Como a indústria do óleo de palma está a tentar ser mais sustentável
Há um ano, a Wilmar International, maior produtor de óleo de palma do mundo, anunciou que iria deixar de promover a desflorestação, como resposta a várias pressões internacionais – incluindo da Greenpeace.
Passados 12 meses, a empresa foi elogiada pela organização pró-transparência CDP, num relatório sobre cadeias de fornecimento que não praticam a desflorestação. Segundo a CDP, a nova política da Wilmar – que também inclui a proibição de produzir palmeiras em área de turfa – vai poupar mais de 1,5 gigatoneladas de dióxido de carbono até 2020, o equivalente a todas as emissões de energia relacionada com dióxido de carbono da América do Sul e do Centro.
De acordo com o The Guardian, e ainda que todas estas políticas sejam meritórias, o verdadeiro desafio não está no comprometimento da Wilmar e das suas congéneres, mas nos agricultores independentes a quem a Wilmar compra um terço das suas matérias-primas.
Estes agricultores, que vivem muitas vezes em áreas remotas, são muito mais propensos a cortar ou queimar áreas de floresta para as suas plantações, utilizando químicos excessivos e outras práticas agrícolas insustentáveis.
“Os pequenos agricultores não têm capacidade [para mudar] e, por vezes, não têm alternativa””, explicou Simon Siburat, controlador de sustentabilidade de Wilmar.
Mas a Wilmar não é a única empresa a sofrer com esta falta de conhecimento por parte dos pequenos agricultores. Cerca de dois terços da produção global de óleo de palma provém de plantações com menos de 50 hectares ou seja, dos pequenos agricultores. Sem o apoio deles, o óleo de palma nunca será sustentável.
Os esforços para dirigir os pequenos agricultores para o caminho da sustentabilidade já se fazem sentir. A RSPO (Roundtable for Sustainable Palm Oil), uma entidade multissectorial, já reembolsa os custos da certificação dos pequenos agricultores.
Os negócios também têm os seus próprios planos para tornar o óleo de palma mais sustentável. A norte-americana Cargill desenvolveu uma iniciativa de três anos com a agência de desenvolvimento holandesa Solidaridad e o grupo ambiental malaio Wild Asia para treinar 2.900 pequenos agricultores em técnicas de gestão agrícola sustentável.
A Wilmar também está envolvida em projectos idênticos na Malásia – com a parceria da Wild Asia Group Scheme – e está a certificar agricultores numa área de 414 hectares. No entanto, os progressos são muito pequenos, uma vez que a área total dos pequenos agricultores estende-se por 600.000 hectares.
Um dos maiores desafios é promover a rastreabilidade: apenas uma minoria dos agricultores tem um contrato assinado, por isso é difícil perceber de onde vem a matéria-prima e se ela é sustentável. Por outro lado, os intermediários do processo gostam de manter a cadeia de fornecimento “cinzenta”, evitando que as grandes empresas percebam de onde vem a produção – só assim conseguem que os seus concorrentes e clientes não conheçam os seus fornecedores e não negoceiem directamente com eles.
Segundo o Guardian, o processo só ficará mais claro quando empresas como a Wilmar comprarem directamente aos pequenos produtores. “Está tudo relacionado com a ligação com o agricultor. A sustentabilidade é um desafio muito grande para os pequenos agricultores, por isso eles têm de ver a cenoura no final do processo”, conclui Simon Siburat.
Foto: Lian Pin Koh / Creative Commons