco por todo o planeta. A par das alterações climáticas e da poluição, a perda de biodiversidade é tida como uma das maiores crises planetárias do nosso tempo.
O relatório ‘Living Planet’, lançado no final do ano passado pela WWF, alertou que as populações de animais selvagens sofreram uma queda média de 69% entre 1970 e 2018, destacando que, apesar dos esforços de conservação que têm vindo a ser feitos, é urgente agir para travar essas perdas e salvar a Natureza.
Agora, uma nova investigação de cientistas do Reino Unido e da República Checa faz soar de novo os alarmes, revelando que a perda de biodiversidade pode ser ainda mais grave do que se pensava.
Analisando as tendências populacionais de mais de 70 mil espécies de animais em todo o mundo, verificaram que as populações de cerca de metade (48%) de todas as espécies estão hoje em declínio e caminham em direção à extinção, sendo que menos de 3% mostram sinais de aumentos. Por outro lado, 49% das espécies de animais abrangidas por este estudo mostram sinais de estabilidade populacional.
Os investigadores defendem que usar as dimensões populacionais como indicador permite avaliar com maior precisão o nível de perda de biodiversidade, face aos métodos tradicionais aplicados internacionalmente, pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), que indicam que perto de 28% de todos os seres vivos correm o risco de desaparecerem.
Catherine Finn, doutoranda da Queen’s University Belfast e principal autora do artigo publicado recentemente na revista ‘Biological Reviews’, salienta que “quase metade dos animais na Terra sobre os quais existem avaliações estão atualmente em declínio”, acrescentando que “para piorar as coisas, muitas das espécies de animais que se pensam não estarem ameaçadas de extinção estão, de facto, em declínio progressivo”.
Os cientistas afirmam que 33% das espécies que a UICN considera hoje estarem relativamente ‘seguras’, estão, na realidade, a sofrer reduções constantes.
E as perdas não estão a conseguir ser compensadas com a evolução de outras espécies que poderiam ocupar os nichos ecológicos deixados vagos pelas espécies cujas populações vão diminuindo, colocando em risco a estabilidade e o funcionamento dos ecossistemas.
Deste estudo, os anfíbios, os mamíferos, as aves e os insetos são os grupos que mais perdas têm sofrido, com as populações consideradas estáveis ou em crescimento a não serem capazes de contrabalançar as perdas.
Daniel Pincheira-Donoso, também da Queen’s University Belfast e outro dos autores, argumenta que “este novo método de estudo e análise de escala global fornece uma imagem mais clara acerca da verdadeira dimensão da erosão da biodiversidade global que a abordagem tradicional não consegue alcançar”.
“O nosso trabalho é um alerta drástico sobre a atual magnitude desta crise que tem já tido impactos devastadores na estabilidade da Natureza, como um todo, e na saúde e bem-estar humanos”, acrescenta.
“Se as espécies e as suas populações poderão sobreviver à defaunação do Antropocénio dependerá dos seus traços intrínsecos, do seu potencial adaptativo e também das investigação e gestão que dediquemos à prevenção do seu desaparecimento”, escrevem os cientistas no artigo.
“Com base nos sinais da atual crise da biodiversidade, o tempo de reconhecer que este fenómeno está a acontecer já passou, e agora é fundamental proteger a integridade futura da biodiversidade e, assim, a persistência das humanidade.”