Negócio é sustentabilidade



Muitas vezes diz-se que a sustentabilidade é negócio. Eu diria que negócio é sustentabilidade. Porque uma coisa é dizer que os temas de sustentabilidade estão a abrir novas oportunidades económicas e financeiras, o que acredito ser verdade. Mas outra coisa é admitir o papel crítico do sector económico na mudança eficaz do sistema em que vivemos.

Parece-me evidente que a métrica-chave para avaliar uma transição real é o número de postos de trabalho existentes em actividades sustentáveis. Porque enquanto exigirmos a cada cidadão que escolha entre a subsistência da sua família e a sustentabilidade colectiva, ele irá escolher sempre a primeira. Colocando a sua participação em acções de impacto social ou ambiental em segundo plano, como um hobbie, e isso assumindo que tem verdadeiras motivações pessoais para o fazer.

A metodologia mais atual para implementar sustentabilidade na sociedade e empresas é, segundo a Stockholm Resilience Center, a de “valor sistémico”. Abandonando a abordagem anterior de “valor partilhado”, onde existia apenas numa pequena área que interceptava os valores ambientais, sociais e económicos. Numa abordagem sistémica os círculos são concêntricos: estando o negócio no centro, completamente dentro do círculo da área social que, por sua vez, está totalmente dentro do círculo dos limites ambientais. Isto torna claro o facto de que um negócio tem que estar, na sua raiz, totalmente alinhado com condições sociais e que condições sociais dignas apenas poderão ser alcançadas se tivermos a trabalhar dentro de limites ambientais.

Temos visto esta relação simbiótica muito evidente nos últimos tempos. Ao vivermos um episódio grave de saúde global, com a pandemia, temos sentido as desigualdades sociais a agravarem-se, o contraste de oportunidades económicas a acentuar, a falta de capacidade de entregar uma educação de qualidade a todas as crianças, entre muitos outros sintomas. Ao mesmo tempo têm se verificado relações evidentes entre inícios de pandemias nos últimos anos e a destruição de ecossistemas naturais próximos da origem dos vírus. Porque animais portadores de vírus vêm-se obrigados a aproximar-se de vilas ou cidades.

E isto é apenas um grão de areia numa grande rede sistémica. Governos têm que nos orientar com políticas e medidas fiscais e financeiras. Cidadãos têm que ditar o seu próprio futuro com as escolhas diárias que fazem. As empresas têm o papel fundamental de inovar e disponibilizar alternativas mais responsáveis do que as que estão no mercado. Aliás, é o sector privado que dita onde e como está a sociedade em geral a gastar o seu tempo.

Porque no final do dia, é nas nossas profissões que passamos grande parte da nossa vida. E é aqui que todas as nossas horas deveriam estar orientadas e dedicadas a actividades pro-sustentabilidade.





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