Luís Filipe Borges: Partidário do planeta
Nos claustros do Convento de S. Francisco, em Santarém, ecoam as badaladas do sino da cidade: três da tarde. O dia de Luís Filipe Borges, apresentador, humorista e guionista, entre tantas outras, começou cedo com as gravações de Conta-me História, entretanto em exibição na RTP1. Na companhia do historiador Fernando Casqueira, o Boinas – como é conhecido – viaja no tempo e presencia alguns dos momentos mais marcantes do passado português. “É simultaneamente pedagógico e muito divertido”, resume.
Entre filmagens conversou sobre o ambiente, preocupação que tem há muito, acentuada pela participação no programa televisivo Desafio Verde que, de forma divertida, ensinava os espectadores a corrigirem comportamentos do dia-a-dia. “Fiquei assustado com o tamanho da minha pegada”.
Por isso tornou-se mais cuidadoso, reduzindo a duração dos banhos e a quantidade de água para lavar os dentes. Apoiante do Partido pelos Animais e pela Natureza, aderiu à iniciativa 2.as Sem Carne, que promove uma alimentação mais ecológica, abdicando do consumo de carne e peixe durante um dia da semana. “Confesso que ainda não deixei completamente. A minha namorada conseguiu e de forma muito rápida. Eu, também motivado por ela, reduzi drasticamente o consumo. Devo comer carne uma vez por semana, no máximo dos máximos duas vezes”. E privilegia as carnes brancas. “Porco não me lembro da última vez que comi e vaca, confesso o meu pecado, de vez em quando apetece-me um bife”. É um work in progress: “A tendência é para continuar, até porque ficaria com um terrível peso na consciência”.
Durante seis meses o apresentador foi convidado a conduzir um veículo eléctrico, o Nissan Leaf. Experiência muito positiva, com excepção para o (não) funcionamento dos postos de abastecimento (ver caixa “A postos?”). “Não cheguei a ficar apeado, mas passei uns sustos”, recorda. O test drive deixou-lhe bons hábitos que aplica no seu carro a gasolina. “Já não passo limites de velocidade, tornei-me muito mais cauteloso com o tipo de combustível que vou escolher e as médias de consumo. O que tento fazer é chegar com calma e baixar o consumo. Não só é bom para a nossa carteira como para o ambiente”.
Aliás, a poupança económica parece ser uma consequência da adopção de eco comportamentos. “Quando procuramos este tipo de alternativas, onde fazemos uma parte pequenina pelo planeta usando a criatividade, descobrimos que não só são menos poluentes como mais baratas”, sublinha.
Se os ritmos de trabalho permitirem, Luís Filipe Borges dá descanso ao automóvel. “Como faço muitas deslocações para espectáculos um pouco por todo o país, comecei a usar muito mais o comboio”. E sempre que possível anda a pé. Os Açores, de onde é natural, são o cenário perfeito para caminhadas. Apaixonado pelas nove ilhas elege, sem desprimor pelas restantes, o Pico: “Para quem chega, há uma sensação de proximidade, descoberta e contacto com a natureza como não conheço em mais lugar nenhum do país”. E fica o desejo de subir ao topo do ponto mais alto de Portugal: “Já tive vontade, mas ainda não tive coragem”.
Romântico q.b.
Sozinho ou acompanhado, em casa o apresentador gosta de criar ambientes acolhedores, preferindo velas às lâmpadas. “Luz em casa só as fundamentais”.
A postos?
Durante os seis meses em que conduziu um carro eléctrico a convite de uma marca, Luís Filipe Borges deparou-se com dificuldades no carregamento da bateria. “Além de serem muito escassos, os postos estão quase sempre avariados ou ocupados por carros “normais”, que não só não têm a mínima noção de civismo, como não têm nada que os obrigue a ter”, critica. Quanto à condução deste veículo, só lhe tece elogios.
Novos sabores
Luís Filipe Borges aderiu ao movimento 2.as Sem Carne, dinamizado pelo Partido pelos Animais e pela Natureza. E já inverteu o princípio: contam-se pelos dedos as vezes em que come carne. Adepto das lojas naturais, tem descoberto alternativas saudáveis e muito saborosas, como hambúrgueres de seitan e leite de soja. “Não imaginava que fosse tão bom”, reconhece.
Na conta certa
O conjunto de pequenos copos foi-lhe oferecido pela equipa do Desafio Verde, no qual participou. Têm a conta exacta de água necessária para se lavar os dentes, evitando desperdícios. “É uma coisa pequena, mas que gostei de aprender e que me ajuda na poupança de água”.
Partido com causas
Cidadão atento, o apresentador é apoiante do Partido pelos Animais e pela Natureza. “Entrei sobretudo por duas razões: uma, obviamente, ser partidário das causas, e a segunda colorir o meu tradicional voto branco. Por não me identificar com mais nenhum partido do espectro político português resolvi apostar simbolicamente num partido que merecia ter uma voz na Assembleia e tornar o meu voto útil dessa forma”.
Homem dos sete ofícios
Natural de Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Luís Filipe Borges rumou ao continente, onde se licenciou em Direito, na Universidade Clássica de Lisboa. Seguiu outros caminhos: escreveu textos no DN Jovem, uma crónica diária na Capital, foi criativo e actor em Zapping, exibido na RTP2 e considerado pelo jornal Público melhor programa nacional do ano 2000, jornalista em Fenómeno, guionista e apresentador de Serviço Público, também na RTP2, guionista da série Liberdade 21, entre outros. Revolta dos Pastéis de Nata, Sempre em Pé e 5 para a Meia-Noite são programas televisivos bem conhecidos do público. O currículo do Boinas inclui também passagens pelo teatro, a co-autoria de cinco espectáculos das Manobras de Diversão, a adaptação de peças como Frei Luís de Sousa e Cães Danados, ou a co-autoria do monólogo Stand-Up Tragedy, que valeu aos autores a Bolsa para Nova Dramaturgia da Fundação Calouste Gulbenkian. Mas há mais: cinema e escrita, com a publicação de livros como Sou português, e agora? e A vida é só fumaça, crónicas em revistas, jornais, rádio…
Este artigo foi originalmente publicado na Recicla nº10. Pode ler todas as edições da Recicla no site da Sociedade Ponto Verde, em http://www.pontoverde.pt/