Seca ameaça folhagem da floresta mediterrânica



Segundo um estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, a folhagem da floresta mediterrânica está a diminuir desde há duas décadas, devido às alterações climáticas, que provocaram um aumento da frequência e intensidade dos períodos de seca. “Esta situação traduz-se numa diminuição generalizada da copa das árvores de todas as espécies”, adianta a investigação.

“As plantas têm menos folhas porque têm menos água, ou seja, adaptam-se à quantidade de água que dispõem”, explicou um dos autores do artigo, Josep Peñuelas, director da Unidade de Ecologia Global da Agência Estatal do Conselho Superior das Investigações Científicas (CSIC), em Espanha, onde foram realizadas as observações da pesquisa.

Os cientistas espanhóis e holandeses estudaram séries meteorológicas entre 1987 e 2007, nas matas espanholas, onde foi observada uma diminuição do número de folhas na azinheira, no pinheiro-do-alepo, entre outras espécies arbóreas. As árvores da bacia do Mediterrâneo “entram em stress” e, como acabam por não recuperar, pressionam ainda mais os ecossistemas daquela zona, como as comunidades de insectos e fungos associados às espécies vegetais.

“É o caso dos cogumelos que crescem nas raízes das árvores e os insectos predadores e parasitas que se alimentam de tudo isto, que podem ser levados ao colapso, por falta de alimento”, esclareceu Jofre Carnicer, do Centro de Estudos Ecológicos e Evolutivos da Universidade de Groninga, na Holanda, alertando para as consequências que se prolongarão durante anos, mesmo depois de finalizada a seca.

Já João Santos Pereira, professor e investigador do Instituto Superior de Agronomia, admite que o fenómeno é observado também em Portugal, sobretudo “a sul do rio Tejo”, mas também em certas regiões do Alentejo. No entanto, no caso português, que ainda não foi profundamente investigado, não se sabe se as causas para este problema são a seca ou uma relação entre a seca e o ecossistema onde as espécies vegetais estão integradas.

Há comunidades de azinheiras e sobreiros que estão doentes e “pode ser que haja doenças que estão introduzidas há algum tempo, mas que ganhem força com o aumento de temperatura”, sugere o investigador português. Não há uma fórmula milagrosa para contornar o problema, além de uma “gestão florestal que tenha em conta estes fenómenos”, adianta ainda Santos Pereira, em declarações ao Público.





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