Perda de insetos ameaça espécies migradoras de animais insetívoros
Os insetos são vistos por muitos de nós, humanos, como incómodos e, por vezes, alvos a abater. Contudo, esses animais estão na base de várias cadeias tróficas e são fundamentais para a manutenção de ecossistemas e para assegurar a disponibilidade de alimento, quer para os humanos, quer para outros animais.
Um estudo de 2019 alertava para “níveis dramáticos de declínio” dos insetos no planeta que podem levar à extinção de mais de 40% das espécies de insetos nas próximas décadas, e que os grupos dos lepidópteros (borboletas e mariposas), dos himenópteros (abelhas, vespas e formigas) e dos coleópteros (besouros e escaravelhos) são os mais afetados por essas perdas populacionais.
Agora, um relatório do Secretariado da Convenção das Nações Unidas sobre Espécies Migradoras de Animais Selvagens (CMS), elaborado por cientistas do Instituto Leibniz para a Análise de Mudanças na Biodiversidade, revela que a perda de insetos está a contribuir para a redução das populações de espécies migradoras de animais insetívoros.
O documento será apresentado na 14.ª conferência das partes da CMS (COP14), que acontecerá entre 12 e 17 de fevereiro no Uzbequistão. E detalha também que “o declínio global dos insetos afeta as espécies migradoras de insetívoros ao reduzir a disponibilidade de alimento durante a migração e noutros estádios dos seus ciclos de vida”, podendo “afetar a sobrevivência de populações inteiras de espécies insetívoras”.
Os autores apontam a agricultura e “certas práticas de gestão florestal”, bem como os impactos das alterações climáticas, como “os principais fatores que contribuem para o declínio dos insetos que são importantes para a alimentação das aves”.
No que toca aos morcegos, que incluem algumas espécies insetívoras que, em vez de hibernarem, migram, o relatório destaca que as principais ameaças são “práticas insustentáveis” como o abate de florestas, a poluição luminosa à noite e as alterações climáticas, que podem “espoletar altos níveis de atividade dos morcegos no inverno” e reduzir a abundância de insetos, obrigado esses mamíferos alados a terem de gastar muito mais energia em buscar de alimento.
Diz o Secretariado da CMS que “os insetos e os animais insetívoros migradores que se alimentam deles são importantes para o funcionamento dos ecossistemas e fornecem serviços de ecossistema fundamentais, como a polinização”. No entanto, os especialistas reconhecem que “existem falhas no conhecimento sobre os impactos do declínio dos insetos” nas espécies migradoras e que “quantificar essas ameaças é difícil”.
Por isso, na cimeira de fevereiro, pretende apelar à implementação de medidas de conservação de insetos, como o combate aos usos insustentáveis do solo e à poluição da água, do solo e luminosa, promover uma agricultura mais diversificada para suportar comunidades heterogéneas de insetos, e “criar, manter, conectar e proteger habitats de insetos”.
A par disso, recomendará o aumento da monitorização das populações de insetos, sobretudo em locais onde se saiba que ocorrem espécies migradoras insetívoras.