“A descarbonização das casas é o desafio de sustentabilidade atual”, Alexandre Silva, Daikin Portugal



Em entrevista à Green Savers, o profissional destaca a descarbonização das casas como o desafio de sustentabilidade atual e um contributo para tornar a economia do país mais sustentável.

Em Portugal, a maior parte das habitações não estão preparadas para o clima frio que se faz sentir. Isso leva os cidadãos a optar por diversas formas de aquecer a casa, nem sempre as mais amigas do ambiente.

Para Alexandre Silva, Heating Supervisor da Heating & Renewables SBU na Daikin Portugal, a descarbonização das casas é o desafio de sustentabilidade atual, mas também um contributo para tornar a economia do país mais sustentável. Em entrevista, o profissional explica como é possível entrar no caminho de descarbonização do aquecimento das habitações, e dá o testemunho da Daikin neste processo “tão urgente”.

 

De que maneira é possível descarbonizar o setor do aquecimento e arrefecimento?

A descarbonização do setor do aquecimento e arrefecimento é urgente e assume-se como o desafio de sustentabilidade atual. Para responder a esse desafio é necessária uma estratégia clara e acessível e onde as tecnologias renováveis desempenham um papel essencial no alcance de novas metas, especialmente no mercado de substituição. Na Daikin construímos um guia de quatro passos para transformar o aquecimento residencial.

O passo fundamental deste plano é fortalecer a legislação que regula a construção de novos edifícios em muitos países europeus, tendo estas regras um papel importante e preponderante no que diz respeito à racionalização de energia que estes edifícios consomem. Atualmente, estimamos que as bombas de calor já tenham uma quota de mercado até 50% em novas habitações (unifamiliares) na Europa. Por esse motivo, é necessário reforçar as regras atuais, para que as bombas de calor sejam a norma.

O segundo passo é aumentar a taxa de substituição. Para atingir os objetivos da Lei Europeia do Clima, a taxa de substituição deve duplicar de 1% para 2% até 2030. Ao aumentar a taxa de substituição, os sistemas antigos estão a ser substituídos por sistemas mais eficientes a nível energético, o que conduz a uma redução natural das emissões. Assim, o próximo desafio é motivar os cidadãos a optarem por soluções renováveis e ecológicas. Isto envolve a necessidade de explicar, a uma escala alargada, que os sistemas de aquecimento renovável, como as bombas de calor, são uma solução eficiente e económica.

O terceiro passo consiste em acabar com os incentivos aos combustíveis fósseis. Os decisores políticos devem evitar os incentivos aos combustíveis fósseis. Atualmente, os incentivos diretos ou indiretos beneficiam as caldeiras a gasóleo ou a gás, em vez das bombas de calor. O seu fabrico é mais barato e acessível, e é também por isso que as tecnologias renováveis necessitam de condições de igualdade. Além disso, a diferença entre os preços atuais de eletricidade e gás em muitos estados-membros é demasiado elevada para que as bombas de calor sejam acessíveis para todos os cidadãos da UE.

O último passo é tornar o aquecimento renovável a norma na substituição. A Daikin acredita que as bombas de calor são a melhor solução. De facto, são cada vez mais capazes de obter altas eficiências, mesmo a temperaturas exteriores mais baixas. Por esse motivo, adequam-se a qualquer tipo de casa ou apartamento. A utilização de fontes de energia renováveis para aquecer a casa reduz o consumo de combustíveis fósseis poluentes e consequentemente as emissões de CO2.

Permita-me que recorde que para cada kWh de calor necessário, o atual impacto carbónico de uma bomba de calor é de cerca de metade de uma caldeira a gás de alta eficiência, com um potencial de pegada carbónica ainda mais baixo devido à descarbonização da produção de eletricidade da União Europeia.

Por isso, é urgente trazer para a agenda a necessidade de conversas francas com os instaladores que trabalharam maioritariamente o mercado da combustão e que continuam a promover as caldeiras que utilizam combustíveis não sustentáveis. É imperativo apoiar e formar estes instaladores nesta transição, até porque é, claramente, uma tendência de mercado fruto das normativas vigentes.

