REPORTAGEM: A modernização dos portos como fator chave na transição climática
Na capital norueguesa, onde se contam emissões de dióxido de carbono como quem conta dinheiro, as metas climáticas da cidade têm como aliado o Porto de Oslo, que quer ser dos primeiros livres de emissões.
Quando se pensa num local agradável para passear, limpo e com pouco ruído, um porto talvez não seja o primeiro sítio que vem à cabeça, mas em Oslo, na Noruega, esta é já uma opção possível para quem escolhe deambular pela ‘promenade’ portuária, que vai ter mais de 1,5 quilómetros quando estiver concluída, devido aos terminais modernos e barcos elétricos do seu pequeno mas movimentado porto.
A ambição da cidade é reduzir em 95% as emissões poluentes até 2030, com medidas nos setores dos transportes, resíduos e construção, e o Porto de Oslo assumiu o compromisso de reduzir em 85%.
“É absolutamente possível, mas todos têm de contribuir”, disse aos jornalistas a diretora do Porto, Heidi Neilson, depois da visita de uma delegação portuguesa que integrou representantes de várias direções-gerais e administrações portuárias, promovida pela Direção-Geral de Política do Mar (DGPM) e o EEA Grants Portugal, em parceria com a Embaixada da Noruega em Lisboa e a Innovation Norway.
O primeiro exercício levado a cabo, explicou, foi no sentido de perceber a origem das emissões e, depois, então começaram a ser implementadas as medidas necessárias para as reduzir.
“Podemos reduzir talvez a metade das emissões com energia em terra para os diferentes segmentos de navios e, como se vê, somos o porto da cidade e a maior parte do tráfego de passageiros é agora totalmente elétrica ou com energia em terra”, referiu a responsável.
Já no que diz respeito ao transporte de mercadorias, “a tarefa é diferente”, apontou, destacando o papel crucial de novos combustíveis, como amónia e hidrogénio. “Precisamos de novos combustíveis para os navios maiores para chegar alcançar a redução em 85%”, vincou.
Para a responsável, o principal desafio para as empresas que trabalham com este tipo de navios é saber que combustível estará disponível, em quanto tempo e a que custo, para que possam tomar as suas decisões de investimento.
“Os donos das mercadorias têm de pedir novos combustíveis, para que possam reduzir as suas emissões, e os donos dos navios têm de sentir que a regulação à volta dos novos combustíveis e os custos são gerenciáveis”, defendeu Heidi Neilson.
No Porto de Oslo, os investimentos para a instalação de energia em terra, onde os navios se podem ligar à eletricidade enquanto estão atracados, deixando assim de gastar combustível fóssil, começaram a ser feitos antes de os clientes pedirem aquele tipo de soluções.
Quando aquela tecnologia passou a estar disponível no porto, a cidade pôde então começar a incentivar as empresas a aderir, isto é, não são obrigadas, mas se decidirem não usar as soluções eficientes disponibilizadas pelo porto, pagam mais.
“O próximo passo é incentivar quem investe em navios a tomar as decisões corretas, porque os navios que estão a ser construídos agora vão durar 30 ou 40 anos e é importante que façam a escolha ‘verde’ certa agora”, rematou a diretora do Porto.
Antes, numa apresentação à delegação portuguesa, a secretária de Estado do ministro dos Negócios Estrangeiros, Maria Varteressian, vincou que “os portos são impulsionadores-chave na transição energética”.
A governante, que esteve em Lisboa, em março, para participar na conferência sobre os oceanos “World Ocean Summit”, salientou que Portugal e a Noruega estão ambos no processo de modernização dos seus portos e podem aprender em conjunto.
“Os países da Europa, como a Noruega, Portugal e Estados-membros da União Europeia têm um papel importante para garantir que a transição é feita de forma justa e ordenada, ajudando os países em desenvolvimento a acompanhar a transição ‘verde’ que é muito necessária”, sublinhou a secretária de Estado, em declarações aos jornalistas.
Maria Varteressian admitiu que as metas climáticas são ambiciosas, mas disse acreditar que, em cooperação com a indústria, garantindo que o setor público e o privado contribuem, é possível atingi-las.