Chimpanzés também bebem álcool



Já mostraram uma compreensão da linguagem e sentido de justiça e agora uma nova investigação científica revela que o primata mais próximo da espécie humana também partilha o gosto pelo álcool.

Porém, se o gosto pelo álcool é generalizado entre os humanos, nos chimpanzés só se verificou tal naqueles que habitam numa pequena floresta à volta da aldeia de Bossou, na Guiné-Conacri. A principal forma de álcool consumida por estes animais é o vinho de palma, que roubam à população local.

Os habitantes da aldeia de Bossou utilizam uma das espécies de palmeiras de ráfia para recolher a sua seiva. Perto da coroa, na base das folhas e onde crescem as flores, os aldeões fazem uma ferida e deixam um recipiente de plástico a apanhar a seiva, tapando com folhas para evitar contaminações. Os açúcares da seiva fermentam e são transformados em etanol – mais conhecido por álcool etílico. A recolha destes bidões é feita ao início e ao final do dia e a seiva extraída é consumida como está – uma bebida esbranquiçada, que geralmente é consumida nas 24 horas seguintes, muito apreciada pelas comunidades humanas locais.

Porém, os habitantes de Bossou não estão o dia todo a guardar as palmeiras onde deixam os bidões. É nessas alturas que os chimpanzés se aproveitam do esforço humano. “Os chimpanzés utilizam sempre uma ferramenta à base de folhas para beber, fazendo uma ‘esponja’ de folhas esmagadas ou dobradas com as folhas que são colocadas como protecção pela população local ou folhas que encontram nas redondezas”, lê-se no estudo, cita a BBC.

Alguns dos primatas bebem álcool suficiente para “produzir sinais visíveis de embriaguez”, descreve a equipa da primatóloga britânica Kimberley Hockings, da Oxford Brookes University e do Centro em Rede de Investigação em Antropologia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. A investigação decorreu ao longo de 17 anos e as suas conclusões foram publicadas num artigo na revista científica Royal Society Open Science. Na investigação participou ainda, entre outros, a primatóloga portuguesa Susana Carvalho, da Universidade de George Washington, nos Estados Unidos, e da Universidade do Algarve e Tetsuro Matsuzawa, director do Instituto de Investigação de Primatas da Universidade de Quito, no Japão, que criou a estação de Bossou em 1976.

Para que estes resultados pudessem ser publicados foram necessários muitos anos, porque ver os chimpanzés a beber vinho de palma, ainda que seja um comportamento, constante ao longo do tempo, é muito raro. “Apesar de a ingestão de vinho de palma pelos chimpanzés de Bossou já ter sido mencionada em alguns artigos científicos e livros, os investigadores de Borrou nunca tinham escrito um artigo centrado neste comportamento”, explica Kimberley Hockings. “Como é um comportamento bastante raro, exigiu observações de longa duração, para que os investigadores pudessem reunir os dados. Vi-os beber vinho de palma em quatro ocasiões e fiquei fascinada com este comportamento”, acrescenta.





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