Rock in Rio: tem lettering vermelho, mas o coração bate verde!
O festival Rock in Rio Lisboa faz 20 anos. A inaugurar um novo espaço no Parque Tejo, a Sociedade Ponto Verde dá música à reciclagem de embalagens no RiR.
A vista sobre o rio Tejo assenta que nem uma luva ao nome do festival, Rock in Rio cuja 10.ª edição abrirá portas no Parque Tejo, inaugurado em 2023 para a Jornada Mundial da Juventude. Um recinto com 30 mil metros quadrados. “Esta dimensão permitiu construir palcos maiores e atrair artistas de maior peso”, diz Roberta Medina, vice-presidente executiva do festival numa visita guiada ao novo espaço para conhecer o roteiro de sustentabilidade. Este ano será uma edição especial, afinal comemoram-se os 20 anos do Rock in Rio, em Lisboa.
A cidade do rock vai proporcionar novas condições aos visitantes. O rosto mais conhecido deste festival diz que aumentaram em 40% o número de casas de banho comparativamente à Bela Vista — local onde anteriormente se realizava o festival, somando assim 480 WC, “das quais 12 são não binárias, ou seja, sem género” e ainda passadiços para pessoas com mobilidade reduzida, caso de pessoas em cadeira de rodas. Além disso, terão 39 espaços de alimentação e mais de 100 bebedouros. O que a nível de sustentabilidade é uma mais-valia, uma vez que “é uma forma de reduzir o volume de embalagens de garrafas de plástico”.
E se o mote deste festival é “Por um mundo melhor”, o tema da sustentabilidade é bandeira. Renovaram uma vez mais a parceria com a Sociedade Ponto Verde (SPV), que vem desde 2008, ano em que o Rock in Rio recebeu o selo 100R — sendo reconhecido no seu papel exímio na separação e encaminhamento de todos os resíduos gerados, unindo esforços para continuar a fazer do evento um exemplo de boas práticas ao nível da sustentabilidade e da reciclagem de embalagens
Uma das novidades são as embalagens gigantes, caso da “caixa de pizza” cuja mensagem é incentivar os festivaleiros a reciclar, levando-os a colocar as caixas de cartão das pizzas nos contentores azuis — antigamente devido à gordura que ficava na caixa não era aconselhável, mas já as pode deixar nesse ecoponto. Já os restos dos alimentos devem ser colocados no contentor castanho, indicado para os bioresíduos. Para evitar lixo no chão, haverão 14 ecopontos. Pelo parque andarão ainda dez mochileiros vestidos com as cores do ecoponto, a explicar onde se deverão colocar os resíduos.
Para Ana Trigo Morais, Ceo da Sociedade Ponto Verde “já não há desculpas para não reciclar. Há contentores espalhados por todo o recinto”, além disso, acredita que reciclar é uma missão de todos. Ainda no âmbito da alimentação, as sobras de comida serão doadas a pessoas carenciadas através da Refood4Good. Só os alimentos que não estiverem em condições é que serão encaminhados para compostagem.
A presença da SPV no evento será marcada de diversas formas: uma ativação da Acerta & Recicla onde no recinto da Sociedade Ponto Verde, através do jogo Rock The Recycle, quem visitar o stand será convidado a jogar e mostrar que é um verdadeiro “Recycling Star”. Ao provar o seu conhecimento sobre o tema, poderão habilitar-se a ir ao Rock in Rio Brasil, com viagem, estadia e bilhete incluídos. O vencedor desta oportunidade única (para duas pessoas) será anunciado dia 23 de junho, às 23h00. Roberta Medina tentou jogar cheia de estilo de roqueira. Até dançou com a guitarra, mas não conseguiu os pontos necessários, por pouco! “É difícil, mas pelo menos diverti-me imenso”, diz, a rir.
A SPV contribui ainda com estruturas para a correta separação dos resíduos e mochileiros com ecopontos móveis a circular pelo recinto, para maior conveniência na deposição de embalagens. “É muito importante estar próximos dos cidadãos para os relembrar que a reciclagem de embalagens tem de acontecer em qualquer momento e em qualquer lugar”, refere Ana Trigo Morais. Já Roberta Medina, afiança que “a parceria com a SPV é fundamental no apoio e evolução constante das nossas operações e na partilha de conhecimento para que possamos impactar toda a cadeia produtiva do festival e com isso ter cada vez melhores resultados na redução da geração e aumento da correta separação de resíduos nas diversas fases do evento, montagem, evento e desmontagem”.
