Vestígios de componentes de protetores solares encontrados no Ártico



A poluição não tem fronteiras. Esta máxima tem sido proferida, desta e de outras formas, em vários fóruns dedicados à proteção da Terra para ilustrar que o que se faz numa ponta do planeta poderá ter consequências noutra.

E uma recente investigação vem reforçar essa noção, ao descobrir vestígios de componentes de protetores solares em amostras de neve recolhidas nos glaciares do arquipélago de Svalbard, no território da Noruega, na região do Ártico.

Num estudo divulgado na publicação online ‘Science of the Total Environment’, investigadores italianos e noruegueses revelam que esta é a primeira vez que contaminantes como octocrileno, oxibenzona, metoxicinamato de octilo e outros agentes usados em produtos para proteção da pele da radiação solar são encontrados em neve nessa região do planeta.

Investigadores recolhem amostras de neve em Svalbard, Noruega.
Foto: Federico Scoto, coautor do artigo

Marco Vecchiato, investigador da Universidade Ca’Foscari, em Veneza, e um dos principais autores do artigo, explica que a deteção de “contaminantes emergentes” – compostos químicos cuja presença no ambiente não tinha no passado sido considerada e que podem ser prejudiciais para a saúde humana e ambiental – em áreas remotas da Terra pode ser atribuída ao transporte atmosférico.

O cientista afirma, em comunicado, que as maiores concentrações desses químicos foram encontradas em neve depositada durante o inverno ártico, apontando que “no final do inverno, as massas de ar contaminadas da Eurásia alcançam o Ártico mais facilmente”.

Além disso, explica que, por serem usados sobretudo em produtos de cuidado pessoal para minimizar os danos causados à pele pelos raios ultravioleta emitidos pelo Sol, “esses contaminantes só podem vir de regiões continentais habitadas a menores latitudes”.

“Em Svalbard, durante a noite ártica, o Sol não nasce e os protetores solares não são usados”, saliente Vecchiato.

Os cientistas acreditam que esta investigação será importante para a criação e implementação de programas de monitorização da poluição do Ártico e para “a proteção do ecossistema local”, uma vez que outros estudos já revelaram que a presença desses contaminantes em ambientes aquáticos pode causar alterações endócrinas e hormonais potencialmente prejudiciais aos organismos.

Numa altura em que a temperatura média da Terra está a subir de ano para ano, é expectável que esses químicos, agora depositados em massas geladas, acabem por ser arrastados para o mar com as águas do degelo, impactando as formas de vida e ecossistemas que vivem nas águas gélidas do Ártico, onde as alterações climáticas estão a acontecer quatro vezes mais rapidamente do que em qualquer outra região do planeta.





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