São as pequenas acções que nos trazem um Planeta mais saudável (e vamos explicar porquê)
A certa altura, o artista português António Joaquim Ribeiro, mais conhecido por António Variações, cantava numa das suas músicas mais conhecidas: “É p’ra amanhã, bem que podias fazer hoje. Porque amanhã sei que voltas a adiar”. A frase é muito batida e pode ser aplicada em qualquer cenário, mas o que nos interessa, hoje e aqui nestas linhas, é falar de um futuro que, por agora, só existe nos estudos das Nações Unidas e outras organizações globais.
É um futuro onde as cidades vão ser inundadas por fugitivos do campo, onde 8.500 milhões de pessoas vão coexistir já em 2030 e muitos dos recursos que hoje damos como garantidos, em Portugal e outros países do primeiro e segundo mundo, pura e simplesmente desaparecerão.
Nesse futuro, a água não está garantida. Os alimentos faltarão nos supermercados. A transição dos combustíveis fósseis para as renováveis vai originar falhas regulares no abastecimento de electricidade e a crescente poluição, caso se mantenha em níveis proibitivos, tornar-nos-á em seres eternamente doentes.
No entanto, todos nós, cidadãos, adiamos acções bem simples e que nos podem levar para um caminho mais limpo, ambiental, económica e socialmente mais seguro.
Adiamos para amanhã medidas tão simples como mudar uma torneira que pinga constantemente, mantemos as lâmpadas obsoletas e que nos pesam – também – na carteira, desperdiçamos alimentos a uma velocidade que, moralmente, nos faz corar de vergonha – quando os podemos guardar e comer mais tarde – , e ignoramos a reciclagem porque o ecoponto mais próximo fica a 200 metros de distância.
A menos de uma semana do Dia Mundial do Ambiente, que este ano está a ser coordenado por Angola, muito ainda se encontra por fazer para tornar este Planeta num local, verdadeiramente, mais saudável. E, ao contrário do que se pensa, não é necessário mudarmos radicalmente o nosso estilo de vida para realmente ajudarmos – e por “nós” acrescentamos a nossa família e amigos porque, mesmo que não tenhamos essa noção, somos influenciados mas também influenciamos todos os que nos rodeiam.
Empresas lideram transição sustentável
Mas não somos só nós, caro leitor e consumidor, que somos alvo de escrutínio diário. As empresas – principalmente estas – são as líderes nesta transição verde. São elas que têm de colocar a inovação sustentável nas suas agendas e devem comercializar, a preços justos, os produtos e objectos que nos levam a tomar decisões mais sustentáveis no dia-a-dia. E, se possível, a ajudarem-nos a mudar.
Muitas já o fazem, é verdade, mas a decisão final estará sempre em nós, consumidores, na hora e decisão de compra. “Há marcas que já estão a seguir o caminho da economia circular, na maioria dos casos devido à força e pressões dos consumidores. São eles que querem melhores produtos e estão a liderar a economia nos nossos dias”, disse recentemente ao Green Savers Riet Otto, que em 2012 fundou a empresa de têxteis Dutch aWEARness, ligada à sustentabilidade e economia circular. Outras empresas mais tradicionais – leia-se antigas –, como a Phillips, apostam mudança radical do modelo de negócio de algumas subsidiárias. Na sua área de saúde, a Phillips já desenha produtos para uma fácil desmontagem, possibilitando uma maior taxa de recuperação de peças e componentes para posterior reutilização. Segundo explicou em Fevereiro Raquel Rebelo de Mira, a portuguesa que lidera este processo internacionalmente, a empresa está a começar a vender a performance do seu equipamento e não o equipamento em si. O que reduz também a quantidade de resíduos criada.
Também a IKEA está na liderança da mudança de comportamentos por parte dos consumidores há vários anos e prepara-se para lançar uma nova colecção para ajudar a criar um estilo de vida mais sustentável em casa, a partir de “pequenos gestos onde e quando [o consumidor] puder [fazê-los]”.
Outras empresas estão comprometidas com a transição verde, sobretudo na sua área de actuação. Tantas que, felizmente, é impossível enumerá-las todas num único artigo.
Desde o lançamento do Green Savers, em Setembro de 2010, temos dado um ênfase especial na partilha de dicas e elaboração de listas que possam guiar os nossos leitores para um caminho para sustentável. Fique, deste vez, com 10 dicas que nos ajudam a trazer a sustentabilidade para a nossa vida.