A regulamentação pode oferecer um empurrão na direção certa. Os Países Baixos são um excelente exemplo disso: já estão a oferecer formação sobre energias renováveis aos instaladores e projetistas. Noutros mercados, trata-se mais de uma questão de remover incentivos para os combustíveis fósseis, que criam uma barreira de entrada para alternativas mais sustentáveis. Na Bélgica, por exemplo, o preço do gás é relativamente baixo, em comparação com o preço da eletricidade.

É possível ter um aquecimento renovável em casa? Como?

Diria que é urgente. Por um lado, porque ao apostar na solução de bomba de calor para as nossas casas estamos a “desempenhar um papel central” para que a Europa alcance a neutralidade carbónica até 2050. Por outro lado, porque o parque imobiliário europeu é responsável por aproximadamente 36% de todas as emissões de CO2 na União Europeia. A descarbonização das casas é, por isso, o desafio de sustentabilidade atual. É a adição mais recente à mudança de paradigma global no sentido de tornar a economia mais sustentável. Além disso, as bombas de calor assumem-se como um aliado rumo à descarbonização na medida em que utilizam energias renováveis (como por exemplo a energia térmica do ar, da água ou do solo), afirmando-se como uma tecnologia de aquecimento com baixo nível de carbono.

A Suécia há mais 40 anos que iniciou uma política ambiciosa para substituir as caldeiras a combustível fóssil por bombas de calor. Na Europa, os Países Baixos vão dizer adeus ao gás, na França o governo estimula alternativas às caldeiras a gasóleo, a Finlândia tenciona ser neutra em carbono até 2035. O sul da Austrália proibiu o aquecimento a gasóleo em edifícios novos. Na Daikin, estamos convencidos de que as bombas de calor estão mais do que prontas para aceitar o desafio da descarbonização residencial.

É verdade que a substituição das caldeiras tradicionais que utilizam combustíveis fósseis pelas bombas de calor implica custos, mas na Daikin apelidamos esses custos de “desafios psicológicos”, uma vez que ao substituir-se uma caldeira por uma bomba de calor estamos a poupar na fatura energética de aquecimento e naturalmente no ambiente. Além de que, substituir uma caldeira não obriga à alteração da instalação e dos radiadores existentes. Sugerimos, por isso, que consulte um instalador credenciado e qualificado quando pensar abraçar o desafio da descarbonização do aquecimento da sua habitação.

 

Que papel têm as bombas de calor na redução das emissões nas habitações?

As bombas de calor assumem-se como um aliado rumo à descarbonização na medida em que utilizam energias renováveis (como por exemplo a energia térmica do ar, da água ou do solo), e afirmam-se cada vez mais como uma tecnologia de aquecimento com baixo nível de carbono. Para cada kWh de calor necessário, o atual impacto carbónico de uma bomba de calor é de cerca de

metade de uma caldeira a gás de alta eficiência, com um potencial de pegada carbónica ainda mais baixo devido à descarbonização da produção de eletricidade da União Europeia.

Além disso, contribuem para a redução da nossa fatura energética, ao mesmo tempo que aumenta o conforto térmico na nossa habitação e possibilitam a produção de águas quentes sanitárias, sem esquecer que desempenham um “papel central” para que a Europa alcance a neutralidade carbónica até 2050.

Ou seja, as bombas de calor têm como missão o aquecimento central, ao produzir de forma eficiente água quente até 80ºC, sem necessidade de alterar a instalação e os radiadores existentes. Adicionalmente, as bombas de calor, por não serem equipamentos de queima, oferecem a segurança de não necessitar de combustão nem de chaminés de exaustão para encaminhamento dos gases provenientes da combustão, e sem os incómodos e onerosos reabastecimentos de gás ou gasóleo.

 

É possível substituir as caldeiras convencionais, que funcionam a combustíveis fósseis, sem modificar os radiadores?

Sim, é possível! A instalação de uma bomba de calor não obriga à alteração da instalação e dos radiadores existentes, além de que, com a bomba de calor é possível assegurar adicionalmente a produção de águas quentes sanitárias. E, caso o sistema de aquecimento central de uma habitação não seja composto por radiadores (nova construção ou mesmo renovação), é possível optar por soluções de Baixa Temperatura aplicável aos mais diversos tipos de emissores térmicos como o piso radiante e/ou ventiloconvetores. A Daikin no que toca à gama de aquecimento, tem à disposição dos seus clientes um portfólio de produtos bastantes extenso, assegurando desta forma a solução completa para qualquer projeto.

