Metro de Pequim: 88km de filas e empurrões em bilhetes de 25 cêntimos (com FOTOS)



Viajar de uma ponta à outra da extensão da rede do metro de Pequim – do subúrbio de Suzhuang ao subúrbio de Fengbo – requer cinco mudanças de linha e quase três horas, mas muito pouco dinheiro. A viagem directa mais longa passível de realizar no metro é também uma das maiores bagatelas mundiais ao nível dos transportes públicos: 88 km por apenas 25 cêntimos.

Porém, efectuar este trajecto – e são milhares de chineses que o fazem diariamente – pode ser uma tarefa hercúlea. Todas as manhãs contabilistas, lojistas, investigadores, estudantes e muitos outros profissionais entretêm-se com os seus telemóveis ao mesmo tempo que disputam o pouco espaço disponível nas carruagens. As crianças remexem as mochilas sob o olhar dos pais cansados. Utilizadores inexperientes experimentam a sua primeira viagem de metro enquanto outros transportam os mais estranhos artefactos ou alimentos, como enguias em garrafões de óleo vazios. Mas há sempre o ar condicionado para refrescar os ânimos e espalhar as fragâncias dos desodorizantes recentemente aplicados pelo meio da multidão.

“O metro é o orgulho de Pequim. É a única razão para viver nesta cidade”, conta Liu Jinchang a Tania Branigan, repórter do Guardian. Liu Jianchang é director de vendas e tem um carro, mas prefere utilizar o metro para se mover em Pequim, já que muito mais fácil e rápido do que conduzir.

A bordo existem serviços de voz e informações e as carruagens estão equipadas com televisões, onde são exibidas as notícias, programas de entretenimento e informação pública. As estações são geralmente limpas, bem iluminadas e com indicações em mandarim e inglês, mas não tão glamorosas como as de Hong Kong. As estações mais antigas são um pouco mais pobres e pouco ornamentadas. Tal reflecte o sistema político vigente na China aquando da construção das primeiras estações. Segundo as ordens de Deng Xiaoping, antigo líder comunista chinês, “as estações não devem ser construídas como as do Metro de Moscovo. Devem ser sólidas e práticas e não extravagantes”.

É sob estas condições que dez milhões de pessoas viajam diariamente no metro de Pequim. Este vídeo produzido Guardian mostra o que é viajar neste transporte. Nos próximos seis anos e meio, a rede do metro deverá superar a extensão ocupada pelo Metro de Londres – que possui a maior extensão europeia a nível de quilómetros. Tal, significa que no futuro, o metro de Pequim transportará ainda mais pessoas e a tarefa de lá viajar será ainda mais complicada.

Recentemente, a gestão do metro instalou barreiras que guiam os utilizadores através de filas extensas, mas ordenadas, até serem revistados e poderem entrar no metro, o que piora ainda o tempo de utilização.

O maior metro do mundo

Os trabalhos de construção da primeira linha de metro em Pequim começaram só na década de 1960 e a maior parte das actuais linhas abriu portas apenas na última década. No entanto, o Metro de Pequim, com 465 km de extensão, é apenas suplantado pelo de Shangai. Em 2020, os planos de aumento da rede deverão conferir-lhe uma extensão de mais de 1.000km. A adição de 17 novas linhas fará do Metro de Pequim o maior do mundo.

Na última década, a população de Pequim aumentou meio milhão por ano, albergando actualmente cerca de 21 milhões de pessoas. Em 2020, deverá ter cerca de 25 milhões de habitantes, numa estimativa conservadora.

No entanto, apesar dos dez milhões de utilizadores diários, o metro é pontual e limpo e com poucas ocorrências de desastres. As tensões que este meio de transporte enfrenta actualmente são o reflexo do grande crescimento exponencial chinês e a falta de capacidade das grandes cidades de proporcionarem uma boa qualidade de vida aos seus habitantes.

Um metro para fins militares

O grande crescimento do sistema de metro de Pequim nas últimas décadas é explicado pelo grande crescimento populacional da cidade, que tal como outras grandes metrópoles chinesas, atrai milhares de migrantes pelas maiores oportunidades de emprego. Contudo, tanto as condições habitacionais como as de transporte não conseguem suprir as necessidades deste crescimento populacional.

Em 2006, o metro de Pequim transportava apenas 1,5 milhões de pessoas diariamente, o equivalente ao total de passageiros transportados em todo o ano de 1971. Um dos factos mais interessantes sobre o metro de Pequim é o facto de inicialmente ter sido construído para fins militares. Na sequência dos bombardeamentos aéreos dos Estados Unidos à Coreia do Norte e depois à Guerra do Vietnam, os comboios seriam utilizados, em caso de ataque, para evacuar os residentes de Pequim e dos seus subúrbios para a região montanhosa a oeste de Pequim e de lá para outras partes da China. Chegou mesmo a ser construída uma linha de teste em Lop Nor, para se saber se os túneis aguentariam um ataque com bombas nucleares.

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