Cheila Almeida, LPN: “Que peixe comer?”



“PORTUGAL é um dos países onde mais peixe se consome a nível mundial, e é o país da União Europeia com o maior consumo anual por pessoa: 56 kg, quando a média da UE é 23 kg. A extensa costa, a grande tradição pesqueira e os hábitos culinários são algumas das razões que podem explicar a preferência dos portugueses por pescado. Mas, com um consumo tão grande de peixe, vem também uma elevada responsabilidade para Portugal quanto à exploração dos recursos marinhos.

O peixe é um dos últimos produtos selvagens utilizado na alimentação. Os animais alimentam-se e crescem de acordo com os seus ciclos de vida, no ambiente natural, e sem produtos químicos que suportem o seu crescimento. Para além disso, o peixe é uma fonte de proteína animal de excelente qualidade nutricional. Para continuarmos a ter peixe no prato é preciso gerir a pesca e definir as formas sustentáveis de produzir peixe a longo prazo.

Há duas formas essenciais para atingir a sustentabilidade: por um lado, precisamos de uma forte política, que limite a exploração acima das capacidades dos ecossistemas; por outro lado, precisamos de consumidores informados, conscientes e responsáveis, que saibam as consequências das suas escolhas.

Para que os consumidores possam ter hábitos responsáveis, é essencial que tenham acesso à informação sobre o que podem comprar. Só assim conseguirão criar pressão junto dos distribuidores e dos produtores e fazer opções conscientes. Mas nos dias de hoje não é fácil ser um consumidor responsável de pescado.

Num mercado globalizado, como acontece actualmente, é possível ter acesso a pescado proveniente de todas as partes do mundo, e a uma variedade enorme de produtos. Por isso, e porque a depleção dos recursos é uma realidade para algumas espécies, a procura por um consumo responsável de peixe tem sido crescente. Nesse sentido, surgiram entidades dedicadas a certificar os produtos do mar (www.msc.org); programas de divulgação ambiental (www.seachoice.org); e guias de consumo, que definem critérios de sustentabilidade para classificar as espécies (www.montereybayaquarium.org/cr/seafoodwatch.aspx).

Mas ainda assim não é fácil para o consumidor compreender e memorizar tanta informação. As classificações dos guias de consumo podem variar ao longo do tempo e conforme a região do mundo onde nos situamos. E a origem ou o tipo de processamento que os produtos do mar sofrem pode ser importante para justificar a sua sustentabilidade.

Por exemplo, uma conserva de atum pode ter atum de uma espécie entre as várias que existem (em Portugal há pelo menos 5 espécies), pode ter sido capturado de formas diferentes (o atum dos Açores é capturado com a arte de pesca salto-e-vara:  www.horta.uac.pt/projectos/cepropesca/index.htm), e pode ter um tipo específico de certificação, como o rótulo Dolphin Safe, que assegura apenas que não são capturados golfinhos (www.earthisland.org/dolphinSafeTuna/consumer/).

De qualquer forma, a melhor aposta é diversificar. E a costa portuguesa tem uma enorme variedade de espécies, cuja abundância e a qualidade varia sazonalmente, e por isso é possível optar por espécies menos exploradas e tão fáceis de confeccionar como as espécies mais populares.

Não existe ainda um guia específico sobre consumo sustentável de peixe dirigido ao consumidor português. Além disso, os supermercados portugueses ainda não apostam na comercialização de pescado certificado. Por isso, a Liga para a Protecção da Natureza – LPN, apoiada pela Fundação Calouste Gulbenkian, lançou o projecto Que peixe comer (www.quepeixecomer.lpn.pt). Neste website, é disponibilizada informação útil para quem consome peixe, mostrando o caminho que o peixe percorre desde que sai do mar até que chega ao nosso prato, e explicando como fazer escolhas mais sustentáveis.

O website disponibiliza informação sobre as 20 espécies de pescado mais consumidas e capturadas em Portugal. Mas para além da caracterização das espécies, incluem-se alternativas culinárias de preparação de peixe e hábitos que podem fazer a diferença. Os conselhos são simples: como procurar produtos menos processados, preferir peixe da região e da época, saber mais sobre a qualidade do peixe, e perguntar e exigir informação sobre o que está a comprar. Estas são algumas das recomendações que podem fazer de qualquer pessoa um melhor consumidor.

Não é necessário deixar de comer peixe para salvar os oceanos – há espécies que não estão em perigo e stocks que estão a recuperar – mas é importante alterar hábitos, reduzir, seleccionar e comer simplesmente o que o mar nos dá.”

Cheila Almeida, LPN





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