Artigo de opinião de Fernando Torgal*: quais os verdadeiros impactos ambientais do betão?



Os impactos ambientais do betão incluem não só a extracção de matérias-primas não renováveis (agregados, argilas e calcários), mas fundamentalmente a destruição da biodiversidade existente nos locais de extracção das matérias-primas.

Como o custo dos agregados aumenta de forma considerável com o aumento do custo de transporte (a cada 50km o seu valor quase duplica), é necessário fazer extracções de agregados em zonas perto dos locais de construção, o que leva a uma elevada proliferação de pedreiras e a um agravamento do fenómeno da perda de biodiversidade.

Tenha-se presente que o actual ritmo de extinção de espécies na Terra é cerca de 100 vezes superior à média paleontológica. A União Mundial para a Conservação refere a existência de cerca de 140 espécies ameaçadas em Portugal, sendo o país europeu com o maior número de espécies nesta situação.

Seria necessário proteger uma área do território nacional quase quatro vezes superior ao somatório das áreas protegidas com a Rede Natura 2000 para impedir a extinção dessa espécie, o que demonstra bem a importância de reduzir os impactos associados à actividade extractiva.

Relativamente ás emissões de CO2 do betão, estas devem-se quase exclusivamente à produção de cimento Portland e subdividem-se basicamente em duas parcelas, uma parcela relativa às emissões de dióxido de carbono de origem química (0.55 ton./ton.), que são provenientes da calcinação do calcário a aproximadamente 1450 ºC,  e uma parcela relacionada com a queima de combustíveis para gerar a energia necessária a todo o processo industrial (0.3 ton./ton), o que perfaz um total de 0.85 ton. de CO2 por tonelada de cimento.

Como nos próximos 40 anos se prevê que o consumo de cimento Portland cresça dos actuais 3.000 milhões de toneladas/ano para 6.000 milhões de toneladas/ano, é importante investigar no sentido de reduzir os impactos ambientais deste material.

*Fernando Pacheco Torgal é doutor em Engenharia Civil pela UBI, investigador do Grupo de Construção Sustentável da Unidade C-TAC, da Universidade do Minho, e prepara-se para editar em breve o livro “Eco-efficient Concrete”, sobre a eco-eficiência do betão.





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