Minuto Verde: 12 anos de conselhos ambientais na tv



Minuto Verde: 12 anos de conselhos ambientais na tv

12 anos; quase 52 horas de emissão; 1 mensagem de 150 palavras em 60 segundos; 3115 episódios emitidos desde 2006; audiência aproximada de 400 mil telespectadores só em Portugal; emissão em 4 canais: RTP1, RTP3, RTP Internacional e RTP África e episódios especiais em 5 países CPLP.

Estes são alguns dados sobre o Minuto Verde, o conhecido projecto da associação Quercus, que ao longo de mais de uma década tem dado valiosos conselhos ambientais aos portugueses. Falámos com Sara Campos, responsável pelo projecto, para fazer um balanço desta iniciativa, bem como olhar com expectativa para o futuro.

Mais de uma década depois do primeiro episódio, que balanço fazem da rubrica Minuto Verde?

Olhando para os 12 anos do Minuto Verde, o balanço é muito positivo e gratificante. Em primeiro lugar, porque esta parceria entre a Quercus e a RTP é um caso raro, considerando que temos o privilégio de manter um espaço de antena desde 2006, todos os dias úteis, num canal generalista e num horário/programa informativo que é visto por milhares de pessoas, tanto em Portugal como a nível internacional.

Sempre tentámos fazer por merecer essa confiança e liberdade, apostando em conteúdos e em temáticas que sirvam o propósito da educação ambiental. Temos sempre como linhas orientadoras as principais áreas ambientais nas quais os cidadãos podem agir para reduzir a sua pegada ecológica no dia-a-dia e acompanhado o que se vai passando na actualidade. 

Acho que é justo afirmar que o amadurecimento do Minuto Verde acompanhou a evolução dos temas ambientais na sociedade portuguesa ao longo destes 12 anos e foi também um reflexo do crescimento da própria Quercus no seu trabalho diário de defesa do ambiente. É com satisfação que continuamos a receber um bom feedback tanto por parte dos telespectadores, como de entidades que nos contactam numa perspectiva de parceria.

O que mudou no panorama ambiental português nestes últimos dez anos?

Apesar de haver ainda trabalho a fazer e conquistas a alcançar, a defesa do ambiente e a aposta no crescimento sustentável passaram a integrar os planos de investimento e desenvolvimento a nível local, regional e nacional. De certo modo, isso reflecte-se nos temas que foram entrando no alinhamento do Minuto Verde. Enquanto, há 10 anos, a rubrica focava essencialmente conselhos com vista à mudança de comportamentos por parte das pessoas no seu universo individual (casa, trabalho, cidade), agora serve também como montra para divulgar iniciativas, medidas, projectos, tecnologias, espaços que surgiram e resultaram de um investimento na sustentabilidade por parte de autarquias, empresas ou governo.

Em função desta evolução, discutem-se hoje questões que há uma década não se pensavam da mesma forma, como, por exemplo, a problemática dos plásticos descartáveis e do impacto que estão a ter no meio marinho. Há também uma maior identificação e empenho dos cidadãos em defender o nosso património natural, como ficou visível na enorme adesão à campanha de reflorestação autóctone “Uma Árvore pela Floresta” desenvolvida pela Quercus e os CTT. Por fim, creio que há hoje uma maior consciência de como as questões ambientais têm influência directa na nossa vida, na nossa carteira e na nossa saúde, o que de certo modo tem vindo a deixar para trás a ideia errada de que a alteração de comportamentos individuais não produz efeito colectivo. Na era do digital e das redes sociais, é precisamente o contrário.

No livro recentemente lançado, o leitor é convidado a relembrar as principais áreas habitualmente focadas no Minuto Verde. Que conselhos ambientais ainda estão por dar nesta rubrica?

