André Cruz (Vulcano): “Para se massificar, a sustentabilidade precisa apenas do adequado investimento em comunicação”



O responsável pela área de prescrição da Vulcano explica, numa entrevista exclusiva ao Green Savers, que todos ficam a ganhar com as estratégias de construção sustentável, mas é necessário assegurar que o cliente final tenha “a informação correcta e completa sobre as vantagens económicas e ambientais desta opção”.

André Cruz, que estará presente na próxima terça-feira no seminário sobre os desafios e tendências da construção sustentável, organizado pela Sustentare e que tem o Green Savers como media partner, realçou ainda o investimento em I&D da Vulcano, que mantém, por outro lado, uma relação chegada com a Universidade de Aveiro.

Como podem os sistemas solares térmicos contribuir para edifícios mais sustentáveis?

Um dos vectores da sustentabilidade na construção é a optimização dos consumos energéticos inerentes à utilização dos edifícios. A água quente sanitária é uma componente significativa dos consumos energéticos de um edifício (principalmente no sector da habitação), e os sistemas solares térmicos conseguem fornecer uma importante fracção dessa energia de forma limpa, gratuita e inesgotável, recorrendo a uma energia endógena: a radiação solar disponível, em abundância, em Portugal. Os sistemas solares térmicos contribuem assim para o objectivo dos edifícios mais sustentáveis.

Há dois lugares comuns antagónicos quando se fala de sustentabilidade. O primeiro diz-nos que as estratégias de sustentabilidade ainda são caras, e por isso não fazem sentido serem desenvolvidas; o segundo sugere que há razões económicas e de negócio para escolher tecnologias e soluções sustentáveis. O que pensa sobre este assunto?

A sustentabilidade, dadas as especificidades do negócio da construção em Portugal, é uma escolha lógica do ponto de vista económico, precisando apenas do adequado investimento em comunicação para se massificar.

Vejamos: a grande maioria da actual construção de edifícios tem como destino comercial a venda dos imóveis a proprietários e estes recorrem, em grande maioria, a financiamentos bancários com prazos de pagamentos superiores a 20 anos.

Se o investimento inicial em sistemas e tecnologias de construção sustentáveis permite o seu retorno financeiro muitas vezes em menos de 10 anos, e raramente atingem os 20 anos, e se os proprietários não investem esse valor a pronto, mas sim diluído em prestações ao longo de 20, 30 ou 40 anos, conclui-se que o irrisório aumento na prestação mensal do empréstimo é, em cada mês, superado pela poupança proporcionada pela construção sustentável adoptada.

Sendo imediatamente vantajoso do ponto de vista económico para quem compra o imóvel, é também vantajoso para as empresas intervenientes na construção, pois permite a venda de um imóvel com maior valor por metro quadrado, e maior margem comercial, e acaba por ser também vantajoso para as empresas financiadoras do imóvel, que acabam por assegurar um valor global de empréstimo ligeiramente superior.

Para gerar este fluxo de mais-valias para todos, apenas é necessário assegurar que a informação correcta e completa sobre as vantagens económicas e ambientais desta opção chegam de forma adequada ao driver deste investimento – o cliente final.

Passa assim por se realizar o necessário investimento em comunicação. O interesse inicial estará do lado dos promotores imobiliários, e a concorrência natural acabará por disseminar esta opção no negócio da construção.

Qual a importância da sustentabilidade para a Vulcano?

A Vulcano, como marca atenta às necessidades dos seus clientes, aposta na inovação, fiabilidade e eficiência – atributos que os nossos clientes esperam de nós. Dado que a sustentabilidade é uma preocupação crescente dos vários intervenientes no nosso negócio, desde o cliente final, ao instalador, construtor ou promotor imobiliário, as tecnologias sustentáveis são um dos principais focos de investimento em I&D e uma das principais estratégias comerciais para o futuro.

Que soluções e tecnologias tem apresentado a Vulcano na área da sustentabilidade?

A Vulcano tem apostado no desenvolvimento de diversas soluções alternativas para as diversas necessidades dos seus clientes.

Assim, ao mesmo tempo que continua a inovar no seu sector tradicional dos gasodomésticos, com a introdução pioneira de esquentadores de condensação e a remodelação da sua gama de caldeiras de condensação, avançou em paralelo, nos últimos anos, com a introdução de uma gama de sistemas solares térmicos que lhe permitiu poder hoje afirmar-se como uma marca líder em Portugal também neste segmento.

Num passado mais recente, tem introduzido ainda soluções alternativas ao gás, tendo como base equipamentos de funcionamento eléctrico, mas de elevada eficiência, baseados no princípio e tecnologias de bombas de calor ar-ar (ar condicionado) e ar-água, assegurando a produção de águas quentes e climatização com a elevada fiabilidade e eficiência a que a marca habituou o mercado.

A Vulcano tem uma fábrica em Aveiro, cidade com um fortíssimo pólo académico. Qual a relação entre a Vulcano e a academia?

A Bosch Termotecnologia, empresa que produz e comercializa em Portugal a marca Vulcano, tem vindo a ser nos últimos anos a maior empresa do distrito de Aveiro em volume de facturação e um dos seus maiores empregadores. Tem naturalmente uma relação de partenariado com a universidade local, nomeadamente no recrutamento de jovens, na atribuição de estágios e até leccionando conteúdos em áreas da competência da empresa.

