Ainda há tempo para mundo agir contra crise climática, mas pouco



O presidente do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC na sigla em inglês), Jim Skea, admitiu ontem ainda haver tempo para o mundo agir contra a crise climática, referindo que há ferramentas disponíveis para tal.

O IPCC tem alertado que a janela para impedir um aquecimento global do planeta que pode ser catastrófico para a humanidade está a fechar-se muito rapidamente, e que é preciso reduzir rapidamente as emissões de gases com efeito de estufa (GEE).

Ontem, questionado pela agência Lusa em Lisboa sobre quando se fecha essa janela, o presidente da instituição disse que ela está neste momento “muito, muito perto de se fechar” e que a resposta exata sobre quando está “absolutamente fechada” será conhecida certamente nesta década.

Jim Skea falava à Lusa no âmbito da participação na capital portuguesa na cerimónia da entrega do Prémio Norte-Sul do Conselho da Europa, que distinguiu este ano o IPCC, e a Associação das Cidades Ucranianas.

O IPCC é uma instituição científica na esfera da ONU que sintetiza e divulga a principal informação sobre alterações climáticas. Tem produzido relatórios e o seu trabalho é, segundo o Conselho da Europa na justificação do prémio, crucial na sensibilização para a necessidade premente de agir a nível mundial contra as emissões de GEE.

À Lusa o responsável máximo do IPCC lembrou o relatório de 2018 sobre as alterações climáticas, no qual se dizia que era preciso que medidas imediatas fossem tomadas. Como “não foram tomadas medidas imediatas isso reduziu certamente a probabilidade de podermos limitar o aquecimento a 1,5ºC”, advertiu.

Impedir que a temperatura global aumente acima dos 1,5ºC em relação à época pré-industrial tem sido um marco assinalado pelo IPCC, alertando para as alterações climáticas devido ao aumento das emissões de GEE causadas pelas atividades humanas.

Hoje nas declarações à Lusa Jim Skea frisou que ainda é possível controlar esse aumento de temperatura e lembrou que estão nos relatórios do IPCC muitas medidas que poderiam ser implementadas a curto prazo e que poderiam reduzir as emissões de GEE para metade.

Desde logo as energias renováveis, eólica e solar, provavelmente no topo da lista e que a última cimeira do clima projetou para que triplicassem até 2030, mas também a redução das emissões de metano, a redução da desflorestação e o aumento da florestação, um tema que será abordado na COP30, a cimeira da ONU que se realiza no Brasil dentro de dois anos.

São opções que estão disponíveis agora e que se forem usadas ainda é possível conter o aumento da temperatura, referiu. Como também a gestão dos solos na agricultura, porque, garantiu, “se forem postas em prática as práticas agrícolas corretas os solos podem realmente absorver mais carbono e remover carbono da atmosfera”.

Jim Skea dá mais exemplos, fala da recuperação das zonas húmidas no norte da Europa, fala das legislações nacionais, das ferramentas que existem e que só precisam de ser usadas.

No entanto, segundo os últimos dados disponíveis, as emissões de GEE, apesar de todos os avisos, continuam a aumentar. Estará o IPCC a ser ignorado?

Jim Skea disse que não. E deu o exemplo do relatório especial sobre aquecimento global de 1,5ºC publicado há cinco anos. “Foi o relatório que introduziu o conceito de emissões líquidas zero no mundo. Agora muitos países estabeleceram objetivos de emissões líquidas zero para meados do século XXI”.

E novos relatórios? O responsável adiantou que em 2026 deverá ser publicado um relatório sobre alterações climáticas e cidades. E que sobre outros documentos só será tomada uma decisão dentro de cerca de um mês, quando de uma reunião do IPCC em Istambul, na Turquia.





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