Quando o tempo voa: Animais pequenos, voadores e predadores são os mais rápidos a detetar mudanças à sua volta
Quem nunca sentiu que o tempo parece ‘voar’, especialmente quando se faz algo de que se gosta muito ou quando há algum prazo a cumprir? Uma nova investigação científica dá um novo sentido a essa velha expressão popular.
Kevin Healy, da Universidade de Galway, na Irlanda, estudou mais de 100 espécies de animais para perceber as diferenças no que é conhecido como “a perceção temporal”. Por outras palavras, o objetivo era compreender quão rapidamente diferentes espécies conseguem perceber mudanças no meio envolvente.
As observações permitiram concluir que animais com estilos de vida mais acelerados estão dotados de sistemas visuais que lhes permitem detetar mudanças muito mais rapidamente do que outros, sendo que insetos alados e predadores marinhos surgem no topo da lista.
As libelinhas e as moscas são, de longe, as que conseguem detetar mudanças no seu campo de visão com a maior rapidez, cerca de quatro vezes mais velozmente do que os humanos. No que toca aos vertebrados, foi possível perceber que o papa-moscas (Ficedula hypoleuca) e o salmão têm as visões mais ‘velozes’ desse grupo. Por isso, o cientista aponta que os animais mais pequenos, que tenham asas ou que sejam predadores marinhos têm, geralmente, uma maior capacidade para detetar mudanças no ambiente que os circunda.
Explica Healy que ter “uma perceção tão detalhada das mudanças é muito útil se precisamos de nos mover rapidamente ou precisamos de definir muito bem a trajetória de uma presa em movimento”. Assim, se as presas forem capazes de detetar muito rapidamente mudanças no meio que as envolve, é muito provável que os seus predadores também apresentem essa capacidade.
“Ao abranger um amplo leque de animais, de libelinhas a estrelas-do-mar, as nossas descobertas mostram que a perceção que uma espécie tem do próprio tempo está relacionada com a velocidade com que o seu ambiente pode mudar”, destaca o investigador, apontando que “isto pode ajudar-nos a compreender as interações predador-presa ou até como aspetos tais como a poluição luminosa podem afetar algumas espécies mais do que outras”.
Traçando uma comparação entre os reinos aquático e terrestre, a investigação dá conta de que muitos predadores em terra tendem a ser mais lentos a detetar mudanças no meio envolvente do que os predadores que habitam os mares e a água doce. Healy sugere que essa diferença pode ser explicada pelo facto de os predadores aquáticos, quando perseguem uma presa, têm uma margem muito maior para ajustar a sua trajetória durante a caça, enquanto “em ambientes terrestres, os predadores que se atiram às presas, como as aranhas saltadoras, não são capazes de fazer ajustes depois de saltarem”.
A rápida perceção temporal não é uma capacidade comum a todos os animais, pois além de ser bastante dispendiosa em termos energéticos, está também dependente da velocidade das ligações entre os neurónios e as células retinais que captam a luz.
Além disso, as diferenças não se observam apenas entre espécies. Dentro de uma mesma espécie, é possível que indivíduos tenham perceções temporais a ritmos diferentes, com os cientistas a argumentarem que, por exemplo, um guarda-redes será capaz de detetar mudanças mais rapidamente do que os seus colegas.
Os resultados a investigação de Healy ainda não foram publicados, mas as conclusões preliminares foram apresentadas esta semana na reunião anual da Sociedade Ecológica Britânica, em Edimburgo.