Costumam procurar inovações e novas soluções tecnológicas nas universidades portuguesas?

A Bosch Termotecnologia é o maior fabricante europeu de esquentadores e o terceiro maior a nível mundial, encontrando-se presente em mais de cinquenta países dos cinco continentes. Esta posição foi conseguida com base nas competências in house de desenvolvimento de produtos que constituíram inovações tecnológicas a nível mundial. Este desenvolvimento é feito, principalmente, pelo nosso departamento de desenvolvimento, complementado por competências existentes em universidades e institutos de I&D onde existem as competências necessárias ao desenvolvimento do nosso core business, o aquecimento de água, qualquer que seja a área geográfica onde estes se encontrem.

Qual a importância da I&D para a Vulcano e quantas pessoas trabalham diariamente no desenvolvimento de novas tecnologias e inovações sustentáveis.

Nos último anos o investimento em actividades de I&D tem ultrapassado os 3% do volume de negócios, tendo, em 2010, atingido oito milhões de euros e sido pedido o registo de 12 novas patentes. Esta atitude de orientação para a investigação está no ADN do nosso accionista, o Grupo Bosch, que é a empresa que mais patentes regista a nível europeu (17 patentes por dia). Actualmente o nosso departamento de desenvolvimento tem setenta colaboradores.

Como estão a reagir os sectores doméstico e terciário às vossas soluções de sistemas solares térmicos?

A reacção geral do mercado da construção aos sistemas solares térmicos, decorrente da regulamentação térmica em vigor, foi bastante positiva, com a necessária adaptação inicial de um sector bastante tradicional a uma nova realidade ultrapassada sem grande dificuldade. A gama de soluções solares da Vulcano, desenvolvida em função das especificidades do mercado nacional e dos seus clientes, foi e continua a ser muito bem aceite, facto demonstrado pela posição líder assumida pela Vulcano no mercado nacional, apenas cinco anos volvidos da introdução desta tecnologia na nossa regulamentação térmica como solução preferencial para a produção renovável de águas quentes sanitárias.

Tem-se desdobrado em conferências sobre o mercado solar térmico português. Como vê este mercado em Portugal?

Considero que é um mercado que evoluiu muito rápido nos últimos anos, fruto da já referida regulamentação térmica e dos programas de incentivo introduzidos, como a Medida Solar Térmica 2009. Estes vários factores em simultâneo alavancaram expressivamente os metros quadrados instalados em Portugal, e essa rápida evolução obrigou os vários intervenientes a uma muito rápida curva de aprendizagem e experiência, para fazer face às necessidades de instalação do parque imobiliário.

Creio que se pode dizer, hoje em dia, que essa curva de experiência começa a atingir uma fase mais estável, e os frutos dessa relativamente jovem maturidade começam a ser visíveis, com cada vez mais instalações bem executadas, com funcionamento comprovado e clientes finais satisfeitos, assegurando a credibilidade necessária para a afirmação deste novo mercado a longo prazo na construção em Portugal.

Como vê hoje o mercado da construção sustentável em Portugal?

Vejo a construção sustentável, em Portugal, como um tema de crescente preocupação e divulgação, acima de tudo ao nível dos Intervenientes na promoção imobiliária e dos intervenientes nos projectos de arquitectura e engenharia, ou seja, na concepção dos projectos e investimentos imobiliários.

Penso que ainda existe margem para um grande crescimento na divulgação e consciencialização dos restantes Intervenientes no sector da construção, como sejam os empreiteiros de construção, de instalação, e sobretudo os clientes finais.

O que é preciso mudar, no cluster da construção sustentável, a médio e longo prazo?

Na minha opinião, mais do que mudar, será necessário intensificar a aposta na divulgação concreta e realista dos benefícios sociais, ambientais e económicos na adopção de práticas de construção sustentável, incidindo o enfoque dessa divulgação sobre os últimos influenciadores das estratégias que os profissionais do sector adoptam – que são certamente os clientes finais.

Quais as expectativas que tem para esta conferência da Sustentare?

Esperamos que contribua, em linha com a questão anterior, para um maior esclarecimento das vantagens que a adopção de uma estratégia de construção sustentável pode oferecer a todos os intervenientes no negócio da construção, servindo por um lado para desmistificar algumas ideias pré-concebidas, e por outro para apresentar novas ideias ou visões que possam ser indutoras de novas formas de fazer negócios acima de tudo rentáveis, mas também social e ambientalmente responsáveis, no sector da construção.

Que case study irá apresentar? Já podemos saber?

Mais do que um case study, procuraremos apresentar uma análise concreta das actuais tecnologias empregues na construção, face aos actuais desafios que a regulamentação nacional nos oferece. Em paralelo, vamos analisar os futuros desafios que as directrizes europeias vão introduzir neste sector durante a próxima década, e perceber que soluções concretas existem do ponto de vista das tecnologias, para procurar responder às crescentes exigências na redução do consumo de energia primária do edificado.

O objectivo que procuramos deixar patente, no final, é que muitas das soluções já existem, algumas estão em crescente amadurecimento tecnológico, e acima de tudo é possível atingir as metas comunitárias estabelecidas, não se justificando neste caso o natural cepticismo que por vezes surge em alguns sectores tradicionais da nossa economia, quando sujeitos a algumas transformações do status quo existente.





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