Permita-me que acrescente que o cidadão poderá beneficiar de comparticipação do Estado até 85% do investimento na compra de uma bomba de calor ou painéis solares no âmbito do PAE+S II (“Programa de Apoio a Edifícios mais Sustentáveis”), cuja 2ª fase para receção de candidaturas foi alargada até 31 de março de 2022 e com um incremento na dotação de mais 15 M€ como reforço aos 30 M€ inicialmente disponibilizados pelo governo. Para mais informações sobre o apoio supracitado, sugiro que consulte a página do Fundo Ambiental e respetivo regulamento no portal criado para o efeito em https://www.fundoambiental.pt/apoios-prr/paes-2021.aspx.

 

Considera que a indústria está preparada para o desafio de “zero emissões” que ganha cada vez mais espaço no mercado residencial?

Na indústria automóvel, na agricultura e até no transporte aéreo, já foram efetuados esforços para reduzir ou eliminar emissões de carbono de fontes energéticas.

A preocupação com o aumento da descarbonização é uma realidade global e principalmente neste setor envolve grandes mudanças, que se iniciam na filosofia de utilização, passam pela procura de soluções cada vez mais eficientes e sustentáveis e, devido ao aumento desse consumo “eficiente”, promove a necessidade de implementar a produção de combustíveis cada vez mais sustentáveis.

É o caso dos diversos agregados familiares ou dos diversos edifícios de serviços como escolas que, nunca tiveram grandes sistemas de climatização, passaram a implementar novas soluções eficientes, mas com consumos que outrora não existiam, ou o caso das mais diversas indústrias que implementam os seus processos de produção, mas com consumos muito consideráveis.

O grande desafio de compensar estas necessidades e de manter o compromisso ambiental, que Portugal e a UE se propôs, levou à procura de novas soluções, e à sua implementação para produção de energia cada vez mais sustentável e com os custos mais reduzidos.

Sem descurar a importante produção de energia hídrica ou eólica, temos diariamente vários exemplos de produção de energia “limpa” a crescer no nosso país com as diversas apostas na produção de energia fotovoltaica, desde a pequena instalação para autoconsumo às grandes centrais solares que permitem a produção de energia elétrica limpa. Realço também o investimento no caso do hidrogénio que, utilizando a energia das centrais fotovoltaicas, permite a eletrólise e a produção de hidrogénio verde, proporcionando um “combustível fóssil” mais sustentável com a injeção de até 20% de hidrogénio verde na rede de gás natural, o que permite o fornecimento tanto à área residencial como às indústrias consumidoras, e com custos de produção cada vez mais reduzidos. Exemplo disso é o “Green Pipeline Project” — um projeto piloto que visa a injeção de 2% de hidrogénio na rede de gás natural já a partir de janeiro de 2022, subindo gradualmente esta percentagem até um máximo de 20% num período de dois anos. Nesta fase o projeto prevê abranger 80 clientes residenciais, terciários e industriais, dando, assim, um importante passo no processo de transição energética em Portugal.

Com o desafio de zero emissões a tomar grande proporção no mercado residencial, há que questionar se estará a indústria também ela preparada. Pelo que nos toca, a resposta é “sim, estamos”! O compromisso da Daikin em desenvolver sistemas de aquecimento mais eficientes e sustentáveis com recurso a energias renováveis, como as bombas de calor Daikin Altherma, representa uma transformação significativa para o aquecimento com baixo teor de carbono, com benefícios para as alterações climáticas, mas também para ambientes de vida mais saudáveis e sustentáveis. A tecnologia Bomba de Calor não é uma tecnologia do futuro… é sim uma solução estabelecida que está pronta para uma utilização generalizada no presente. Podemos mesmo dizer que estamos orgulhosos de liderar esta transformação na Europa e de estar a trabalhar para que juntos possamos ter neutralidade climática antes de 2050.

Bomba de calor Daikin




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