Por seu lado, a CEO da SPV, acredita que “no Rock in Rio Lisboa, têm mais uma vez, a oportunidade única de mostrar que a sustentabilidade é uma missão de todos. Através das nossas iniciativas, queremos capacitar os festivaleiros com o conhecimento necessário para reciclarem corretamente as suas embalagens, onde quer que estejam. Juntos, podemos fazer a diferença e garantir que eventos como este continuam a ser excelentes exemplos de boas práticas ambientais”.
Roberta Medina afirma tentar reutilizar os materiais de um festival para o outro. “Mais de 70% das lonas serão armazenadas, sendo que nesta edição o festival vai aproveitar as lonas de outras edições. A madeira será 100% doada ou reciclada, assim como a relva sintética, a alcatifa e os tecidos”, explica. A rega do Parque Tejo Lisboa será feita com água+, água reciclada que sai da ETAR de Beirolas, evitando assim o consumo de água potável. Além disso, todos os WC estarão ligados à rede de esgoto. Até porque a proximidade ao rio implica ter cuidado também com a não poluição.
No entanto, Roberta Medina assume que este não tem sido um trajeto fácil. Quando começaram rumo à sustentabilidade muitas vezes se sentiu quase como uma ativista. Atualmente como o tema já está em cima da mesa e já não há retorno acana por ser mais facilitado. Diz também que em Portugal, em virtude da legislação europeia é mais fácil implementar um festival sustentável porque tudo está garantido.
Outro ponto que salientam na vertente da sustentabilidade é que os geradores do festival serão abastecidos com HVO ou gasóleo renovável da Galp, o que permitirá uma redução de 81,6% das emissões de carbono. A mobilidade é outro dos assuntos a ser refletido. Devido à localização o melhor será utilizar os transportes públicos. Será posto em prática um plano de mobilidade sustentável com foco na utilização dos transportes públicos e de shuttles próprios entre as estações de metro mais próximas e o recinto. Roberta Medina, explica que o Shuttle está a sair quase gratuito e que sairão da Gare do Oriente de cinco em cinco minutos. Se as pessoas se inscreverem na app Rock in Rio Lisboa (para download na App Store e na Google Play Store) pagarão um euro ida e volta em compra antecipada que reverte num copo reutilizável. As crianças até aos 12 anos não pagam. No dia de embarque o preço sobe para dois euros ida e volta, mas não sem direito ao copo. Outra novidade é que pela primeira vez haverá drones a garantir a segurança do recinto.
Um festival inclusivo é outro dos lemas do Rock In Rio, por isso quem tem incapacidade até 60% terá o bilhete oferecido ao assistente pessoal. Haverá ainda um ecrã com um intérprete de língua gestual. Por fim, na pala do Parque Tejo criada para acolher o Papa foi desenhado o “All Experience”, um espaço artístico imaginado pelo coletivo jovem do Rock in Rio, os sub30, associado ao projeto solidário “Por um Mundo Melhor”. Ali pode tirar muitas fotos, pois o espaço é muito instagramável.
A mensagem dos mais jovens é forte. Tem um complexo de espelhos onde cada um pode pensar no impacto, ou no reflexo que as suas ações têm no mundo. Com Lisboa como pano de fundo. Além disso, o projeto é assente em oito pilares: clima, consumo e produção sustentável, pobreza e dignidade, empreendedorismo, direitos humanos e igualdade, respeito e imigração, paz e educação para todos. Há um quizz no site do Rock in Rio que pode fazer, depois quando chegar ao festival mostra um QR Code e pode ganhar uma das oitos pulseiras. Estas também vão estar à venda na revista Cais, na TV 7 dias e na Maria. O dinheiro reverte para várias ONG associadas ao Rock in Rio, caso da Quercus, AMI, CPR, Banco Alimentar, CERCI, SIC Esperança, entre outros.
O festival contará com mais de 70 artistas de rua, como mágicos, caricaturistas, 32 bandas e cupidos a passear no recinto a identificar casais para dar o nó na Cupido House. A “capela” está lá, por isso pode realizar o sonho de casar como em Las Vegas e sair do festival de aliança no dedo, claro que de forma extraoficial. Terá um Elvis Presley e uma Amy Winehouse disponíveis para celebrar o enlace. É caso para dizer que pode haver música no coração!