América Latina continua a liderar homicídios globais, mas crimes estão a diminuir nas grandes cidades
A América Latina continua a ser o continente com mais homicídios no planeta, mas enormes avanços nas infra-estruturas públicas, nos últimos anos, têm levado este número para baixo nas grandes cidades, de acordo com o Homicide Report, lançado esta semana.
Várias áreas metropolitanas conhecidas em tempo pelas mortes violentas, como Medellín e Bogotá (Colômbia), São Paulo e Rio de Janeiro (Brasil), viram as taxas de homicídios caírem mais de 60% nas duas últimas décadas, devido ao aumento do nível de vida, melhor educação, desaceleração da urbanização e policiamento mais eficaz, de acordo com os pesquisadores que publicaram o Homicide Report.
No entanto, o estudo avisa que os homicídios continuam “teimosamente” concentrados em comunidades pobres e as vítimas são sobretudo jovens do sexo masculino.
O Homicide Report pega nas estatísticas da UNODC (United Nations Office for Drugs and Crime) – que contém dados do Governo, institutos de saúde e polícia – e é compilado pelo Instituto Igarapé, um think tank do Rio de Janeiro que recebe financiamento da Open Society Foundation e do Peace Research Institute de Oslo, na Noruega.
O mapa revela que um terço dos 450.000 homicídios que ocorrem no Planeta todos os anos acontecem na América do Sul e Caraíbas, apesar de a região ter menos um décimo da população global. Na verdade, 14 dos 20 países com mais homicídios, no mundo, são na América Latina.
Os países com maiores taxas de mortes por número de habitantes são as Honduras, El Salvador e Venezuela. Se retirarmos os países com zonas de guerra, o Brasil tem o maior número de homicídios – 56.337 em 2012, o ano mais recente para as estatísticas.
Estes números significam que, teoricamente, uma pessoa tem 25 vezes mais probabilidades de ser assassinado no Brasil que no Reino Unido, mas na prática não é bem assim. Existem locais onde é mais fácil sê-lo que outros. “A violência não está distribuída irmãmente em todo o mundo, e ainda menos no Brasil”, explicou ao Guardian Robert Muggah, fundador do Instituto Igarapé. “A percepção que, nas cidades, todos correm o mesmo risco, está errada. Em muitas cidades norte-americanas, por exemplo, menos de 5% das moradas são responsáveis por 75% da violência. Em Bogotá, 98% dos homicídios ocorrem em apenas 2% das ruas”, explicou.
De acordo com o responsável, os surtos de violência são mais comuns em zonas urbanas, áreas com que crescem rapidamente e ainda se encontram pouco reguladas e com grandes densidades populacionais e muitos novos residentes. Ao contrário de outros bairros e ruas há muito tempo conhecidas, estas outras comunidades não são uma prioridade para a polícia e governo local.
FACTOS
450.000 pessoas são assassinadas todos os anos no Planeta – 6,7 homicídios por 100.000 habitantes
78% das vítimas globais são homens, mas na América Latina e Caraíbas esta percentagem sobe para 85%
8% da população global vive na América Latina e Caraíbas, mas a região é responsável por 33% de todos os homicídios do mundo
14 dos 20 países mais perigosos do mundo – com mais homicídios – encontram-se na América Latina e Caraíbas
As cidades mais perigosas da América Latina e Caraíbas estão localizadas nas Honduras (San Pedro Sula), México (Veracruz, Acapulco, Nuevo Laredo, Tórreon), Belize, Brasil (Ananindeua e Maceió) e Colômbia (Palmira).
O país mais seguro da América Latina e Caraíbas é o Peru, com “apenas” 2,74 homicídios por 100.000 pessoas em 2013. Apenas 10 países na região têm taxas de homicídios/100.000 pessoas inferior a 10: Chile, Cuba, Argentina, Suriname, Peru, Barbados, Uruguai, Dominica, Costa Rica e Paraguai.
Foto: Matthew Straubmuller / Creative Commons