10 DICAS PARA TRAZERMOS A SUSTENTABILIDADE PARA A NOSSA VIDA
1.É chocante mas verdade: 25% dos alimentos que compramos vão para o lixo. Nos últimos anos, Governo e empresas têm partilhado com os consumidores várias medidas para modificar esta situação, desde refeições alternativas com os restos ou dicas para os manter frescos durante mais dias, a partir de recipientes com melhor poder de conservação. Se o leitor já faz tudo isto, tente também organizar o seu frigorífico com estas cinco dicas simples, de modo a nunca se esquecer da comida que por lá anda.
2.Troque as lâmpadas antigas por LED. Este é já um lugar-comum da sustentabilidade, mas a verdade é que ainda não foi verdadeiramente posto em prática pelos portugueses. As lâmpadas LED consomem até menos 85% de energia que as lâmpadas incandescentes e duram 20 anos.
3.Respeite os animais. Um dos maiores compromissos desenvolvidos por Angola na organização do Dia Mundial do Ambiente tem como pano de fundo trabalhar para acabar com o tráfico ilegal de produtos provenientes de animais selvagens, incluindo no mercado de Benfica, um dos maiores ligados ao marfim de África. Mas não são apenas os animais selvagens que precisam do nosso apoio, como todos os dias nos vamos apercebendo.
4.Poupe água. É uma dica tão básica quanto necessária e que, infelizmente, não é levada em conta por muitos cidadãos. Conheça cinco dicas simples para poupar água em casa. E acrescentamos outra: mudar para uma torneira mais sustentável pode reduzir o consumo de água em 50%.
5.Cultive em casa. Há cinco anos, era uma das modas urbanas mais em voga – passamos a repetição. Hoje, esta moda massificou-se e existem já plantas de fácil cultivo caseiro à venda em várias lojas, desde rabanetes, tomates, alfaces ou ervilhas. E é sempre possível incorporar a compostagem neste processo.
6.Poupe energia. Não basta trocar de lâmpadas para poupar energia. Nos dias mais frios, a utilização de tecidos mais quentes na cama ou sofá pode evitar a utilização de aquecedores. Os tapetes evitam que o calor se perca através do chão e, no Verão, os cortinados ajudam o calor a manter-se fora de sua casa.
7.Recicle. Há um ano, a Sociedade Ponto Verde lançou uma campanha sobre os quatro mitos da reciclagem, que pode aqui recordar. Mas a verdade é que existem formas cada vez mais fáceis de reciclar, integrando o design e a funcionalidade numa das principais e mais básicas acções ligadas à sustentabilidade.
8.Coma menos carne. O consumo de carne é um dos principais responsáveis pelas alterações climáticas e o aumento da desflorestação, uso de fertilizantes e emissões de metano por parte do gado doméstico deverá fazer com que as emissões de gases com efeito de estufa inerentes à produção alimentar aumentem quase 80% nos próximos anos. A solução: retire a carne da sua alimentação de forma balanceada – uma a duas vezes por semana. Já ajudará – e muito – a melhorar o Planeta.
9.Troque o carro pela bicicleta. Existem seis cidades portuguesas – Ílhavo, Albufeira, Coimbra, Faro, Lisboa e Vila do Conde – que ultrapassaram o limite de 10 microgramas por metro cúbico estipulado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), no que toca às partículas finas PM 2,5. Para além da transição para a mobilidade eléctrica, é necessária uma maior utilização dos transportes públicos e modos suaves, como a bicicleta, para ajudar a despoluir as nossas cidades.
10.Recompense as empresas com soluções sustentáveis. Os produtos ligados à sustentabilidade, dos objectos do dia-a-dia aos produtos alimentares, são vistos como caros, ainda que, a médio e curto prazo, atinjam facilmente o chamado break-even – no caso dos produtos alimentares, isto pode ser associado a uma vida mais saudável e menor necessidade de recorrer a unidades e produtos de saúde. No entanto, são estas empresas que mais precisam, muitas vezes, da ajuda dos consumidores na tal transição para a economia verde – mais um jargão, é certo, mas obrigatório. Porque será o sucesso destas que obrigará as concorrentes a replicarem as soluções sustentáveis nos seus próprios produtos, num ciclo virtuoso que mudará para sempre a forma como olhamos para o nosso Planeta.