Nascimento “virgem” em aquário nos EUA pode ser raro caso de reprodução assexuada
“A vida encontra uma forma”. Esta é uma das frases mais famosas da saga “Parque Jurássico”, proferida pelo excêntrico Dr. Ian Malcolm. Mas são já vários os casos documentados que provam que essa ideia não é apenas ficção-científica.
Um deles aconteceu este mês, num aquário em Shreveport, nos Estados Unidos da América. Há cerca de oito meses, a equipa responsável pela reprodução encontrou um ovo no tanque dos tubarões Cephaloscyllium ventriosum, uma espécie nativa das águas costeiras do Pacífico oriental que vive entre os cinco e os 500 metros de profundida. É também conhecida pela sua pele com padrões que lembram o pêlo de um leopardo e por insuflar o seu corpo, ingerindo água, para se tornar maior e dissuadir investidas de predadores.
Poderia ser um evento sem grande importância, dado que o estado de conservação da espécie está classificado como “Pouco Preocupante” pela União Internacional para a Conservação da Natureza. Acontece que o tanque onde o ovo foi encontrado só continha duas fêmeas, e nenhum macho.
Momento do nascimento de cria de tubarão da espécie Cephaloscyllium ventriosum, no Aquário de Shreveport, nos Estados Unidos da América, com o auxílio e supervisão dos tratadores. Fonte: Aquário de Shreveport
Em comunicado, o Aquário de Shreveport avança que nenhuma das fêmeas tinha tido qualquer contacto com um macho em mais de três anos. Por isso, os especialistas da instituição sugerem que se poderá tratar de um caso fertilização tardia, uma vez que as fêmeas de algumas espécies de animais conseguem armazenar o esperma dos machos durante muito tempo sem haver fertilização dos ovos, até que as condições para isso acontecer sejam as melhores.
Outra possível explicação poderá ser que este é um exemplo de partenogénese, uma forma de reprodução assexuada, invulgar na Natureza, em que as fêmeas criam “clones” delas próprias, pelo que não precisam da intervenção de um macho. Se for esse o caso, é o que se poderá chamar de um “nascimento virgem”, sem contacto sexual. São conhecidas somente cerca de 80 espécies de animais vertebrados com capacidade para reprodução assexuada por partenogénese, sendo que mais de metade são peixes ou lagartos.
Para resolver o mistério, as equipas do aquário farão uma análise genética à cria, que nasceu no dia 3 de janeiro, mas isso só acontecerá daqui a alguns meses, quando estiver preparada para a colheita de sangue.
“Esta situação é incrível e mostra a resiliência desta espécie”, diz, em nota, Greg Barrick, responsável pelas exposições de animais vivo no Aquário de Shreveport.
A cria foi batizada com o nome Yoko, uma alusão à palavra usado pelo povo nativo-americano Chumash, da costa californiana, para tubarão: onyoko.
Diz a instituição zoológico que a cria está em boas condições de saúde e que o seu desenvolvimento tem sido acompanhado de parte pelas equipas. Contudo, avisam que os animais nascidos por partenogénese podem não ter as melhores hipóteses de sobrevivência.
“Mesmo que o tempo da Yoko connosco seja breve, deixará, ainda assim, um legado inesquecível, contribuindo com perspetivas valiosas para o estudo da reprodução dos tubarões e dos esforços de conservação”, aponta o aquário.