Lisboa: Esgotos domésticos deixam de ser despejados no Tejo
O rio Tejo deixou de receber os esgotos domésticos de cerca de 120 mil residências da zona central de Lisboa, sendo que o sistema de saneamento do Tejo e do Trancão passou a canalizar os efluentes para a Estação de Tratamento de Águas Residuais de Alcântara. A mudança deu-se no início do mês, sem anúncio prévio.
Os moradores souberam do fim de “um dos maiores escândalos nacionais” através de panfletos deixados nas suas caixas de correio. “Ano novo, Tejo limpo! O fado do Tejo mudou!”, anunciavam os pequenos papéis, distribuídos pela Câmara Municial de Lisboa e pela Simtejo, responsável pelo sistema de saneamento. A inauguração oficial, no entanto, decorrerá apenas no próximo sábado.
Depois de anos a receber esgotos domésticos directos, sem qualquer tratamento, o Tejo, o maior estuário da Europa ocidental, está numa situação “grave”, que não se resolverá de um dia para o outro. No entanto, esta acção é importante, mesmo que ainda demore algum tempo até que os resultados comecem a fazer-se sentir, explicou Maria José Costa, bióloga no Centro de Oceanografia e professora catedrática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
“Acontece que o estuário, por ser dos maiores da Europa, tem um grande hidrodinamismo, que o favorece, e, com a ausência de descargas directas, deverá favorecer a sua biodiversidade”, explicou a especialista, em declarações ao Público. “Julgo que, no prazo de um ano, vamos ter um equilíbrio, uma resposta rápida dos ecossistemas”, continuou a investigadora, doutorada em Ecologia Animal.
A situação “podia estar pior”, mas, ainda assim, “é preciso realizar estudos experimentais sobre o que vai acontecer, é preciso ter cuidado com as lamas, que não devem ser mexidas, pois podem ter metais pesados”, alertou ainda Maria José Costa. As comunidades bentónicas (caso de muitas espécies de bivalves, “só podem melhorar”, assim como a comunidade piscícola, que tem encontrado mais problemas com as barragens do que com os focos de poluição. “Os sáveis, ou as lampreias, querem regressar aos locais onde nasceram e não conseguem”, critica a responsável.
Há 21 anos, enquanto candidato à presidência da autarquia lisboeta, Marcelo Rebelo de Sousa atirou-se às águas do Tejo, no sentido de chamar a atenção para a poluição daquelas águas. Só em 2009, é que foram interceptados os colectores oriundos da Baixa de Lisboa, numa primeira fase de quatro anos de obras e 100 milhões de euros. Numa segunda fase, foram construídas estações elevatórias e um emissário submarino, sendo que, em Dezembro, colocou-se um sistema de válvulas no Terreiro do Paço, que impede a entrada de água do Tejo no interceptor.