Existem sempre novas recomendações que podem ser dadas, na medida em que o mundo à nossa volta também muda, o nosso perfil de consumidor altera-se, a nossa relação com o meio evolui e, portanto, aparecem novos desafios e oportunidades na forma como nos relacionamos com o ambiente. Mesmo no que respeita aos conselhos mais simples de âmbito doméstico, que são, de certo modo, a génese do Minuto Verde, é sempre possível tornar a mensagem mais complexa e explorar os temas de forma mais específica, seja no âmbito da reciclagem, da redução do desperdício, ou da poupança de energia, economia de água, etc.

O facto de a sustentabilidade e da economia verde serem cada vez mais um pilar estratégico para empresas, autarquias, governos, etc., faz com que tenhamos literalmente todos os dias várias iniciativas, projectos ou políticas para divulgar e apresentar como bom exemplo.

Por fim, em comparação com o que se passava há 12 anos, temos ao nosso dispor uma quantidade enorme de informação e dados de qualidade, graças ao trabalho especializado da comunidade científica, das Organizações Não Governamentais e dos próprios organismos oficiais, que chega agora mais facilmente até nós.

O livro do Minuto Verde, que está à venda em 1000 livrarias em todo o país, é uma pequena amostra das recomendações transmitidas na rubrica e destina-se ao público em geral, que tenha interesse em explorar os temas ambientais e agir no seu dia-a-dia para reduzir o impacte das suas escolhas no planeta.

Em breve o Minuto Verde ganha asas e chega às escolas com o projecto piloto “Minuto Verde Vai à Escola”. Que projecto é este?

Sim, na verdade o projecto “O Minuto Verde Vai à Escola” já está a acontecer e a ideia surgiu porque achámos que havia potencial para pegar num formato consolidado e no nosso know-how enquanto equipa para sensibilizar um público mais jovem que, habitualmente, não assiste ao Minuto Verde na televisão.

Felizmente, a nossa ideia conseguiu o apoio financeiro do Fundo Ambiental e avançou no terreno. O objectivo passa por envolver os alunos do 8º ano do 3º Ciclo do Ensino Básico de seis escolas dos distritos de Lisboa e Portalegre na produção de conteúdos audiovisuais sobre temas ambientais, inspirados no formato da rubrica. Alguns vídeos já estão disponíveis no site do projecto. Este trabalho é desenvolvido no âmbito da disciplina de Ciências Físicas e Naturais. Com o apoio dos professores e também de um kit pedagógico fornecido pela Quercus (onde se inclui o Livro do Minuto Verde), os alunos desenvolveram guiões e foram apresentadores do seu próprio “Minuto Verde”.

Na nossa opinião, este projecto combina bem as vertentes pedagógica e criativa, sendo estimulante para os alunos porque podem ser protagonistas da sua própria mensagem em prol do planeta.

O que ainda está por fazer no ambiente em Portugal?

Há vários desafios, com diferentes níveis de dificuldade e prioridade. No plano da educação ambiental, seria importante que os temas da ecologia e da sustentabilidade integrassem os conteúdos programáticos de forma mais aprofundada e transversal aos vários níveis de escolaridade do ensino público.
Na esfera local, das cidades, têm sido dados passos importantes, nomeadamente ao nível da mobilidade alternativa. Contudo, há que dar o próximo passo e creio que ele passará por pensar as cidades e o seu desenvolvimento nas próximas décadas assentes na adaptação do espaço urbano às alterações climáticas, na criação de edifícios eficientes e inteligentes, na prioridade a veículos zero emissões e na promoção dos espaços verdes integrados na arquitectura e no ordenamento urbanos.
No plano nacional, destacaria a questão energética, onde Portugal tem sido um exemplo notável no que respeita ao crescente peso das energias renováveis na produção de electricidade, embora isso não deva esconder o facto de continuarmos a permitir a prospecção e exploração de hidrocarbonetos. É preciso virar de uma vez por todas a página dos combustíveis fósseis e começar a passar à prática a promessa do Governo português de sermos um país neutro em emissões de gases com efeito de estufa até ao final da primeira metade do século.

 





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