Alterações climáticas principal causa da perda de biodiversidade em 2050



As alterações climáticas podem tornar-se a principal causa da perda de biodiversidade a meio do século, mais do que as mudanças na utilização dos solos, alerta um estudo divulgado hoje.

Publicado na revista científica “Science”, e com a participação de cientistas portugueses, o estudo começa por dizer que a biodiversidade global diminuiu entre 02 e 11% ao longo do século XX, devido apenas às alterações no uso dos solos. A destruição de uma floresta para usar o terreno para agricultura é um exemplo de alteração de uso do solo.

Mas os resultados da investigação, indica um comunicado divulgado pela Universidade de Coimbra, mostraram que as alterações climáticas vão ter um “impacto negativo acrescido” tanto na biodiversidade, como nos serviços dos ecossistemas (os benefícios da natureza).

“Embora as mudanças na utilização dos solos continuem a assumir um papel relevante, as alterações climáticas tenderão a tornar-se na principal causa da perda de biodiversidade até à primeira metade deste século”, alerta-se no documento.

O estudo, o maior com recurso a modelos climáticos realizado até à data, foi liderado pelo Centro Alemão de Investigação Integrativa da Biodiversidade (iDiv) e pela Universidade Martin Luther de Halle-Wittenberg (MLU), tendo a participação de investigadores portugueses, entre eles o docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC) Carlos Guerra, e o investigador do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto Henrique Pereira.

As mudanças do uso do solo, devido à agricultura ou ao avanço das cidades, por exemplo, são das principais causas para a perda de biodiversidade mas, diz-se no comunicado, a real dimensão desse declínio nas últimas décadas tem dividido os cientistas.

Para melhor responder a essas dúvidas os cientistas usaram modelos climáticos e compararam 13 modelos para calcular os impactos das mudanças na utilização dos solos e das alterações climáticas em quatro indicadores de biodiversidade diferentes, e em nove serviços de ecossistemas.

Citado no documento, Henrique Pereira diz que a inclusão de todas as regiões do mundo no modelo permitiu melhores resultados.

Os investigadores usaram também outros modelos para calcular o impacto simultâneo das alterações do uso do solo nos chamados serviços dos ecossistemas, os benefícios que a natureza disponibiliza aos seres humanos.

Foi com base nesses estudos que a equipa concluiu pela tendência da relevância das alterações climáticas na perda de biodiversidade.

Avaliando três cenários, entre um de desenvolvimento sustentável e um de emissões elevadas de gases com efeito de estufa, os investigadores concluíram que nos três casos “a conjugação do impacto das alterações do uso do solo e das alterações climáticas resulta numa perda de biodiversidade em todas as regiões do mundo”, com variantes significativas entre regiões, modelos e cenários, refere o comunicado.

“Este estudo ilustra de forma muito clara os impactos que resultam das ações humanas sobre o planeta e sobre a biodiversidade da qual nós dependemos e a dimensão das alterações que estão a ocorrer um pouco por todo o mundo”, diz, citado no comunicado, Carlos Guerra.

Admitindo que os cenários não recorreram a todas as medidas possíveis e que “haverá certamente imprecisões” nos modelos, os investigadores deixam ainda assim um aviso: “Os nossos resultados mostram claramente que as políticas atuais são insuficientes para atingir os objetivos internacionais em matéria de biodiversidade. Precisamos de esforços renovados para fazer progressos contra um dos maiores problemas do mundo, que é a perda da biodiversidade provocada pela ação humana”.





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