Que impacte ambiental terá o coronavírus? A Quercus responde
Por Direção Nacional da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza
Será porventura uma situação transitória. E convém não esquecer que, na origem de um provável efeito positivo da crise do coronavírus no Ambiente, está uma notícia péssima e com consequências muito negativas e não mensuráveis para a saúde pública. Uma das consequências inesperadas do surto do novo coronavírus é termos, provavelmente como resultado, melhor qualidade do ar, mas temporariamente.
É um facto que, as restrições de viagens aéreas e as limitações de contacto, que envolvem naturalmente deslocações automóveis, para lidar com a epidemia do covid-19, resultarão num declínio substancial no consumo de combustíveis fósseis e na redução de gases com efeito de estufa que contribuem negativamente para a qualidade do ar e que influenciam as alterações climáticas.
Segundo dados no portal Carbon Brief, no final do mês de fevereiro, o consumo de eletricidade e a produção industrial (da China) estava já muito abaixo dos valores comuns, tendo em conta vários indicadores, o que produziu uma queda de pelo menos 25% na emissões de dióxido de carbono (CO₂) naquele país, com repercussões naturalmente no resto do Mundo. Uma vez que uma redução de 25% nas emissões da China é equivalente a uma redução global de 6%.
Mas, é preciso não esquecer, que uma queda de 25% das emissões na China apenas durante duas ou três semanas, representa uma redução mundial de apenas 1% (Carbon Brief). O que quer dizer que, ou este eventual impacto positivo não é a longo prazo e, ou se aproveita a crise para mudar comportamentos, ou mais tarde a recuperação económica poderá, provavelmente, ser ainda mais prejudicial.
Se por um lado esta pandemia mostra sinais positivos para o Ambiente por tempo limitado, a necessidade de proteção individual com máscaras e luvas levou ao consumo exponencial de materiais em plástico descartável, que após utilização (em meio hospitalar) terão necessariamente como destino final a autoclavagem e a deposição em aterro, por se tratar de um resíduo com risco biológico. Este aumento exponencial irá resultar certamente num aumento dos resíduos hospitalares do Grupo III, que são geridos em meio hospitalar, na medida em que os pacientes estão neste momento a ser atendidos e monitorizados desta forma.
É importante salientar que a partir do momento que os pacientes passem a ser tratados no seu domicílio, não existirá canais de recolha para estes resíduos, sendo o lixo indiferenciado o destino a ser dado aos mesmos, por falta de outra alternativa.
A corrida aos hipermercados poderá também provocar uma aquisição exagerada de bem perecíveis, que não sendo consumidos no tempo adequado poderá contribuir para a produção de desperdício alimentar.
Esta pandemia que está a parar o Mundo, irá inevitavelmente servir para repensarmos os nossos comportamentos, e até que ponto conseguimos mudar alguns hábitos na nossa vida, para além de poder contribuir para promover a discussão das políticas ambientais e governamentais adotadas por cada um dos países em matéria ambiental.”