Consórcio vai desenvolver biopesticidas sustentáveis provenientes de extratos de canábis
O projeto “ValorCannBio – Valorização de subprodutos da canábis medicinal como biopesticida para o olival” é um dos vencedores da 6.ª edição do Programa “Promove” da Fundação ”la Caixa”, em colaboração com o BPI e Fundação para a Ciência e a Tecnologia, na categoria de projetos-piloto inovadores.
Segundo a mesma fonte, o projeto vai receber financiamento de 150 mil euros para explorar os subprodutos da produção de canábis medicinal como biopesticidas sustentáveis e eficazes para controlar as principais doenças do olival. ValorCannBio é liderado pelo InnovPlantProtect (InPP), em parceria com o Laboratório Associado para a Química Verde (LAQV) da NOVA FCT e as empresas GreenBePharma (GBP) – produção de canábis medicinal, e AGR Global – cultivo e produção de olival.
O projeto ValorCannBio pretende controlar duas das mais importantes doenças do olival, uma cultura de extrema importância económica e social em Portugal: a Gafa e a Tuberculose. A Gafa é considerada prioritária, por causar perdas de produção que podem atingir os 100 por cento a que correspondem mais de 50 milhões de euros, a redução da qualidade do azeite e estar a levar ao desaparecimento do património genético das variedades de olival tradicional como a galega, altamente suscetível à doença.
A tuberculose, é uma doença do olival que se espalha pela quase totalidade dos olivais e que reduz a qualidade do azeite.
Para contribuir para o controlo das duas doenças que afetam o olival, a equipa de investigadores envolvida no projeto desenvolverá um biopesticida a partir de folhas da planta de canábis, consideradas excedentes do processo de produção de canábis medicinal em Portugal, que legalmente têm de ser destruídas.
Este processo vai permitir atender às necessidades dos olivicultores, mas também abrir uma nova cadeia de valor associada à utilização de um subproduto da indústria da produção desta planta com fins medicinais.
“As soluções existentes no mercado para combater a Gafa e a Tuberculose não são eficazes e recaem em grupos dos pesticidas de síntese química, com impactos negativos no meio ambiente, e que estão a ser descontinuados, pelo que é premente encontrar alternativas. Por outro lado, as empresas de canábis podem vir a escoar os excedentes da biomassa para uma futura indústria produtora de biopesticidas, evitando os altos custos de destruição e apostando numa economia circular. Este projeto visa a integração dos conceitos de agricultura sustentável, aliados à química verde, para obtenção de produtos mais amigos do ambiente”, explica Ana Rita Duarte, investigadora do LAQV da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa | NOVA FCT.
Os sistemas eutéticos profundos (DES) são misturas de duas espécies sólidas que em determinada razão molar formam um novo composto com propriedades diferentes. No projeto ValorCannBio, a equipa de investigadores pretende utilizar estes solventes como alternativas verdes aos solventes orgânicos comuns que têm geralmente elevada toxicidade associada para a extração de compostos bioativos.
Já para Cristina Azevedo, diretora do departamento de Novos Biopesticidas do laboratório colaborativo InnovPlantProtect (InPP), sediado em Elvas, “ao desenvolver biopesticidas de base biológica de subprodutos provenientes da uma indústria em franca expansão a nível nacional, e nomeadamente no Alentejo, o ValorCannBio contribuirá para as metas estabelecidas pela Comissão Europeia na Estratégia do Prado ao Prato e da Biodiversidade, da redução de 50 por cento do uso de pesticidas de síntese química até 2050”.
A diretora de departamento do InPP assegura ainda que “todos os impactos do ValorCannBio serão inicialmente sentidos no concelho de Elvas onde o projeto se vai desenvolver. No entanto, é expectável que estes se alarguem a toda a região de produção do olival, de Trás-os-Montes ao Algarve, onde as quebras de produção devido à Gafa e à Tuberculose estão em crescendo”.
O projeto é atribuído a uma equipa já distinguida por vários projetos nacionais e internacionais.
O programa Promove pretende que as entidades utilizem os seus apoios, concedidos a fundo perdido, para passar da teoria à prática: perceber a viabilidade dos conceitos científicos em desenvolvimento, assim como explorar oportunidades de negócio ou preparar pedidos de patente. Neste caso em concreto, a equipa pretende avaliar junto do mercado qual o potencial comercial desta nova solução.