“É mil vezes mais barato poupar 1 kWh de energia do que produzi-lo”



O engenheiro Francisco Carriço será o único português a participar na conferência WSED (World Sustainable Energy Days), que se realiza na Áustria entre 27 de Fevereiro e 1 de Março.

O profissional irá participar na sessão de Posters, explicando um caso de estudo real sobre um edifício de energia zero, no distrito de Castelo Branco. O Green Savers falou com o responsável para perceber a importância da conferência, do projecto e como está a evoluir o mercado global de edifícios de energia zero.

Pode descrever-nos o case study que irá apresentar na Áustria?

Este caso de estudo diz respeito à análise energética de um edifício unifamiliar localizado no distrito de Castelo Branco. Numa fase inicial, elaborou-se um levantamento exaustivo de todos os pormenores que dizem respeito à arquitectura, térmica e consumos energéticos (através de uma auditoria). A fase estudo seguinte diz respeito à verificação das necessidades de energia para aquecimento, arrefecimento, águas quentes sanitárias e energia eléctrica.

Após a obtenção desses resultados, elaboraram-se comparações entre o método de cálculo térmico Português (RCCTE) e uma simulação dinâmica detalhada com perfis de ocupação reais.

Na fase final e após o modelo estar equilibrado, elaborou-se uma simulação de modo a obter os requisitos da casa passiva alemã e, por fim, transformar o mesmo edifício em necessidades de energia zero através da produção de energia solar fotovoltaica.

Em suma, passámos de um edifício com necessidades de aquecimento de 85 kWh/m2/ano (classe energética A+) para um edifício com necessidade de energia para aquecimento de 13 kWh/m2/ano, em que toda a energia eléctrica necessária, 15894 kWh/ano, é produzida in situ através de 44 painéis fotovoltaicos.

Como tem evoluído o mercado global de edifícios de energia zero. E o português?

Se incluirmos as casas passivas neste grupo de edifícios, podemos afirmar que há já bastantes modelos e casos de estudo na Europa, América do Norte. Em Portugal, inclusive, terminaram-se recentemente as primeiras casas com os requisitos da casa passiva alemã.

Se formos mais longe e falarmos apenas em edifícios de energia zero, ou edifícios positivos, o trabalho feito é ainda reduzido. É um mercado muito desconhecido que envolve imensas técnicas de construção e técnicos muito especializados em diversas áreas, o que nos leva a construir equipa de especialistas em edifícios e orçamentos elevados na conceção dos projetos e um custo de construção cerca de 1/3 superior.

No entanto, há resposta para esse tipo de edifícios, há ferramentas, técnicos, vontade e os resultados são indiscutivelmente a favor da natureza e da não utilização de recursos fosseis. Penso que há muito por fazer mas estamos no bom caminho e a nova directiva para o Desempenho Energético dos Edifícios (EPBD) caminha nesse sentido.

Quais as principais tendências deste mercado?

Eu diria que a tendência principal deveria ser poupar, pois é mil vezes mais barato poupar 1 kWh de energia do que produzi-lo, mesmo através de fontes renováveis.

Na sequência dessa afirmação, as principais tendências caminham no caminho da casa passiva, que são edifícios estanques com orientações solares bem organizadas, baixos coeficientes de transmissão térmica, elevada inércia, baixa difusividade, elevado recurso a energias renováveis, recuperação de calor com h>0.8, iluminação de alta eficiência (boa relação Lm/W) e todo um conjunto de técnicas que garantam conforto a custos reduzidos.

Em relação à iluminação LED, o que já se faz de interessante em Portugal?

Curiosamente, tenho assistido à evolução da iluminação LED desde o início da sua apresentação em Portugal e havia, inicialmente, opiniões contraditórias entre as empresas e os engenheiros de iluminação. No entanto, penso que neste momento essas divergências foram ultrapassadas.

A iluminação LED está para ficar, apresenta elevada eficiência energética, o que se traduz em bons níveis de iluminação com baixo consumo, baixas temperaturas e ainda elevada duração. Tenho lido algumas notícias da sua aplicação em parques públicos e a redução nas facturas de energia são significativas.

Recentemente testei uma lâmpada fluorescente tubular do tipo T8 mas LED, que além de não ter balastros tinha uma potência de 18W (metade do convencional). Após a sua medição, esta apresentava 450 Lux. Isto traduz-se numa luminária com elevada performance e que pode ajudar a poupar bastante na nossa fatura de energia.

Porque razão será o único português nesta conferência? Isso quer dizer que em Portugal ainda não se investe nestes temas?

Desconheço a razão pela qual sou o único português na conferência, no entanto tem-se feito bastante trabalho de investigação nesta área, em Portugal. No que diz respeito à aplicação prática deste conhecimento, estamos ainda bastante atrasados, talvez por falta de potenciais investidores ou por desconfiança das tecnologias. No entanto há standards e casos de estudo suficientes para garantir o seu funcionamento em plenas condições. Prevejo uma evolução significativa deste mercado com a sua integração na reabilitação e alguma em novos edifícios.





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